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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Copom tem o desafio de comunicar até onde o aperto monetário pode chegar

Ficou menor a probabilidade de o Copom acelerar a alta da Selic com o Orçamento e a retirada de despesas relacionadas à pandemia do teto e da meta fiscal

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Foto do author Fábio Alves
Atualização:

Após o desfecho do Orçamento de 2021, que incluiu a sanção presidencial com vetos parciais e a aprovação de um projeto de lei para retirar despesas relacionadas à pandemia de covid do teto de gastos e da meta fiscal, ficou menor a probabilidade de o Copom acelerar a alta da taxa Selic na sua próxima reunião, mas o desafio mesmo será comunicar até onde o aperto monetário pode chegar.

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Na sua última decisão, em março, o Copom elevou os juros em 0,75 ponto porcentual, para 2,75%, e sinalizou que, se nada de extraordinário acontecesse e que alterasse o balanço de risco para inflação, haveria alta adicional de 0,75 ponto na reunião nos dias 4 e 5 maio. Disse também que a normalização da política monetária seria parcial.

Uma parcela grande de investidores ficou desconfortável com esse recado de normalização parcial e passou a apostar que o Copom iria acelerar a alta da Selic para 1 ponto porcentual em maio. Isso porque eles consideram que houve uma piora da trajetória fiscal e das expectativas de inflação.

O BC não qualificará a solução encontrada para viabilizar a sanção do Orçamento como uma alteração do regime fiscal. Foto: Dida Sampaio/Estadão

É bom lembrar que, entre as razões para elevar os juros mais do que o inicialmente previsto, o Copom citava uma possível quebra do regime fiscal em vigor. Apesar de terem se acalmado com a sanção presidencial do Orçamento de 2021, encerrando uma incerteza que vinha afetando os preços dos ativos, muitos investidores não gostaram do desfecho dessa novela e consideraram que a solução deixou o Brasil mais frágil e vulnerável do ponto de vista fiscal nos próximos anos, especialmente quanto à dívida pública.

Todavia, muito provavelmente, o BC não qualificará a solução encontrada para viabilizar a sanção do Orçamento como uma alteração substancial do regime fiscal, afirmando que a situação ainda está sob controle, pois as despesas extras relacionadas à pandemia são gastos não recorrentes. E os últimos índices de inflação vêm surpreendendo para baixo. Portanto, a alta adicional da Selic em 0,75 ponto, sinalizada em março, continua válida para a próxima reunião.

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O xis da questão será explicar de forma mais detalhada, no comunicado e na ata do Copom, como se dará exatamente a normalização parcial da política monetária.

Se entregar em maio um aumento de 0,75 ponto, levando a Selic para 3,50%, o Copom terá feito uma boa parte do caminho de volta, desde que baixou os juros para 2,0%. A Selic estava em 4,25% em fevereiro de 2020, antes do início da pandemia. Se quiser remover rapidamente o estímulo monetário e demonstrar maior cautela com o cenário adiante, o Copom sinalizaria, então, outra alta da Selic em 0,75 ponto na reunião de junho, trazendo a taxa para 4,25%.

Se imaginarmos que os juros reais neutros – que não pressionam a inflação nem esfriam a economia desnecessariamente – do Brasil estão ao redor de 3%, mais uma meta oficial de inflação de 3,50% (em 2022), a taxa nominal de juros precisaria subir a 6,50% para uma normalização total da política monetária.

A mediana das apostas dos analistas consultados na pesquisa Focus aponta para uma Selic a 5,50% no fim deste ano. Portanto, por enquanto, o consenso desses analistas é de que o Copom levará a Selic para uma taxa entre o nível pré-pandemia, de 4,25%, o que apenas retiraria todo o estímulo adotado, e o patamar que representaria uma normalização total da política monetária, ao redor de 6,50%.

Mas, neste momento, a expectativa inflacionária é a questão crucial para o Copom decidir em quanto elevará a Selic neste ano. A mediana das projeções de inflação vem subindo rapidamente, porém mais importante ainda é que as estimativas para 2022 – o horizonte relevante para política monetária – também começaram a se distanciar da meta.

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Na mais recente pesquisa Focus, a previsão do IPCA em 2021 subiu para 5,01%, bem acima da meta de 3,75%. E o consenso da estimativa para 2022 já está em 3,60%.

Diante da piora do sentimento do mercado sobre a perspectiva fiscal e de uma possível retomada mais forte da economia com o avanço da vacinação contra covid, gerando pressão de demanda, não se pode descartar que a expectativa de inflação para 2022 siga subindo até ao redor de 4,0%. Esse cenário, seguramente, exigirá cautela adicional do Copom ao sinalizar seus próximos passos.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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