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Copa e inflação derrubam crescimento dos pequenos

Negócios de micro e pequeno porte tiveram o pior desempenho desde 2009, quando o Brasil enfrentava a crise global

Por Renato Jakitas
Atualização:

Há cinco anos o micro e pequeno empresário paulista não enfrentava um primeiro semestre tão fraco. O faturamento real dos empreendimentos do Estado de São Paulo aumentou 0,8% de janeiro a junho, isso quando comparado a igual período do ano passado. Trata-se do pior desempenho desde 2009, quando o País experimentava os efeitos colaterais da crise mundial, que teve início com o desmoronamento do sistema de crédito imobiliário dos Estados Unidos.Desta vez, uma associação de fatores foi decisiva para a redução no ritmo de expansão das receitas. Segundo o Sebrae-SP, responsável pelo monitoramento, a inflação elevada, os salários com aumentos reais menores (já descontada a inflação) e a piora na confiança dos empresários e consumidores foram as principais motivações. O período da Copa do Mundo, com redução de horas úteis entre os meses de junho e julho, também contribuiu para essa quase estagnação.A receita total das micro e pequenas empresas no primeiro semestre de 2014, ainda segundo o Sebrae-SP, foi de R$ 285,4 bilhões, apenas R$ 2,4 bilhões a mais do que os valores obtidos no mesmo período do ano passado. Apenas em junho, o faturamento ficou em R$ 45 bilhões, quase 2% a menos do que no mesmo mês de 2013."Sem dúvida, o desempenho modesto da economia prejudicou os resultados no semestre", afirma o diretor-técnico do Sebrae-SP, Ivan Hussni. "Com os jogos do mundial, houve uma diminuição do número de dias úteis em junho e os reflexos foram sentidos principalmente na indústria e no comércio", sacramenta.As partidas da Copa, por sinal, são apontadas pelo comerciante paulistano Tiago Augusto Pinto como a 'pá de cal' em um semestre que já andava fraco. Segundo ele, a movimentação no balcão de suas três lojas - uma perfumaria, uma de bijuterias e uma 'esmalteria', todas localizadas no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital - minguou nos dias em que a seleção brasileira entrou em campo. "A gente fechava uma hora antes dos jogos e abria uma hora depois. Mas as ruas ficavam vazias e a gente não vendia quase nada", conta.Com um volume de 600 vendas por dia e um desembolso médio estimado em R$ 11,30 por cliente, o comerciante conta que sofreu redução de 20% no fluxo de pessoas e entre 12% e 13% no faturamento no primeiro semestre, sobretudo em junho. Com menos dinheiro no bolso, ele precisou se endividar para arcar com as despesas. "Eu tomei R$ 40 mil emprestados no banco. Precisei fazer isso para cobrir a folha de pagamento e não atrasar com os fornecedores", revela o empreendedor.A fase menos próspera do comerciante é também experimentada por boa parte de seus colegas no Estado. Essa, pelo menos, é a opinião de Letícia Aguiar, economista e consultora do Sebrae-SP. "De uma forma geral, a economia neste ano de 2014 está mais fraca que no ano passado. A inflação no primeiro semestre, por exemplo, comeu o poder de compra e isso acabou influenciado na decisão dos consumidores", afirma a especialista, que espera um segundo semestre de recuperação em relação a primeira parte do ano, mas ainda assim com resultados abaixo dos obtidos no passado. "Este ano não deve ser melhor que em 2013", espera a especialista.

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