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Consumo de energia cai 3,3% por causa da crise

Por Renée Pereira
Atualização:

O setor elétrico brasileiro começa a sentir os primeiros efeitos da crise mundial. Em novembro, o País deixou de consumir um volume de energia equivalente ao abastecimento de uma região de 2,2 milhões de habitantes, como o ABC paulista. Isso representa queda de 3,3% em relação à carga de energia verificada em outubro, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No período de 12 meses, no entanto, o consumo acumula uma alta de 3,1%. Na avaliação do diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, o recuo no consumo pode ser explicado, em parte, pela decisão de algumas empresas de reduzir a produção, como é o caso da indústria automobilística, que deu férias coletivas aos funcionários, e companhias eletrointensivas, como as dos setores de alumínio e mineração. Ele pondera, no entanto, que existe o fator sazonal. A produção mais pesada, com foco no Natal, ocorre até outubro. Por isso, há uma redução no consumo de eletricidade. Além disso, o horário de verão pegou apenas uma parte do mês de outubro e o mês inteiro de novembro. De qualquer forma, o recuo foi maior que o apurado em igual período do ano passado, quando a queda foi de 1,33%. Outro termômetro da redução do consumo de energia é a queda nos preços do megawatt/hora negociado no mercado livre (onde as empresas são livres para escolher o fornecedor de eletricidade). Segundo o presidente da comercializadora Comerc, Marcelo Parodi, até alguns meses atrás, as empresas firmavam contratos de R$ 200 o MWh. Hoje, o valor caiu para R$ 130. Até meados do ano, muitos geradores estavam segurando sua energia para vender mais à frente, quando o preço estaria maior por causa da expectativa de escassez de eletricidade entre 2010 e 2012. Agora, com a previsão de demanda menor, os produtores estão desovando a energia no mercado. Entre seus clientes, Parodi afirma que as maiores quedas no consumo de energia têm sido verificadas nos setores de papel e celulose, cujo recuo foi de 7,87% em outubro comparado com setembro, e eletroeletrônico, de 7,33%, além de veículos e autopeças, de 3,23%. De outro lado, áreas como o comércio varejista e embalagem tiveram altas de 9,37% e 12,44%. Na opinião de Hermes Chipp, do ONS, ainda é cedo para rever as projeções para 2009. Primeiro, diz ele, é preciso avaliar se as políticas do governo, aqui e no exterior, vão surtir algum efeito sobre a economia. Ele afirma, porém, que em setembro o ONS e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já tinham revisto o consumo em 2009. A nova projeção, que considera uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 4%, indica que o consumo aumentará 4,8%. A previsão anterior era de 5,2%. Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Nivalde Castro, a crise foi "ótima" para o setor elétrico do ponto de vista de geração. "Agora podemos fazer um planejamento melhor,gerar menos energia de usinas a óleo diesel e contratar menos energia em leilões." De outro lado, a conta de luz ficará mais cara para o consumidor. Isso porque 20% da energia que abastece o País vem de Itaipu, vendida em dólar.

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