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Copom: viés será usado se dólar recuar

O Copom decidiu manter a Selic em 18,5% ao ano. A surpresa foi a colocação do viés de baixa, que poderá ser usado, caso as cotações do dólar recuem. O problema é que existem muitas incertezas em relação ao cenário político e à divida pública, o que dificulta a confirmação desse cenário.

Por Agencia Estado
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 18,5% ao ano. A manutenção da taxa era esperada pela maioria dos analistas consultados pela Agência Estado, mas houve surpresa com a colocação do viés de baixa. Isso significa que o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, pode reduzir a Selic antes da próxima reunião do Copom, em 16 e 17 de julho. De acordo com o economista-chefe do banco Inter American Express, Marcelo Alain, o viés de baixa poderá ser usado caso as cotações do dólar recuem. ?Isso depende de vários fatores, como uma melhora do pré-candidato pelo PSDB, José Serra, nas pesquisas de intenções de voto, uma entrada maior de dólares para o País e mesmo uma atuação eficiente do Banco Central no mercado cambial?, afirma. Diferentemente da última reunião, quando nem todos os membros do Comitê votaram pela manutenção da Selic, o resultado deste mês foi unânime entre os oito integrantes do Comitê. O motivo apontado para a decisão de manutenção da Selic foi o ?quadro conjuntural ainda muito adverso?. Segundo a nota divulgada ao final da reunião, os dados recentes da inflação e as perspectivas para 2003 são favoráveis. Inflação é menos preocupante A explicação do Comitê para a manutenção da Selic vai ao encontro da análise feita pelo gestor de fundo de renda fixa da Unibanco Asset Management, Guilherme Menin Gaertner. Segundo ele, se o Comitê analisasse apenas o comportamento da inflação, haveria espaço para uma redução dos juros, de 0,25 ou 0,50 ponto porcentual. ?Essa possibilidade não se confirma, pois houve uma piora do quadro desde a última reunião, com forte alta do dólar e elevação da taxa de risco-país?, afirma. A definição da política monetária tem como principal objetivo o cumprimento da meta de inflação, que neste ano é de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a meta de inflação, está em 2,51% no acumulado do ano e já dá sinais de recuo. Em maio, por exemplo, o Índice apontou a menor alta do ano, em 0,21%. No mês anterior, abril, estava em 0,80%. Quadro conjuntural desfavorável Já o quadro conjuntural passou a apresentar números desfavoráveis para a redução de juros. Na última reunião do Copom, no dia 22 de maio, o dólar comercial fechou cotado a R$ 2,5250. Ontem, no encerramento das operações, a moeda norte-americana foi vendida a R$ 2,7140. A alta no período foi de 7,48%. Já a taxa de risco-país, que mede a confiança dos investidores na capacidade de pagamento da dívida do país, estava em 959 pontos. Hoje, às 14h55, estava em 1.357 pontos. Essa taxa é calculada pela diferença entre os juros pagos pelo governo norte-americano e taxa paga pelo governo brasileiro na captação de recursos no exterior. É fato que, se há risco maior em um título público de um país, o investidor pede juros maiores para compensar esse risco. Com isso, aumenta a diferença entre os juros norte-americanos e as taxas pagas pelo país. O resultado é esse aumento da taxa de risco-país. Os C-Bonds, principais títulos da dívida brasileira negociados no exterior, também apresentaram um desempenho negativo desde a última reunião do Copom. No dia 22 de maio, eram negociados a 75,000 centavos por dólar. Ontem fecharam o dia em 65,625 centavos por dólar. Nesse período, a desvalorização foi de 12,50%. ?O Comitê não teria outra opção, além da manutenção da Selic. A taxa de juros poderia até subir, caso o único objetivo fosse adequá-la ao comportamento dos outros ativos. Mas, nesse caso, haveria conseqüências muito negativas, como o encarecimento da dívida pública do País?, afirma o diretor da Unibanco Asset Management. Incertezas Gaertner destaca que a elevado endividamento do País é a principal preocupação dos investidores nesse momento. A fase de transição na presidência da República potencializa o problema, pois aumentam as incertezas em relação à administração da dívida pública. ?Se o País não precisasse de financiamento para fechar suas contas, a mudança de governo seria mais tranqüila?, afirma. O fato é que esse quadro conjuntural negativo leva os investidores a refugiarem-se em ativos considerados seguros, como o dólar. A pressão de alta sobre a moeda norte-americana pode influenciar o comportamento da inflação, dado que há um aumento nos preços dos insumos e produtos importados. Esse cenário, se confirmado, inibe a redução dos juros. Além disso, o dólar em alta eleva a dívida do País corrigida pela moeda norte-americana. Os investidores ficam mais inseguros em relação à saúde financeira do País e exigem juros mais altos para emprestar dinheiro ao País. O resultado é uma nova alta da taxa de risco-país, pressão sobre o dólar e desvalorização dos títulos brasileiros. Ou seja, a crise de confiança do investidor gera um círculo vicioso e, diante das incertezas em relação ao encaminhamento da sucessão presidencial, não há nenhuma previsão de quando esse período de nervosismo chegará ao fim. As previsões para o dólar até o final do ano demonstram essa incerteza. Segundo Gaertner, da Unibanco Asset Management, as cotações para o dólar podem oscilar de R$ 2,50 a R$ 3,00, dependendo do cenário político. ?E ninguém afirma que esse seja o patamar máximo?, afirma. Não deixe de ver no link abaixo as dicas de investimento, com as recomendações das principais instituições financeiras, incluindo indicações de carteira para as suas aplicações, de acordo com o perfil do investidor e prazo da aplicação. Confira ainda a tabela resumo financeiro com os principais dados do mercado.

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