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Consumo ainda breca retomada dos EUA

Queda de vendas foi menor em abril, mas analistas veem sinais de virada

Por Nalu Fernandes
Atualização:

O mercado de trabalho debilitado nos Estados Unidos, o crédito ainda apertado e o nível de endividamento dos americanos devem pesar ainda mais sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país nos próximos meses, de acordo com analistas em Nova York. Os gastos dos consumidores parecem não estar mais em queda livre, segundo percepção derivada da leitura dos especialistas feita pelos dados de vendas no varejo divulgados ontem, mas o consenso é de que as famílias continuam enfrentando fortes obstáculos nos Estados Unidos. Em abril, os dados de vendas no varejo recuaram 0,4%, mas a queda foi mais branda do que o declínio de 1,3% em março. É essa suavização no declínio que reforça a avaliação em Wall Street de que a queda livre dos gastos pode ter chegado ao fim. Mas os analistas reconhecem que a população permanece com o patrimônio espremido por dificuldades que envolvem, por exemplo, demissões, dificuldades em obter empréstimos e o chamado efeito riqueza negativo, que reflete perdas como as dos investimentos feitos nos mercados financeiros no último ano e o declínio do valor dos imóveis. Os economistas do CIBC World Markets observam que, ironicamente, os gastos com consumo também ficam pressionados no país pelo esforço para aumentar a poupança para aqueles que mantêm os empregos. A instituição adverte que, embora os gastos com consumo tenham entrado no território positivo no primeiro trimestre do ano, provavelmente vão ficar negativos novamente neste trimestre e, com isso, devem exercer pressão sobre o PIB, uma vez que os gastos com consumo respondem por mais de 70% da riqueza dos EUA. "A economia é conduzida pelo gasto com consumo, e os últimos meses não têm sido encorajadores nessa frente", reconhece o vice-presidente para mercados globais do Bank of New York Mellon, Michael Woolfolk. O analista espera que a divulgação do PIB do segundo trimestre seja melhor (leia-se declínio mais brando) do que o do último trimestre de 2008, que encolheu 6,3%, e do que o apresentado no primeiro trimestre deste ano (-6,1%), mas o PIB do trimestre corrente "vai permanecer solidamente no território negativo". A perspectiva do analista fica dentro do consenso em Nova York, que estima retorno do PIB para o terreno positivo no terceiro trimestre do ano. A avaliação predominante é de que o consumo receberia impulso no terceiro trimestre, alimentado por restituição de imposto e alívio tributário aprovado com o pacote de estímulo da administração Barack Obama. No entanto, a incerteza relacionada aos consumidores nos próximos meses pode turvar essas perspectivas de melhora.Além da possibilidade de as famílias optarem por poupar o que receberem em estímulo, como ocorreu com grande parte dos recursos injetados no pacote de estímulo da administração anterior, a de George Bush, não se pode descartar o temor relacionado à capacidade de solvência dos consumidores. O economista-chefe do Deutsche Bank, Joseph LaVorgna, considera que a parcela do consumo no PIB do país "não é sustentável". "Terá profundos efeitos negativos sobre a economia, pois, assim como caminha o consumo, caminha a produção", compara. A percepção tem base na avaliação de LaVorgna de que a solvência das famílias está encolhendo. Ele cita que há aparente necessidade de desalavancagem dos consumidores ao olhar o comportamento da relação dos ativos líquidos das famílias pelo nível de endividamento. Por ativos líquidos, o economista refere-se à soma total dos depósitos em bancos, instrumentos acessados nos mercados de créditos, investimento em fundos mútuos e compras diretas de ações. LaVorgna observa que os ativos líquidos permaneceram em 2,2 vezes o endividamento das famílias no período que vai de 1980 a 1996. Em 2000, com o pico do mercado acionário, os ativos líquidos ficaram em quase 3 vezes o endividamento. Esta relação está apresentando queda contínua, batendo atualmente em 1,4 vez, e pode cair ainda mais ante o declínio da renda da população, diz o economista. NÚMERO 0,4 % foi quanto caíram as vendas no varejo dos EUA em abril 1,3 % foi a queda das vendas em março

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