Veja como ficam os investimentos com a Selic a 10,75%

Investimentos em títulos de renda fixa, remunerados por uma taxa flutuante, ficam mais vantajosos com o aumento dos juros e a desaceleração da inflação, mas especialistas começam a olhar para prefixados também

Publicidade

PUBLICIDADE

Por Érika Motoda
Atualização:
4 min de leitura

Quase cinco anos depois, a taxa básica de juros voltou a atingir o patamar de dois dígitos. Com a decisão do Copom de elevar a Selic para 10,75% nesta quarta-feira, 2, a taxa ultrapassa seu valor no período de julho de 2017, quando estava a 10,25%.

Em ciclos de alta da Selic, os investimentos em renda fixa ganham mais atratividade. Para este momento, as apostas continuam sendo nos investimentos pós-fixados atrelados a uma taxa flutuante, como CDI, Selic e IPCA, pois esses índices corrigem o retorno do investimento conforme sua variação. Mas, a expectativa é de que a Selic atinja o pico nos próximos meses, entre março e maio, para depois passar o ano estável. Assim, alguns especialistas já recomendam a alocação de uma parcela da carteira em títulos prefixados (aqueles em que a taxa de juros já é definida de antemão), mas de curto prazo.

Leia também

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo; Selic atinge o patamar de dois dígitos pela primeira vez desde 2017 Foto: Amanda Perobelli/ Reuters

“Os investimentos pós-fixados continuam sendo boas opções de investimento. Mas já podemos considerar opções prefixadas com vencimento curto, de um ou dois anos”, diz Rodrigo Beresca, analista de Soluções Financeiras da Ativa Investimentos. “Os investidores podem encontrar taxas boas no mercado com juros atuais antes que comece o ciclo de queda, que prevemos que se inicie em 2023.”

Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, o ciclo de alta da Selic deve atingir o pico entre março e maio, em torno de 11,75% e 12,75%. “O Banco Central elevou muito os juros no ano passado, de 2% para 9,25%, em um ano. Como os efeitos da política monetária levam em torno de 6 a 9 meses (para surtir efeito na inflação), vamos ver todo o impacto do aumento de juros sobre a atividade deste ano”, diz Sung.

Se a economia seguir de acordo com as expectativas demonstradas no Boletim Focus desta semana, com o IPCA em 5,38% e a taxa básica de juros a 11,75%, os investimentos em renda fixa passariam a ter um rendimento positivo, ainda que o valor seja baixo.

Quem depositar R$ 1 mil na poupança e retirar daqui a um ano, por exemplo, vai ter um retorno de R$ 4,58, segundo os cálculos do professor de Finanças da FGV-SP Fabio Gallo, colunista do Estadão.

Continua após a publicidade

Algumas adversidades, porém, podem mudar esse cenário. Fora os problemas já conhecidos do ano passado como inflação alta, câmbio ainda desvalorizado e algumas quebras de safra na agricultura por causa do clima, está no horizonte o aumento da taxa de juros também nos Estados Unidos, que afeta a decisão de investidores do mundo todo.

“Os títulos públicos americanos, que são considerados os ativos mais seguros para investimento, vão passar a remunerar mais, e isso atrai os investidores globais, que podem sair de economias emergentes”, diz a analista de investimentos da Toro Investimentos Paloma Brum, que acredita que o fim do ciclo de alta de juros ainda não esteja perto do fim.

“Qual é a forma de segurar o fluxo de saída de capital no País? Justamente subir a Selic. Para cada 0,25% de aumento nos EUA, devemos ter pelo menos o aumento de 1% na Selic, porque nosso País tem um risco elevado (e precisa pagar um prêmio maior aos investidores).”

Renda variável

Embora os títulos de renda fixa fiquem mais atraentes com o aumento da Selic, o investidor também pode encontrar oportunidades de investimento na Bolsa e se beneficiar de um eventual ganho das ações. Em janeiro, por exemplo, o Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa) terminou o mês com alta de quase 7%. 

Continua após a publicidade

João Daronco, analista da Suno Research, acredita que o setor agrícola pode ser um dos mais “fortes e promissores” no médio e longo prazo. “A demanda vem grande parte do mercado asiático, criando uma resiliência aos ciclos nacionais, e uma menor dependência de questões políticas.”

Já o setor que pode sofrer mais neste ano, na opinião dele, é o de varejo e consumo, por causa da inflação alta, crédito mais caro e por se tratar de um setor com baixa barreira de entrada de empresas, inclusive estrangeiras, trazendo mais competição.

Além de olhar o setor, é preciso fazer uma análise individual de cada empresa, lembra Paloma Brum, analista da Toro. “Não é para fazer um investimento em todas as empresas de um setor, senão corre o risco de comprar um papel caro. É preciso fazer um valuation”, diz ela.

Valuation é uma avaliação das empresas, feita por meio de balanços financeiros, para estimar se uma ação está sendo vendida a um preço justo, utilizando como base a capacidade dessa empresa de trazer retorno ao investidor no futuro. 

Para isso, é importante olhar também para a equipe da empresa, para a qualidade da gestão e sua governança corporativa, diz a analista.