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Consultoria britânica alerta sobre risco de moratória do Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

A consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) afirmou nesta segunda-feira que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, vai ser pressionado a obter crescimento econômico e criar empregos, mas também terá de enfrentar limitações na adoção de políticas para satisfazer o Fundo Monetário Internacional (FMI) e acalmar os mercados. "A menos que Lula consiga convencer os mercados de seu comprometimento com políticas econômicas prudentes e o Brasil recuperar acesso aos financiamentos externos até meados de 2003, uma moratória provavelmente será inevitável", disse o diretor do Departamento de Risco da EIU, David Anthony, num relatório divulgado nesta segunda. A consultoria rebaixou neste mês sua classificação de risco para o Brasil de "C" para "D", citando "as condições financeiras mais negativas para a dívida soberana brasileira e para o setor privado em 2003". Anthony afirmou que, embora o "envio dos sinais certos para os mercados seja um fator crucial no curto prazo, Lula enfrentará outros desafios difíceis". O novo presidente terá de "controlar os elementos díspares do PT (sindicatos, funcionários públicos e a classe média). Segundo o analista, "os elementos radicais do PT e outros simpatizantes do partido terão a expectativa de políticas que criem empregos e estimulem crescimento que serão incompatíveis inicialmente com as demandas de solvência fiscal e estabilidade macroeconômica". Embora a EIU acredite que o governo Lula vá atingir a meta de superávit primário em 2003, "isso talvez não seja suficiente para colocar" a dinâmica da dívida pública num nível sustentável. Um crescimento da meta de superávit primário para 5% do PIB, que foi aventada por alguns integrantes do PT, observou Anthony, "teria um poderoso efeito na dívida pública, não apenas liberando mais recursos para aliviá-la, mas também diminuindo o prêmio de risco do País". Mas os desafios de obter um superávit primário maior, elevando impostos e aprofundando a reforma na Previdência Social, "são temas políticos delicados e não podem ser subestimados, principalmente se a economia permanecer fraca", afirmou o analista. Anthony observou que, caso não sejam obtidos superávits primários maiores ou uma valorização sustentada do real, a melhor maneira de aliviar a carga da dívida pública doméstica será através da redução das taxas de juro. "O custo seria uma inflação mais alta, mas isso seria preferível à uma reestruturação forçada da dívida doméstica, que provocaria sério estresse no sistema financeiro doméstico", afirmou o analista. "Diante da fraqueza sustentável do real ao longo de 2002, um aumento moderado da inflação em 2003 seria razoável." Segundo ele, "a reação do FMI seria questionável, mas uma posição dura seria contraproducente diante da natureza mais grave das alternativas". Anthony salientou que, até que os fluxos de capitais internacionais privados retornem, "o Brasil precisará de um real fraco, com efeito positivo na balança comercial e na conta corrente, compensando as restricões de financiamento externo". Por isso, o analista acredita que qualquer alta forte da moeda brasileira em 2002 "terá vida curta e será parcialmente revertida no próximo ano". Em relação à dívida externa, a Economist Intelligence Unit observou que o próximo governo vai herdar a maior carga da dívida externa de todos os países emergentes - cerca de US$ 219 bilhões no final de julho passado. "Se o Brasil não recuperar o acesso voluntário aos mercados de capitais internacionais com taxas razoáveis em algum momento em 2003, a posição financeira do País vai se deteriorar rapidamente para um nível crítico", afirmou. Segundo o analista, houve uma deterioração da liquidez externa nos últimos meses. As reservas líquidas utilizáveis (reservas brutas menos empréstimos do FMI, títulos soberanos em moeda estrangeira mantidos pelo Banco Central e piso de reservas internacionais acertado com o FMI) somavam US$ 10 bilhões em meados deste mês. "Mesmo que Lula adote propostas pró-mercado antes da posse e durante os primeiros meses de seu mandato, o acesso renovado ao crédito externo de longo prazo com taxas sustentáveis provavelmente ainda irá demorar um pouco", disse Anthony. Segundo ele, os bancos estrangeiros se comprometeram a manter as linhas de crédito de longo prazo nos atuais níveis, mas eles estão sob pressão de seus acionistas para reduzir a exposição aos ativos de risco. "Com os spreads do bônus em cerca de 2.000 pontos base, os mercados financeiros poderiam forçar uma moratória em 2003, se não se mostrarem dispostos a prover financiamentos com taxas sustentáveis até meados do ano", alertou o analista.

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