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Corporações não vivem seus melhores dias nos EUA

População acredita menos nas grandes empresas americanas do que nas notícias da TV

Por Agencia Estado
Atualização:

A aprovação, por apenas um voto de diferença, do aumento do teto da dívida pública dos Estados Unidos em US$ 540 bilhões pela Câmara de Representantes, na última quinta-feira, poupou a administração Bush de fazer malabarismos contábeis com as contas federais. O sempre franco secretário do Tesouro, Paul O´Neill, disse que se a decisão dos deputados, por 215 a 214, tivesse sido contrária ao aumento do limite da dívida federal para US$ 5,95 bilhões, o governo teria que ter recorrido a "artifícios contábeis duvidosos e potencialmente fraudulentos" para evitar um impensável calote dos EUA em sua dívida pública. Numa advertência aos congressistas, O´Neill disse que o governo federal deve evitar a todo custo ser colocado numa posição em que possa ser acusado "das horrendas políticas e práticas contábeis" que alimentam um escândalo crescente entre grandes corporações empresariais americanas. "Imagine a cena de o secretário do Tesouro indo para a cadeia por usar artifícios contábeis fraudulentos", disse o líder da maioria no Senado, Tom Daschle, procurando capitalizar politicamente a declaração de O´Neill. Os comentários de O´Neill e Daschle dificilmente ajudarão a restaurar a confiança do público na economia e no mercado. O efeito dos escândalos quase que diários envolvendo a contabilidade de grandes empresas começa a ficar claro nas pesquisas. De acordo com uma sondagem Gallup, hoje a confiança dos americanos nas grandes corporações - o "big business" - está em 20%, seu ponto mais baixo em 21 anos. O índice caiu em um terço nos últimos três anos e está pior hoje do que a confiança do público nas notícias da televisão e nos sindicatos, tradicionais lanterninhas de pesquisas sobre credibilidade nos EUA. Os escândalos da WorldCom, que registrou quase US$ 4 bilhões de despesas como investimentos, e da Xerox, que martelou US$ 6 bilhões em seus balancetes nos últimos cinco anos, não foram os primeiros e não serão os últimos, avisam os estudiosos das bandalheiras do setor privado. "Isso é tudo muito típico", disse ao Washington Post o professor Eugene White, da Universidade Rutgers, que editou um livro recente sobre a história dos colapsos em bolsa e dos pânicos financeiros. Segundo ele, durante a euforia dos anos de crescimento, os lucros crescentes e a valorização das ações ajudam a esconder os problemas e fazem os executivos se convencerem de que o crescimento mais rápido do ano seguinte resolverá todas as dificuldades do momento com uma varinha mágica. Quanto mais longa a expansão, mais eles se convencem da inevitabilidade do sucesso e mais dispostos se sentem a usar práticas contábeis heterodoxas ou abertamente ilegais, porque os benefícios imediatos parecem ser infinitamente maiores do que o risco de serem apanhados. Se White estiver correto, os escândalos continuarão e, com eles, as indagações sobre seus efeitos para a economia americana. As grandes interrogações foram resumidas pela revista Business Week em sua última edição. "Somos todos tolos?", perguntou o maior e mais influente semanário de negócios nos EUA. "Teremos nós comprometido nosso futuro comprando a idéia do mundo corporativo americano sobre (as virtudes de) uma sociedade dirigida pelo mercado, apenas para ser enganado por um comportamento corrupto e antiético em escala inimaginável?" A curto prazo, a dúvida mais relevante é sobre o impacto dos escândalos no mercado acionário e, por tabela, no crescimento da economia. Preocupado com as conseqüências que as más notícias na economia podem trazer para os republicanos nas eleições legislativas de novembro, e para sua própria campanha à reeleição, em 2004, o presidente George W. Bush finalmente quebrou seu silêncio na semana passada. Tendo dito inicialmente que os escândalos mostravam apenas que há "algumas maçãs podres" no mundo empresarial, Bush declarou-se "indignado" e "profundamente preocupado com algumas práticas contábeis na América" depois da denúncia da gigantesca fraude na WorldCom. Embora os investidores continuem avessos ao risco - o índice Nasdaq fechou o segundo trimestre com uma perda de 20%, e o Dow Jones, de 11% -, os escândalos da WorldCom e na Xerox não provocaram pânico. Mas o consenso entre analistas é de que as bolsas continuam supervalorizadas, o que só aumenta a ansiedade financeira dos americanos diante de uma economia que, não fosse os escândalos, provavelmente já teria decolado rumo à expansão mais vigorosa sugerida pelos indicadores publicados nas últimas semanas.

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