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Contra crise, Gerdau venderá mais ativos

Grupo gaúcho já se desfez de operação na Europa e avalia fazer o mesmo na Índia, na América Central e em partes da América do Sul

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

Na tentativa de ganhar fôlego para atravessar a crise do aço e de reduzir a sua pesada dívida de R$ 23,7 bilhões (valor bruto em março), a siderúrgica gaúcha Gerdau vai intensificar a venda de ativos considerados não estratégicos, apurou o ‘Estado’. O movimento é considerado essencial para que o grupo controlado pela família Gerdau Johannpeter consiga enfrentar um cenário de excesso de oferta do produto no mercado mundial, agravado pela recessão no Brasil.

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Abatidas pelo aumento da capacidade global, sobretudo da China, aliada à queda dos preços internacionais do minério de ferro, gigantes globais estão se reorganizando, como as siderúrgicas chinesas Baosteel e Wuhan Iron and Steel, que devem se unir. Grandes mineradoras também estão em amplo processo de desinvestimentos.

No Brasil, a situação é ainda mais delicada pela crise econômica, que paralisou a construção civil e a indústria automobilística. Tradicionais grupos, como Usiminas, em plena guerra societária, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, ambos com dívidas pesadas, também anunciaram venda de ativos, mas não evoluíram.

Imagem abalada. A Gerdau conseguiu sair na frente de seus rivais brasileiros nesse processo – em junho, concluiu a venda de suas operações na Espanha, por ¤ 155 milhões (mais ¤ 45 milhões adicionais previstos para os próximos cinco anos), para o grupo de investidores locais Clerbil.

 

O mercado recebeu bem a operação, mas ainda não digeriu as crises internas do grupo familiar gaúcho. Em fevereiro, a siderúrgica, com operações agora em 13 países, teve sua reputação comprometida ao ser alvo de inquérito público aberto pela Polícia Federal na Operação Zelotes, que investiga sonegação fiscal. O presidente do grupo, André Gerdau, foi indiciado por corrupção ativa.

Há um ano, as relações com acionistas minoritários também azedaram. Eles acusam os controladores (a holding Metalúrgica Gerdau) de dificultar a participação deles em assembleias, segundo fontes. Em julho de 2015, a siderúrgica anunciou aquisição de participações minoritárias em quatro empresas controladas do grupo, por R$ 1,98 bilhão, o que desagradou parte dos acionistas.

Os dois eventos – operação Zelotes e conflitos com minoritários – põem em dúvida as práticas de boa governança da Gerdau, mas não comprometeram o desempenho da companhia, diz Bruno Piagentini, da Coinvalores. “Não sabemos os desdobramentos do inquérito (da Zelotes). É uma complicação adicional, mas não um grande problema para a empresa.”

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Na avaliação do analista, o maior desafio para as grandes siderúrgicas – Gerdau, CSN e Usiminas – é a demanda fraca no mercado brasileiro em função da crise que o País atravessa. “No entanto, o fato de a Gerdau ser a mais internacionalizada e ter começado a vender ativos não estratégicos, traz um alívio para o caixa da companhia.”

Não estratégicos. Um executivo de um grande banco estrangeiro, a par do processo de venda de ativos do grupo, diz que o momento não é bom para vender negócios. “Há uma dificuldade, de maneira geral, de se encontrar comprador para ativos siderúrgicos neste momento. Um potencial comprador para os negócios da Gerdau na Índia não será o mesmo para os ativos da América Central e países sul-americanos, por exemplo.”

Segundo outra fonte de banco, os potenciais compradores desses ativos serão grupos com atuação local. No caso da Índia, por exemplo, as unidades de negócio interessariam às companhias de lá. Na América do Sul, os ativos da Colômbia e Peru são considerados mais atraentes, segundo outro banco estrangeiro.

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“Embora não concordemos com a relação da Gerdau com seus acionistas minoritários, apoiamos a venda de ativos não estratégicos. Não entendemos ainda porque o grupo ainda não saiu da Índia”, afirma um acionista minoritário relevante do grupo. Ele também citou que a empresa teve oportunidade de atrair investidores para seus ativos de mineração na região do Quadrilátero de Minas Gerais em 2010, mas perdeu o ‘timing’.

Outro lado. Procurada, a Gerdau informou que manterá o mercado informado sobre decisões de venda e que avalia oportunidades de otimização de seus ativos com a visão de gerar maior retorno aos negócios. Em relação à Operação Zelotes, reforçou que nem a companhia nem seus executivos “jamais prometeram, ofereceram ou deram vantagem indevida a funcionários públicos para que recursos em trâmite no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) fossem ilegalmente julgados em seu favor, até mesmo porque estes ainda se encontram em andamento”. Em relação aos acionistas, insiste que “conta com uma longa tradição de transparência”.

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