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Coronavírus já ameaça produção de fábricas no Brasil

Pelo menos 11 fabricantes de eletroeletrônicos estudam paralisações em suas linhas nas próximas semanas por causa da falla de matéria-prima importada do país asiático

Por Douglas Gavras
Atualização:

A crise do coronavírus na China já ameaça a produção de fábricas no Brasil, pelo risco de faltar matéria-prima importada do país asiático. Até o momento, 11 fabricantes de eletroeletrônicos estudam paralisações em sua produção nas próximas semanas, como reflexo da falta de componentes, materiais e insumos chineses.

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O levantamento é da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e também aponta que, até a última quarta-feira, de 50 empresas do setor, 26 relataram algum problema no recebimento de itens importados. A percepção é ainda mais forte entre fabricantes de produtos de tecnologia de informação, como celulares e computadores.

Mesmo os fabricantes que ainda não sentiram a falta de importados dizem que, se o abastecimento de componentes e insumos não se normalizar nos próximos 20 dias, será muito difícil conseguir manter o ritmo de atividade das fábricas nos próximos meses.

No último dia 31 de janeiro, o sindicato dos metalúrgicos de Jaguariúna (SP) recebeu um aviso de férias coletivas para os funcionários da Flextronics, responsável pela produção de celulares da Motorola. Segundo a entidade, a paralisação deve afetar 80% da fábrica.

A empresa justifica a paralisação pela grave crise de saúde que acomete a China, e por contar com os insumos importados do país para a fabricação de seus produtos no Brasil.

“Além do mais, é importante a eventual cessação temporária das atividades, a fim de evitar que as autoridades daquele país concluam se existe ou não a possibilidade de transmissão do vírus por meio das importações”, segue a empresa.

No ano passado, 42% das importações de componentes elétricos e eletrônicos vieram da China, um total de US$ 7,5 bilhões. Ao se considerar os demais países asiáticos, essa proporção de compra de mercadorias chega a 80%, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).

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Segundo o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, a preocupação é grande com a possível parada do setor e a situação está sendo monitorada pelas empresas.

Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi: empresa teve de mexer na linha de produção. 

Contágio

Em outros setores que usam eletrônicos importados em seus produtos, o impacto também já é percebido. Na fabricante gaúcha de sapatos Bibi, o impacto das importações da China travou a produção de uma linha de calçados infantis que usa um par de lâmpadas de LED, que acendem quando a criança pisa no chão.

Sem poder contar com o produto chinês, a empresa passou a priorizar uma outra linha de produtos. “O fornecedor nos disse que eles tiveram de adiar em uma semana a volta do feriado do Ano-Novo Chinês, no fim de janeiro. Nosso estoque desse componente não estava zerado, mas, com isso, a produção deve demorar quase um mês para voltar. Em algumas regiões do País há mais problemas com o envio de importados do que em outras”, disse a presidente da Bibi, Andrea Kohlrausch.

Ela conta que executivos da companhia, que também vende calçados prontos para a China, faria uma viagem este mês ao país, mas adiou a visita.

Além dos eletroeletrônicos, o setor químico, o de máquinas e equipamentos e o têxtil estão entre os segmentos que mais importaram produtos do país asiático no ano passado, ainda segundo a Secex/Mdic. Procuradas, as associações responsáveis disseram ao Estado que estão acompanhando os desdobramentos da crise sanitária na China, mas que o coronavírus ainda não afetou as empresas desses setores.

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