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Contas externas têm déficit de US$ 717 milhões, o pior desde 2004

Resultado negativo de julho foi provocado pela queda no saldo comercial, conseqüência da alta das importações

Por Fabio Graner e Gustavo Freire
Atualização:

Pela primeira vez em um ano e meio, o saldo de todas as operações de comércio, serviços e rendas do Brasil com o exterior ficou negativo. Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostraram que a conta corrente do balanço de pagamentos teve déficit de US$ 717 milhões em julho, abaixo do esperado tanto pelo BC como pelo mercado financeiro. Foi o pior resultado dessa conta desde abril de 2004. No acumulado do ano, entretanto, a conta corrente tem saldo positivo de US$ 3,666 bilhões, o equivalente a 0,60% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos 12 meses encerrados em julho, o saldo ficou positivo em US$ 11,469 bilhões (0,99% do PIB), o menor desde novembro de 2004. O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, explicou que o resultado inferior às expectativas em julho, foi conseqüência, principalmente, de um saldo comercial mais baixo (US$ 3,347 bilhões, ante US$ 5,659 bilhões em julho de 2006). Esse movimento, segundo ele, foi determinado basicamente por causa do crescimento das importações, que avançaram 35% na comparação com julho de 2006. Altamir destacou o comportamento das importações de combustíveis, matérias-primas e bens de capital. Outros fatores que, segundo ele, influenciaram o déficit em conta-corrente em julho foram: o pagamento de juros de bônus da República, de US$ 979 milhões, e as remessas de lucros e dividendos, que subiram de US$ 1,7 bilhão para US$ 2,1 bilhões de junho para julho. Mas Altamir não acredita que julho tenha marcado o início de uma seqüência de saldos negativos neste ano. Ele avalia que, por causa do nível de atividade mais elevado, que puxa as importações, possa haver superávits um pouco menores nos próximos meses, mas não uma seqüência de déficits. Para agosto, ele prevê que a conta corrente ficará em equilíbrio (saldo zero). NÃO PREOCUPA O estrategista-sênior para América Latina do Banco West LB, Roberto Padovani, avalia que o déficit de julho não é preocupante e não representa uma nova tendência para a conta corrente. ''''O que ocorreu em julho foi uma conjunção de fatores que não vejo que vão perdurar nos próximos meses'''', disse Padovani, destacando o comportamento das importações, sobretudo de petróleo e derivados, como determinante para o resultado do mês passado. Ele projeta para agosto um superávit de US$ 1,3 bilhão na conta-corrente. O economista da LCA Consultores Francisco Pessoa também avalia o déficit de julho como pontual, mas destaca que a tendência nos próximos meses é de redução no superávit em conta-corrente, motivado pela redução no saldo da balança comercial e nos maiores volumes de remessas de lucros e dividendos e despesas com juros. Pessoa acredita que essa tendência deve se acentuar no ano que vem, para o qual projeta um déficit de US$ 4 bilhões na conta-corrente. INVESTIMENTOS FORTES Segundo os dados do BC, o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aqueles voltados para o setor produtivo, foi de US$ 3,584 bilhões em julho. O resultado veio dentro das expectativas do BC e do mercado. No ano, o IED soma US$ 24,448 bilhões (4,02% do PIB) e, no período de 12 meses terminado em julho, US$ 34,159 bilhões (2,95% do PIB), o melhor resultado da história, levando-se em conta, inclusive, os anos de privatização. No resultado de julho, o destaque foi uma operação de US$ 1,05 bilhão na área de extração mineral, que teria sido direcionada para a empresa EBX, do empresário Eike Batista. A projeção do BC para agosto é de US$ 2 bilhões. Para Roberto Padovani, apesar de estar sendo influenciado por algumas operações específicas de grande vulto neste ano, o fluxo de IED mostra que há um grande interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil, por causa da saúde da economia, da expectativa de maior crescimento e pela forte liquidez que vigorou no mercado internacional, pelo menos até julho.

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