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Continuam negociações para desbloquear Rodada Doha

Pessimismo reina entre os diplomatas diante da persistência do impasse e da falta de flexibilidade dos Estados Unidos e da União Européia

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de mais de 12 horas de reuniões, no domingo, 23, em Genebra, os ministros dos seis principais atores nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) não conseguiram desbloquear o processo da Rodada Doha. "Está duro e muito difícil", disse um dos participantes do encontro. O debate continua na segunda-feira, 24, mas o pessimismo reina entre os diplomatas diante da persistência do impasse e da falta de flexibilidade dos Estados Unidos e da União Européia (UE). Com a crise se agravando a cada dia, já se fala até na possibilidade de um entendimento para apenas salvar a imagem da organização. Na reunião de domingo, Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália (grupo conhecido como G-6), travaram uma verdadeira batalha diplomática para tentar encontrar um consenso sobre como reduzir subsídios agrícolas e tarifas de importação. O diretor da OMC, Pascal Lamy, atuou como mediador. Na tentativa de driblar os jornalistas para que nem um detalhe das negociações fosse vazado, o encontro foi transferido da sede da OMC para a sede da missão dos Estados Unidos. O chanceler Celso Amorim se recusou a dar qualquer detalhe do conteúdo da reunião. "Isso pode atrapalhar o prosseguimento das negociações", afirmou Amorim, que chegou a tirar seus assessores da sala para permanecer apenas com os demais ministros. A reunião era considerada como uma das últimas oportunidades para que os países superassem suas diferenças e o encontro ganhou força depois que o G-8 (grupo dos países mais industrializados do mundo) declarou na semana passada que um acordo deveria ser concluído até meados de agosto. Toda a esperança era de que a Casa Branca apresentasse uma nova proposta de corte de subsídios. Pela idéia de Washington, a ajuda aos agricultores cairia de US$ 22 bilhões por ano para US$ 18 bilhões. Tanto os europeus como as economias emergentes julgam que o corte é pequeno. Durante o encontro, Washington admitiu que poderia oferecer um corte maior. Mas isso somente ocorreria se Bruxelas aceitasse um corte maior de suas tarifas de importação de bens agrícolas. Os europeus, porém, não colocaram nada sobre a mesa, além do que já haviam oferecido antes, o que acabou bloqueado um avanço nas negociações. Segundo as idéias iniciais de Bruxelas, o corte seria de 39%. Mas os europeus acatariam um aumento até 51%. Já o Brasil queria uma redução de 53%, enquanto os americanos pressionam por um corte de mais de 60%. Jacques Chirac, presidente francês, deixou claro no G-8 que seu país não estava disposto a fazer novas concessões. Os americanos também condicionaram a oferta a uma abertura maior dos mercados agrícolas da Índia e de outros países emergentes. A representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, alertou que se não aceitassem, a culpa pelo fracasso seria transferida às autoridades de Nova Délhi. O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath deixou claro que não se importava em ser acusado, já que não cederia. Aproximação difícil Tudo indica que nem a intervenção dos chefes de Estado durante a reunião do G-8 conseguiu facilitar uma aproximação das posições. Há uma semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush se reuniram em São Petersburgo e, segundo diplomatas que estiveram no encontro, 70% da conversa entre os dois foi sobre o futuro da OMC. "Quero um acordo grande", afirmou Bush, olhando diretamente para Lula. Segundo o líder americano, também seria exigido mais do Brasil nas negociações, mas Bush garantiu que os países em desenvolvimento não sairão de mãos vazias. "Vou pedir a vocês (Brasil) maior acesso a seus mercados. Mas estamos prontos a ceder também. Estou pronto para fazer mais." O presidente dos Estados Unidos teria ainda incentivado que Amorim e Susan mantivessem contato para solucionar as diferenças. Há reuniões marcadas para segunda-feira e para o próximo fim de semana. Mas sem uma perspectiva clara de acordo, muitos diplomatas em Genebra acreditam que não há mais porque voltar à mesa de negociação. "É difícil imaginar que poderemos continuar a viajar para Genebra sem que nada ocorra", disse Mariann Fischer Boel, comissária agrícola da UE.

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