PUBLICIDADE

Copom: alta dos juros surpreende analistas

A manutenção dos juros em 15,25% ao ano era a decisão esperada pela maioria dos analistas. Mas o Copom decidiu elevar a taxa em 0,5 ponto porcentual, em função do impacto da alta do dólar sobre os índices de inflação.

Por Agencia Estado
Atualização:

Diferentemente do que esperavam os analistas, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros - Selic - de 15,25% para 15,75% ao ano, sem colocação de viés. A ata da reunião será divulgada na próxima quinta-feira, dia 29. No dia seguinte, sexta-feira, o Banco Central divulgará seu relatório sobre inflação. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 17 e 18 de abril. Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, surpreendeu-se com a decisão do Comitê. "A atitude de elevação da taxa foi extremamente radical. O Banco Central (BC) decidiu sacrificar o crescimento econômico para não correr o risco de uma alta da inflação", explica. Segundo o economista, a decisão do Comitê também revela que há uma preocupação com a tendência para o câmbio. "Se o BC apostasse em uma estabilidade das cotações, poderia ter mantido os juros. Nesse caso, não haveria o risco de contaminação dos preços, por conta da alta já verificada do dólar, a qual foi provocada pela incerteza em relação às economias da Argentina e Estados Unidos", avalia. O controle inflacionário é um dos fundamentos principais da política econômica brasileira. Além disso, faz parte do acordo firmado entre o governo e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para esse ano, a meta é de 4%, com possibilidade de oscilação de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é usado como referência para a meta e, no acumulado do ano, até fevereiro, o IPCA está em 1,03%. A instabilidade externa vem provocando uma pressão de alta sobre a cotação do dólar que, no ano, até hoje, acumula uma valorização de 8,76%. De acordo com Luiz Rabi, economista-chefe do BicBanco, uma cotação média para a moeda norte-americana em R$ 2,10 durante esse ano pode fazer com que a inflação acumulada no período fique em 5%. Nesse cálculo, Rabi levou em consideração um repasse de 20% da alta do dólar para os preços. "Mas esse repasse vai depender do ritmo do crescimento da economia e da abertura ao mercado internacional", afirma o economista. Penteado não arrisca indicar um patamar máximo para a cotação do dólar a partir do qual a meta de inflação estaria comprometida. "As metas foram estabelecidas no início de 1999, com a implantação do plano Real. De lá para cá, é um período muito curto para estabelecer qualquer modelo de cálculo nesse sentido", explica. Reação dos mercados A perspectiva do economista do ABN Amro Asset Management para a abertura dos mercados amanhã é de alta dos juros futuros e queda na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Por outro lado, as cotações do dólar podem cair. "Mas esse cenário vai depender da forma como os investidores vão avaliar a decisão do Comitê", explica. O juro mais alto é também um fator de contenção do câmbio, porque aumenta o custo de manter a moeda norte-americana na carteira (custo de oportunidade) e porque atrai investidores estrangeiros para os papéis de renda fixa brasileiros, aumentando a oferta de dólares. Cenário externo pressiona dólar A alta do dólar, que pode provocar a alta da inflação, vem sendo impulsionada pela instabilidade nos mercados internacionais. No momento atual, a situação da Argentina é o que mais preocupa. O país vizinho precisa cortar gastos públicos e reduzir impostos para reaquecer a economia", afirma Rabi. A indicação de Domingo Cavallo para o Ministério da Economia do país acalmou, inicialmente, a tensão dos investidores, já que foi o próprio Cavallo quem idealizou e implantou o modelo de paridade cambial na Argentina. Porém, a natureza das medidas econômicas que serão anunciadas para reverter a difícil situação econômica do país e o apoio político que elas receberão são as maiores preocupações agora. Veja mais informações sobre as propostas de Cavallo no link abaixo. Por que a situação Argentina afeta o Brasil? A situação econômica na Argentina afeta de forma direta o Brasil. Isso porque os investidores estrangeiros têm a mesma percepção a respeito dos dois países, já que, além de serem emergentes e situados na mesma região, são parceiros comerciais e, por isso, têm forte correlação. Uma situação de crise na Argentina deixa os investidores estrangeiros inseguros quanto às aplicações no Brasil. Como o Brasil é dependente de recursos estrangeiros para fechar suas contas, uma diminuição da entrada de recursos afeta os mercados financeiros, pressionando para cima a cotação do dólar. Além disso, faz com que o País precise elevar suas taxas de juros para atrair recursos externos, o que pode ter impacto também no mercado interno de juros. Para se ter uma idéia da dependência do País em relação ao capital estrangeiro, em janeiro, o déficit em transações correntes no Brasil era de 4,39% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso quer dizer que o País gasta mais do que arrecada por meio da balança comercial e de negócios no setor de serviços - pagamento de juros da dívida, turismo internacional, envio de lucro das empresas internacionais instaladas no País etc. Na comparação com países da América Latina, a posição do Brasil também não é boa. No Chile, esse porcentual estava em 2,4% do PIB no ano passado e, na Argentina, 3,7% do PIB.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.