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Rombo com exterior tem alta e puxa valor do dólar

Déficit em transações correntes em outubro é o maior desde 2014; moeda vai a R$ 4,21

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Por Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - Com o declínio das exportações, o rombo nas contas externas chegou a US$ 7,87 bilhões em outubro, de acordo com dados divulgados na segunda-feira, 25, pelo Banco Central. Esse foi o pior resultado para outubro desde 2014, quando o rombo nas contas externas foi de US$ 9,3 bilhões. 

Déficit nas transações correntes do País, divulgadopelo Banco Central, veio pior que o esperado. Foto: Andre Dusek/Estadão

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O resultado das transações correntes, um dos principais indicadores sobre o setor externo do País, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).

No acumulado dos dez primeiros meses, o déficit chegou a US$ 45,66 bilhões, 41% superior do que no mesmo período de 2018 e maior do que o rombo registrado em todo o ano passado (US$ 41,54 bilhões).

Para o economista e sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, a deterioração das contas externas indica que o dólar deve continuar num patamar alto no longo prazo. Ontem, por exemplo, o dólar à vista fechou em alta de 0,52%, a R$ 4,2145, maior cotação do Plano Real. O pico anterior foi alcançado no dia 18 (R$ 4,2055). 

A Tendência vê risco de revisar para cima as projeções atuais de dólar no fim deste ano (R$ 4) e de 2020 (R$ 3,90). O Santander vê o dólar fechando este ano e em 2020 em R$ 4.

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, admitiu que o déficit de outubro veio mais elevado do que estimava a instituição. Ele colocou a culpa do rombo maior no mês passado na piora do resultado na balança comercial, que registrou superávit de apenas US$ 490 milhões em outubro, ante US$ 5,348 bilhões no mesmo mês de 2018.

“A balança comercial tem tido superávits decrescentes em função do comportamento das exportações. O pior resultado do comércio exterior respondeu por 82% do aumento do rombo nas contas externas em outubro”, completou. Campos Neto, da Tendências, considera que há risco “não desprezível” de as importações superarem as exportações neste mês, comportamento que não ocorre desde fevereiro de 2015 e, para meses de novembro, desde 2014.

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Rocha, do BC, destacou que o aumento no déficit de transações correntes de janeiro a outubro corresponde ao mesmo volume de redução das exportações nos dez primeiros meses do ano. Para o economista do Santander Jankiel Santos, pode ser cada vez mais frequente a balança fechar no negativo no contexto de redução das exportações e de aumento das importações, graças à recuperação da economia: “A tendência é de continuidade do movimento de deterioração das transações correntes”. 

Investimento

Já os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 6,81 bilhões em outubro e não foram suficientes para financiar o rombo no mês. No acumulado do ano, entretanto, a entrada de investimentos externos nessa conta já soma US$ 62,12 bilhões, superando com folga o déficit nas contas externas.

Os economistas da Tendências e do Santander avaliam que o fluxo de IDP, que inclui também dinheiro trazido de volta por filiais de empresas brasileiras no exterior, deve continuar a financiar o déficit em conta corrente, embora Campos Neto acredite que as margens devem ser menores.

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Ele ainda pondera que a recuperação econômica interna pode atrair mais fluxos de IDP para o Brasil, o que ajudaria o financiamento da conta corrente mais negativa. Já o economista Alexandre Lohmann, da GO Associados, alerta que o ritmo de deterioração no saldo comercial pode fazer com que o Brasil tenha, já em 2020, um patamar de IDP insuficiente para financiar o déficit das transações correntes.

Gastos no exterior

Os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 1,506 bilhão em outubro deste ano, segundo o BC. O número representa uma queda de 6% frente ao mesmo período de 2018, quando as despesas lá fora somaram US$ 1,603 bilhão. Esse também foi o menor valor para meses de outubro desde 2016.  De janeiro a outubro deste ano, as despesas de brasileiros em outros países somaram US$ 14,849 bilhões, com queda de 4% frente ao mesmo período de 2018./ COLABORARAM CÍCERO COTRIM E THAÍS BARCELLOS

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