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Contribuições ao mercado nacional de gás natural

O atual momento é oportuno para rediscutir o papel do gás na matriz energética

Por Adriano Pires
Atualização:

O gás natural vem-se destacando no cenário global por dois motivos. O primeiro é o aumento de sua oferta, seja por meio do shale americano, seja pelo aumento da liquefação do gás na Austrália, na África e no Oriente Médio. O segundo é por ser o energético mais limpo entre os combustíveis de origem fóssil, sendo a aposta para uma transição para um mundo mais limpo. E o Brasil está indo na contramão ao tratar o gás natural como um patinho feio.

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O aumento da oferta mundial de gás natural se iniciou na década de 80, com o advento da tecnologia de liquefação do gás natural, que possibilitou seu transporte sem o uso de gasodutos e, com isso, transformou as reservas de gás, que antes eram inviáveis, em reservas economicamente viáveis. Um segundo movimento veio com a produção do shale gas americano, que revolucionou o mercado de gás com a derrubada dos preços, tornando os Estados Unidos o maior produtor de gás e viabilizando novamente em território americano indústrias como a petroquímica. Do ponto de vista ambiental, proporcionou a substituição do carvão pelo gás natural nas térmicas.

O Brasil está passando à margem dessa era de ouro do gás natural. Com o anúncio da descoberta do pré-sal, apostamos muito no petróleo e continuamos sem uma política para o gás natural. Como se não houvesse uma total inter-relação na produção dessas duas energias. O gás natural poderá ser um grande entrave à produção de petróleo no pré-sal, caso não se elabore uma política que crie mercado para essa energia. Portanto, precisamos rediscutir o papel do gás na matriz energética, sendo o atual momento político e econômico muito oportuno.

Apesar de existir certo consenso de opiniões a respeito de uma maior participação do gás natural como fonte primária de energia no Brasil, ainda persistem consideráveis entraves à expansão dos investimentos em toda a cadeia.

Os agentes que participam do mercado de gás precisam da definição de diretrizes e de políticas regulatórias claras, de forma a incentivar o investimento privado em produção, importação, transporte e distribuição de gás. Do lado da produção nacional é fundamental a volta de um calendário de leilões. E, para que esses leilões tenham sucesso, deve-se aprovar a nova Lei de Partilha, que está tramitando no Congresso, bem como nova política de conteúdo local e a extensão do Repetro.

Para estimular a produção do gás não convencional é necessário rever os licenciamentos ambientais e também estudar a alteração da política de tributos e de royalties que venham a beneficiar os pequenos e médios produtores.

Nos próximos anos continuaremos a ser grandes importadores de gás. Portanto, devemos nos preocupar com o contrato com a Bolívia, que termina logo ali, em 2019. Também é preciso estabelecer uma regulação apropriada ao novo cenário de venda de ativos, que se caracteriza pela presença do chamado monopólio natural por parte da Petrobrás.

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Do lado da demanda, temos de criar “âncoras”. E isso deveria ser feito colocando usinas a gás na base do setor elétrico.

A falta de um planejamento que considere a base térmica mais realisticamente ajudou a levar ao aumento de cerca de 50% na tarifa de eletricidade no ano passado. As térmicas a gás natural vão elevar o nível de confiabilidade energética. Ainda pelo lado da demanda, é preciso estabelecer um porcentual mínimo obrigatório de compra de energia distribuída para as distribuidoras de energia elétrica e incentivar o uso do gás em veículos pesados.

Do ponto de vista regulatório, criar a figura da interconexão de gasodutos de distribuição interestaduais, nos casos em que não há condições de instalação de rede de transporte, mas há mercado relevante a ser atendido. É importante, ainda, promover a efetiva desverticalização da atividade de produção, transporte e distribuição, por meio de Projeto de Lei do Executivo.

O Brasil não pode nem deve ficar de fora da revolução do gás natural pela qual passam as principais economias do mundo. Temos de recuperar o tempo perdido.

*É diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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