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Contra-ataque de gogó

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Por Redação
Atualização:

O governo Dilma se mostrou especialmente preocupado com os rumos da inflação. Mas ainda não está claro até que ponto está disposto a arcar com os efeitos colaterais de um contra-ataque à disparada dos preços.Ontem, por ocasião da instalação dos trabalhos de abertura do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - o Conselhão -, a presidente da República, dois ministros de Estado e o presidente do Banco Central se sentiram na necessidade de dar satisfações à sociedade e de alguma maneira corroborar a disposição de dar prioridade total ao combate à inflação. Foi um vigoroso tiroteio de gogó que, no entanto, deixou antever alguma vacilação: "É importante moderar o crescimento da demanda, mas sem matar a galinha dos ovos de ouro, que é o mercado interno", advertiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega.Os discursos mostraram algumas distorções de diagnóstico e excessiva valorização das ações até agora colocadas em prática. Não dá para insistir, por exemplo, em que a maior parte da carga inflacionária deva ser descarregada sobre a disparada dos preços internacionais das commodities. Ela atacou todas as economias e, no entanto, no próprio gráfico apresentado no telão por Mantega, o Brasil está entre os países que mostram uma das inflações mais altas. Só perde para a Índia, Rússia e Argentina.Isso demonstra que as causas locais de inflação brasileira têm um peso não desprezível e que parece minimizado. Ainda assim, dá para identificar uma certa mudança de posição tanto no ministro Mantega como no presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.Até agora, ambos vinham repetindo que a redução dos preços das commodities viria logo em seguida, como resultado da virada do que antes entendiam ser um movimento nitidamente especulativo. Essa aposta não é neutra. Disfarça a pouca disposição de contra-ataque com a ideia de que um pedação da alta dos preços desmanchará sozinho.Agora, tanto Mantega como Tombini parecem não contar mais com a reversão espontânea. É sinal, também, de terem entendido que a alta das commodities está mais relacionada com o aumento da demanda global do que com movimentos especulativos. Sendo assim, o encarecimento das commodities (alimentos, petróleo, etc.) veio para ficar, com as consequências sobre o comércio e a inflação global.Além disso, em vez de reconhecer as origens fiscais do problema (despesas correntes excessivas pelo setor público), o ministro Mantega preferiu enfatizar os efeitos que o corte orçamentário começou a produzir, o que não está tão evidente assim. Tombini, por sua vez, reconheceu que a inflação do setor de serviços (assistência técnica, atendimento de saúde, cabeleireiro, viagens, etc.) está difícil de ser erradicada. Esse é o efeito direto da renda gerada pela expansão dos gastos públicos que, no entanto, não pode ser enfrentado nem com as tais medidas prudenciais, que procuram reduzir a expansão do crédito, nem pela redução do afluxo de dólares no mercado interno.Dentro de mais algumas semanas provavelmente a inflação pulará para além dos 6,5% em 12 meses. Alguns sinais de alarme serão automaticamente disparados. E, então, talvez o governo sinta que tenha de fazer algo mais do que acionar os gogós disponíveis.CONFIRANo primeiro trimestre, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) aumentou 217% sobre igual período de 2010. Esse afluxo não pode ser coibido com taxação do IOF, porque não interessa coibir investimentos. De todo modo, ajudou a puxar para baixo a cotação do dólar.Um pouco maisO ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que contava com a entrada líquida de US$ 60 bilhões em IED (23,9% a mais do que em 2010). O Banco Central espera menos, US$ 55 bilhões, ou 13,5%.

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