RIO - Passado o pico de contaminações pela variante Ômicron do novo coronavírus, em janeiro, os brasileiros voltaram a gastar, nos meses seguintes, com serviços como recreação, bares, restaurantes, hotéis e passagens aéreas. A satisfação dessa demanda reprimida após tanto tempo de pandemia aqueceu o consumo das famílias, impulsionando a atividade econômica no início do ano. O Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento de 1,5% no primeiro trimestre, segundo estimativa no Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) – os números oficiais serão divulgados na próxima quinta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Após dois meses seguidos de altas – 2,0% em março e 2,4% em fevereiro, na comparação com o mês imediatamente anterior –, o consumo de serviços pelas famílias brasileiras encerrou o primeiro trimestre de 2022 em patamar 4,15% superior ao de fevereiro de 2020, no pré-crise sanitária. Os dados são também do Monitor do PIB da FGV, obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
“As pessoas estavam trancadas dentro de casa. Não saíam, não iam para hotel, para bar, restaurante, nada. Com a melhora da pandemia, elas voltaram a sair. A demanda por viagens subiu muito”, lembrou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV). “O consumo de serviços tem a ver com a redução dos casos de covid-19”, afirmou.
No primeiro trimestre de 2022, conforme o Monitor do PIB da FGV, o consumo das famílias cresceu 1,5% em relação ao quarto trimestre de 2021, ajudando a sustentar, sob a ótica da demanda, a expansão da economia. A FGV calcula que o consumo das famílias tenha encerrado o mês de março em patamar 1,34% superior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia.
O resultado teve o impulso fundamental do consumo de serviços, que neste caso inclui shows, cinemas, hotéis, restaurantes, transporte, saúde e educação, entre outros. Houve também contribuição positiva do consumo de bens não duráveis, que engloba os alimentos, e chegaram a março em nível 2,13% acima do pré-covid. No entanto, permanecem significativamente abaixo do patamar pré-pandemia o consumo de bens semiduráveis (6,48% aquém no nível de fevereiro de 2020) e de bens duráveis (6,94% aquém).
Esse crescimento se deu na esteira da redução das restrições ao contato social, que vinham sendo impostas desde 2020, para conter a covid-19. A circulação de pessoas pelas cidades brasileiras está praticamente normalizada, apenas 3% ou 4% abaixo do nível pré-covid, segundo Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Bares, restaurantes e hotéis
A retomada da demanda está sendo sentida na ponta, em bares, restaurantes e hotéis, e teve continuidade em abril e maio. Empresários desses ramos relatam maior dinamismo nos negócios, rodando em níveis acima dos de antes da pandemia. O faturamento dos bares e restaurantes se recuperou: 73% dos empresários relataram aumento em abril, na comparação com igual mês de 2021, mostra uma pesquisa da Abrasel, entidade que representa o setor.
“A partir de setembro do ano passado, a atividade já tinha se restabelecido no pré-pandemia. Do fim do ano para cá, o patamar de faturamento está até acima de que antes, em 2019”, disse Humberto Munhoz, sócio do grupo Turn The Table, dono de casas em São Paulo, como o bar O Pasquim e a Vero! Coquetelaria.
Com uma gestão disciplinada – aluguéis e contratos com fornecedores foram renegociados, medidas do governo ajudaram e o caixa foi queimado –, o Turn the Table conseguiu enfrentar 2020 sem demissões, mas 2021 começou pior. A empresa demitiu cerca de 40 funcionários em fevereiro do ano passado.
Agora, não só reabriu todas essas vagas como contratou além. Com a inauguração de uma segunda unidade do bar O Pasquim na Casa Verde, zona norte da capital, no início deste ano, o total de empregados do grupo saltou para cerca de 200 – antes da pandemia, eram em torno de 150. Segundo Munhoz, a demanda está aquecida, com os clientes gastando um pouco mais, na média, e movimento maior em dias da semana que antes eram mais fracos. Os horários de “happy hour” estão movimentados, diz o empresário.