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Copom divide apostas de analistas em Wall Street

Por Agencia Estado
Atualização:

Nunca uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) criou tanta divisão entre as apostas dos analistas de Wall Street como a que será realizada amanhã e quarta-feira. Não há consenso entre os analistas internacionais nem em relação a um eventual corte ou manutenção da taxa Selic nem quanto à eliminação ou não do viés de baixa, introduzido na última reunião do Copom. Na opinião do economista-chefe para Brasil do banco Lehman Brothers, Paulo Vieira da Cunha, o Copom não somente vai manter a taxa Selic em 18,5% ao ano como vai eliminar o viés de baixa. "Se o dólar se estabilizar, se o prêmio de risco cair e se a taxa de juros de longo prazo cair, então há uma perspectiva de baixar a taxa de juros, pois se configuraria que o projeção para inflação seria menor e o quadro macroeconômico permitiria uma redução dos juros. Mas não vejo esse quadro se materializando tão cedo, inclusive dada a volatilidade do panorama político", explicou Cunha à Agência Estado. Ele ressaltou que, embora os vários índices de preços ao consumidor estejam sob controle, a inflação no atacado ainda está apresentando índices desfavoráveis. "É um potencial de repasse, o que é complicado", disse. Já a analista de Brasil do banco Bear Stearns, Emy Shayo acredita que o Copom irá reduzir a taxa Selic em 50 pontos-base para 18% ao ano. "Mas a ressalva que fazemos na nossa estimativa é de que, se a moeda continuar sob a mesma pressão que apresentou na abertura dos negócios hoje pela manhã, não haverá corte algum", disse. Um dos fatores, na opinião dela, que poderá favorecer o uso do viés de baixa na reunião do Copom desta semana é o fato dos últimos indicadores de inflação terem sido positivos. Também apostando num corte de 50 pontos-base na taxa Selic está o estrategista-chefe para mercados emergentes do banco UBS Warburg, Michael Gavin. Ele lembrou que a última projeção do BC para a inflação em 2003 ficou em 2,6%, o que está a baixo da meta antiga (de 3,25%) e da nova meta de inflação para 2003 (de 4%). "Um detalhe importante é que no fim de junho quando saiu esse relatório do BC com a nova projeção de inflação de 2003, o câmbio já estava sendo negociado bem acima de R$ 2,80", disse Gavin. "Ou seja, faz sentido para o Banco Central focar numa taxa bem mais baixa do que a meta central, especialmente num ambiente de estagnação econômica. A menos que algo extraordinário aconteça até a quarta-feira, o cenário está dado para um corte de 50 pontos-base na taxa Selic." Para o chefe da área de pesquisa econômica e de estratégia para América Latina da consultoria IDEAglobal, Ricardo Amorim, o Copom não somente vai reduzir a taxa Selic em 50 pontos-base como também vai manter o viés de baixa. Ele lista as seguintes razões para a sua estimativa. "Primeiro, o BC já deveria estar olhando para a inflação de 2003 e não de 2002. Depois, a estimativa de inflação do BC para 2003 está abaixo da nova meta para inflação em 2003, que subiu de 3,25% para 4%. A estimativa do BC está abaixo de 3%, o que há um espaço grande para a nova meta de 2003", explicou. Amorim disse também que uma redução da taxa Selic implica um efeito positivo sobre a sustentabilidade da dívida brasileira. "E a manutenção do viés resultaria numa queda de toda a curva de juros por causa da expectativa de novos cortes na taxa Selic", disse Amorim, lembrando que o real está apresentando certa estabilidade nas últimas duas semanas. No lado de quem aposta numa manutenção da taxa Selic pelo Copom nesta semana, está também o economista para mercados emergentes do banco HSBC, David Lubin. Ele acredita que o Copom manterá a taxa Selic em 18,5%, mas manterá o viés de baixa. "Ainda há o perigo de um repasse tardio para a inflação da recente desvalorização do real. Por conta desse risco de repasse tardio, o Copom deveria agir com cautela", afirmou. Além disso, Lubin observou que o Brasil ainda está muito vulnerável a choques externos, especialmente vindos dos Estados Unidos, com a queda nas bolsas de valores norte-americanas. "Isso vem reduzindo o apetite por riscos dos investidores estrangeiros, o que afeta os mercados emergentes e o Brasil em particular", disse Lubin. Os estrategistas de renda fixa para mercados emergentes do banco JP Morgan também acreditam na manutenção da taxa Selic em 18,5%. "Mas o Copom deverá manter o viés de baixa para ter a liberdade de cortar a taxa de juros se a calmaria se estender por outra semana ou duas semanas", segundo um relatório enviado hoje a clientes pelos estrategistas do JP Morgan.

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