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Consumidor não tem como detectar leite fraudado [com correção]

Para professora da USP Evelise Teles, produto impróprio só pode ser reconhecido pelo número do lote

Por Marcel Gugoni
Atualização:

Correção: Diferentemente do que foi publicado na versão original desta matéria, soda cáustica é uma substância básica, não ácida. Bases neutralizam ácidos e são neutralizadas por eles. Assim como os ácidos, bases podem atacar tecidos vivos, causando lesões. SÃO PAULO - Leite com soda cáustica e água oxigenada é uma mistura que o consumidor não tem como reconhecer em casa, afirma a especialista Evelise Oliveira Telles, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). Na última terça-feira, a Polícia Federal (PF) prendeu 27 pessoas e desarticulou um esquema de crimes contra a saúde pública por meio da adição de substâncias químicas como soda cáustica (hidróxido de sódio) e água oxigenada (peróxido de hidrogênio) ao leite longa-vida, o que o tornava impróprio para consumo. Veja também: PF desmonta quadrilha que adulterava leite "Esse tipo de substância não dá para o consumidor perceber com as ferramentas que ele tem em casa. Nas plataformas de recepção, as empresas é que fazem as pesquisas do leite", afirma Evelise. Para ela, a inspeção federal tem o dever de reconhecer essas irregularidades, coibi-las e até inviabilizar o consumo desses produtos frente a irregularidades. A única maneira de descobrir se o leite pode estar contaminado ou não é com número do lote dos produtos. Conforme as investigações do Ministério Público Federal (MPF), as acusadas de "batizar" o leite são a Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Coopervale), em Uberaba, e a Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil), em Passos, que juntas produzem 400 mil litros de leite por dia. Entre os clientes das duas empresas estão multinacionais como a Parmalat e a Nestlé. Segundo a especialista, há perigo na ingestão dessas substâncias, mas isso depende da quantidade na mistura e do organismo de cada pessoa. "A soda (uma solução básica), por ser bastante forte, acaba afetando a mucosa do esôfago e do estômago, pode causar úlceras, ânsias e náuseas em função dessa agressão", por isso as pessoas devem ficar atentas. "O leite deve ser vendido da maneira como ele foi retirado da vaca e as únicas características que podem ser modificadas são a gordura e a lactose. Qualquer outra modificação é considerada fraude e pode ser considerada crime", afirmou Evelise. Contactada pelo estadao.com.br, a Parmalat não quis se pronunciar. Por meio de sua assessoria, a empresa informou que ainda aguarda relatórios dos testes divulgados em seus produtos para confirmar se há ou não a contaminação do leite. Em nota, a Nestlé informa que não produz nem comercializa leite longa vida e que, baseada em testes, atesta que não há risco no consumo dos seus produtos. Nesta terça, porém, as duas empresas começaram a retirar alguns de seus produtos dos mercados e recomendam que os consumidores observem o leite que compram.

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