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Contra alta de preços, adubo na medida

Produtores já compraram com antecipação os fertilizantes. Agora ideal é otimizar ao máximo[br]potencial do insumo

Por Fernanda Yoneya
Atualização:

Junto com a valorização das commodities agrícolas, os insumos para a produção também subiram de preço, sobretudo fertilizantes. Embora as cotações ainda não tenham chegado aos picos de 2008 e 2009 - quando os produtores, além de tudo, estavam descapitalizados -, as altas são expressivas. Segundo estudo divulgado semana passada pela Associação dos Misturadores de Adubo do Brasil (AMA Brasil), os preços quase dobraram em 12 meses.A maioria dos produtores, já escaldada, fugiu de parte desta alta, comprando adubos com antecedência para a safra de verão, que começa a ser plantada em setembro. Mas antecipar compras não é a única saída para economizar. Adotar uma adubação ajustada às necessidades do solo, sem desperdício do insumo ou risco de comprometer a produtividade da lavoura, também deve ser prática corrente entre os produtores. E até um modo de não sofrer contratempos futuros, já que a dependência brasileira por fertilizantes é grande.Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o Brasil importa 70% do adubo consumido (NPK); individualmente, o potássio é o componente em que o País tem maior dependência externa: 92% são importados.Ferramentas para adotar o uso racional de adubo não faltam: pode ser uma simples análise de solo ou o mapeamento da área por meio da agricultura de precisão. Plantio direto na palha, adubação verde, adubação foliar, inoculação de sementes com bactérias fixadoras de nitrogênio e aplicação de calcário e gesso também contribuem para economizar adubo. "Retiro amostras de solo todo ano e, às vezes, a adubação com NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) não precisa ser tão pesada", diz o produtor de Capão Bonito (SP) Leandro Egli de Almeida, que cultiva milho, soja, trigo e feijão em 500 hectares. "Fazer esse monitoramento é importante, pois esse insumo representa 40% do custo total de produção." Análise de solo. A análise de solo indica também se há necessidade de aplicação de calcário na área, que é um investimento a longo prazo, mas que tem papel crucial na eficiência da adubação. "Tenho áreas de plantio direto que ficaram sem calagem por oito anos. Se for bem feita, o resultado é ótimo." Ele cita ainda a gessagem, que compensa a deficiência de enxofre da lavoura. "E ainda ganho cálcio de brinde", diz, já que gesso, além de reduzir o efeito tóxico do alumínio no solo, fornece cálcio em profundidade à área.Almeida, que é agrônomo, diz que, como o fósforo tem baixa mobilidade na planta, sobretudo se o solo está frio, ele intensifica a adubação fosfatada nesta época. "Quando começa a esquentar, a planta aproveita melhor o fósforo, então posso voltar aos níveis normais."Rizóbios. Outra prática adotada é a inoculação de sementes de milho, semelhante à introdução de bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico (rizóbios) nas sementes de soja. No caso do milho, explica Almeida, pelo fato de ser uma tecnologia recente, a vantagem ainda não tem tanta relação com a redução na aplicação de adubo nitrogenado, mas no aumento da produtividade da lavoura. "Pode-se dizer que, com a mesma quantidade de adubo, o rendimento aumenta", diz. Segundo o agrônomo Ivanildo Evódio Marriel, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, os ganhos de rendimento com a tecnologia variam de 10% a 30%. "E, com a difusão da tecnologia, o potencial de substituição do adubo nitrogenado pode ser de 30% a 40%", calcula.Em Douradina (MS), a inoculação de sementes de soja com rizóbios substitui em 100% a adubação nitrogenada, garante o produtor Lucio Damalia. "Se eu fosse depender de adubo nitrogenado a lavoura não seria viável. Teria de aplicar 1 tonelada de ureia por hectare", diz ele, que cultiva milho e soja em área de 320 hectares. "A baixa eficiência do uso de fertilizantes nitrogenados (em torno de 50%) pelas plantas indica a necessidade de 480 quilos de nitrogênio para a produção de 3 mil quilos de soja por hectare. Considerando-se a aplicação de ureia (45% de nitrogênio), seriam necessários 1.067 quilos desse fertilizante para obtenção dessa produtividade, o que tornaria inviável economicamente a cultura no Brasil", diz o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Fábio Martins Mercante. Inoculação. Adepto da inoculação de sementes há 30 anos, Damalia diz, ainda, que o adubo nitrogenado, poluente, traz risco de contaminação de águas. Almeida diz que a adubação foliar, em tempos de alta de preços, é outra aliada. "No verão o excesso de chuvas pode tornar indisponível o manganês na lavoura de soja. Esse manganês, entre outros nutrientes, pode ser reposto via adubação foliar, com boa resposta da planta.""Concilio a pulverização do adubo foliar com a aplicação de fungicidas, para minimizar o custo com maquinário", diz ele, acrescentando que o custo da operação é baixo e não chega a 7% do total. "Por hectare, ganho 1,6 saca de soja." Hoje, Almeida tem rendimento de 68 sacas/hectare, para a média na região de 60 sacas/hectare, segundo informa o agrônomo Nélio Uemura, da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito.PRÁTICASAnálise de soloIndica a quantidade necessária de adubo e orienta a aplicação de calcário para correção da acidez do soloAgricultura de precisãoO mapeamento de solos é uma ferramenta sofisticada que indica níveis de fertilidade da áreaPlantio diretoA prática favorece o acúmulo de matéria orgânica no solo e ajuda a economizar na adubaçãoInoculação de sementesIntroduzir bactérias fixadoras de nitrogênio (rizóbios) na semente de soja substitui em 100% a adubação nitrogenada

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