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Conta corrente tem o maior déficit semestral desde 1947

Em junho, o saldo negativo das transações correntes foi de US$ 2,596 bi, o pior resultado para o mês desde 1999

Por Fabio Graner , Fernando Nakagawa e da Agência Estado
Atualização:

No acumulado do semestre, a conta corrente do balanço de pagamentos registrou um déficit de US$ 17,402 bilhões, o pior resultado para o período da série histórica iniciada em 1947. No mês de junho, o déficit foi de US$ 2,596 bilhões, o pior número para o mês desde 1999, quando o déficit foi de US$ 2,926 bilhões. No mesmo mês do ano passado, o País havia registrado um superávit de US$ 539 milhões. O Banco Central (BC) divulgou os números nessa segunda-feira, 28. Veja também: Com dólar baixo, gasto de turistas fora do País bate recorde Conta corrente tem o maior déficit semestral desde 1947 Remessa de empresas dobra e muda perfil de contas externas Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o resultado semestral das contas externas foi diretamente influenciado pelo volume de remessas de lucros e dividendos, que somaram US$ 3,396 bilhões em junho e US$ 18,993 bilhões no semestre. Outros fatores que influenciaram o resultado foram o câmbio e o aumento do déficit da conta de viagens internacionais. Altamir afirmou que, apesar do déficit semestral, as contas externas continuam "perfeitamente financiáveis" pelo ingresso de investimento estrangeiro direto. Segundo ele, o BC projeta para julho um déficit de US$ 2,8 bilhões para a conta corrente. O resultado de junho superou a expectativa das 15 instituições financeiras consultadas pela Agência Estado, que aguardam um número negativo de US$ 2,1 bilhões a US$ 450 milhões para o período. A mediana calculada para o déficit era de US$ 1,02 bilhão.   No mês passado, a balança comercial contribuiu com superávit de US$ 2,718 bilhões, a conta de serviços e rendas com déficit de US$ 5,635 bilhões e as transferências unilaterais com saldo positivo de US$ 320 milhões. O balanço de pagamentos é feito somando tudo o que o País tem a receber e subtraindo tudo o que deve ser pago. O que deve ser somado é o resultado das vendas (exportações) e os recebimentos de parcelas de empréstimos que fizemos para outras nações. Do outro lado da balança fica tudo o que deve ser pago: juros de empréstimos, parcelas de dívidas, pagamento de produtos comprados no exterior (importações), remessa de lucros de empresas estrangeiras para suas matrizes etc. O balanço de pagamentos será superavitário quando o país receber mais do que pagar, e deficitário quando ocorrer o oposto. Na conta da balança de transações correntes - que integra o balanço de pagamentos - entram a balança comercial (exportações - importações), a balança de serviços (Fretes pagos e recebidos de navios estrangeiros, juros de empréstimos estrangeiros, lucros remetidos e recebidos do exterior, etc.) e as transferências unilaterais (donativos). Semestre No primeiro semestre, a conta corrente foi deficitária em US$ 17,402 bilhões, o equivalente a 2,51% do Produto Interno Bruto. De janeiro a junho do ano passado, a conta corrente apresentava superávit de US$ 2,413 bilhões, o equivalente, à época, a 0,38% do PIB. No primeiro semestre, a balança comercial contribuiu com superávit de US$ 11,349 bilhões, conta de serviços e rendas com déficit de US$ 30,603 bilhões e as transferências unilaterais, com saldo positivo de US$ 1,852 bilhão. Comparação com o PIB Apesar dos números negativos, Altamir Lopes pondera que o valor nominal do déficit não é o indicador mais adequado para se observar a evolução das contas externas. Segundo ele, o dado mais relevante é o resultado da comparação com o PIB. Nesta forma de contabilização, o déficit em conta corrente somou 1,32% do PIB nos 12 meses encerrados em junho. "O valor ainda é relativamente baixo, se compararmos com economias com características semelhantes", disse ele. Altamir citou que o resultado negativo da Índia, por exemplo, equivale a 1,2% do PIB. Na Colômbia, o déficit equivale a 4,9% do PIB e na Croácia, a 8,5%. Os números se referem ao resultado de 2007. Investimentos Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) acumularam em 12 meses encerrados em junho um saldo de US$ 30,435 bilhões, o equivalente a 2,22% do PIB. Nos 12 meses encerrados em maio, o IED somou US$ 38,035 bilhões, o que correspondia a 2,79% do PIB. Já o Investimento Brasileiro Direto no Exterior (IBD) somou US$ 1,042 bilhão em junho. A cifra é bastante superior ao registrado em junho do ano passado, quando o IBD somava US$ 81 milhões. No acumulado do semestre, o investimento de companhias brasileiras em outros países totaliza US$ 8,579 bilhões, resultado que reverte o registrado no primeiro semestre de 2007, quando houve retorno do IBD equivalente a US$ 3,426 bilhões. Dívida externa A dívida externa total do Brasil atingiu US$ 205,254 bilhões em junho. O número é maior do que o registrado em março, quando a dívida era de US$ 201,637 bilhões (última posição fechada).

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