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Contra crise, Japão aprova maior orçamento da história

Por TOMASZ JANOWSKI E ELIZABETH PI
Atualização:

O governo do Japão aprovou nesta quarta-feira o maior orçamento público da sua história, na esperança de estimular recuperação econômica. Governos de todo o mundo estão promovendo aumentos de gastos públicos para tentar conter a crise econômica global, desencadeada pelas restrições ao crédito e pelo colapso do mercado imobiliário dos EUA, onde novos dados sinalizam um agravamento da recessão. "O Japão não pode evitar o tsunami e a recessão mundial, mas pode tentar buscar uma saída", disse o primeiro-ministro Taro Aso numa entrevista coletiva em que ele ilustrou o pacote de estímulo econômico com um diagrama de um foguete de três estágios. "A economia mundial está numa recessão das que só acontecem a cada cem anos. Precisamos de medidas extraordinárias para lidar com uma situação extraordinária." O gabinete aprovou um orçamento de 88,5 trilhões de ienes (980,6 bilhões de dólares) para o ano fiscal que começa em abril de 2009. O plano amplia em 9 por cento os gastos totais, excluindo o serviço da dívida, em comparação com o orçamento inicial deste ano. O novo orçamento pretende acomodar parte dos 12 trilhões de ienes contidos em pacotes anteriores de estímulo econômico. Mas o novo orçamento pode ser barrado no Parlamento, onde o Partido Liberal Democrático tem um controle cada vez menor - em parte devido à perda de popularidade de Aso. A Alemanha também está aumentando gastos. Mas o país, que tem a maior economia da Europa, pretende limitar um segundo pacote de estímulo a 25 bilhões de euros (cerca de 35 bilhões de dólares), segundo uma fonte política regional. Dessa forma, o novo programa ficaria aquém dos 40 bilhões de euros inicialmente previstos para novos projetos. A chanceler Angela Merkel está sob pressão para adotar mais medidas de estímulo contra a recessão. Políticos e economistas consideraram insuficientes as medidas tomadas até agora, no valor de 31 bilhões de euros. DESVALORIZAÇÃO Mais a leste, outros países também cortam juros e aumentam gastos. O Banco Central polonês disse que deve diminuir ainda mais os juros em 2009, porque o crescimento econômico pode cair a menos da metade. Na Rússia, uma fonte do Banco Central confirmou que o rublo sofreu a sétima desvalorização em um mês, e um vice-ministro do Interior declarou que o país tende a viver distúrbios por causa da crise. "A situação pode ser exacerbada por um crescimento nos protestos, derivados da frustração dos trabalhadores com o não-pagamento de salários e ameaças de demissão", disse Mikhail Sukhodolsky à agência RIA-Novosti. Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, disse que os mercados não estão sabendo valorizar as medidas adotadas contra uma situação que, segundo ele, não tem precedentes pelo menos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. "A esfera financeira está subestimando a enorme importância das decisões que estão sendo tomadas", disse Trichet em discurso num centro de estudos de Paris, na terça-feira. Ele alertou os governos da União Européia a não contraírem dívidas para financiar os pacotes, já que isso não despertaria mais confiança na economia nem nos mercados. Ewald Nowotny, presidente do BC austríaco e conselheiro do BC europeu, disse a uma TV que ainda pode haver mais corte de juros na zona do euro. INDICADORES RUINS NOS EUA Nos Estados Unidos, origem da crise, dados semanais mostraram que o número de novos pedidos de auxílio-desemprego saltou em 30 mil, alcançando o maior nível em 26 anos na semana passada. Enquanto isso, o gasto pessoal do norte-americano caiu 0,6 por cento em novembro, quase em linha com o esperado, depois de uma queda de 1 por cento em outubro. A renda recuou 0,2 por cento no mês passado depois de subir 0,1 por cento em outubro. Já as encomendas de bens duráveis no país caíram 1 por cento em novembro. A queda foi menos severa que o antecipado, mas segue-se a um acentuado mergulho nos pedidos de outubro. Esta é provavelmente a maior crise nos EUA nos últimos 60 anos, e cada vez mais empresas devem cortar vagas por causa da redução da demanda e das restrições ao crédito. Em todo o país, quase 2 milhões de pessoas perderam seus empregos neste ano, levando a taxa de desocupação a 6,7 por cento. Na terça-feira, dados dos EUA apontaram para uma queda recorde no valor dos imóveis e no número de transações imobiliárias, o que derrubou anda mais os indicadores de Wall Street. As Bolsas da Europa também foram afetadas, em parte porque a redução do preço do petróleo prejudica os resultados das empresas de energia.

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