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CORRETORAS MIRAM IMIGRANTES NA EXPANSÃO DO SERVIÇO DE REMESSAS

Comunidades de bolivianos e haitianos já possuem correspondentes das corretoras onde é possível enviar dinheiro a familiares de outros países; com alta de 89,8% em 12 meses, volume de remessas bateu recorde em agosto

Por Yolanda Fordelone
Atualização:
Juan Marcelo Cabello possui esposa e filha brasileiras, mas envia dinheiro para parentes na Bolívia Foto: Yolanda Fordelone/Estadão

No último 6 de agosto, bolivianos que foram ao Memorial da América Latina comemorar os 189 anos da independência do país puderam não só ver desfiles e bandas com música tradicional como também enviar dinheiro para os familiares que ainda vivem na Bolívia, via o serviço de remessa. O Remessa Expressa, serviço da corretora Cotação, participou das celebrações com um stand, mas além dele outras corretoras tentam cada vez mais entrar nas comunidades de imigrantes no Brasil como estratégia de aproximação com este público.

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O valor enviado ao exterior via remessas aumentou 89,8% em um ano, segundo dados do Banco Central (veja infográfico abaixo). Desde abril, as remessas somam mais de R$ 100 milhões por mês, batendo recordes consecutivos de volume. A Bolívia, com seus quase 80 mil imigrantes no Brasil, figura como um dos principais destinos da remessa. O país vizinho possui um quarto da população da Argentina, mas no Brasil a comunidade boliviana supera em 27 mil membros o número de argentinos.

Para as corretoras, tal imigração acabou formando um mercado importante de remessas, já que muitos familiares ficam no país de origem e dependem do dinheiro enviado para sobreviver. O investimento das corretoras na ampliação do número de pontos de remessa é constante. Pela Remessa Expressa, é possível realizar a transferência em algumas lojas da própria corretora, mas também em lojas parceiras, que podem ser lan houses, locutórios (empresas de serviço onde é possível fazer, por exemplo, ligações internacionais), varejistas do setor têxtil, cabeleireiros, agências de turismo e de venda de passagens e outras. "A aproximação do local onde o imigrante mora ou trabalha facilita o serviço, pois a pessoa não tem de se deslocar para longe para fazer a remessa", diz o diretor da Cotação, Alexandre Fialho. 

Na Cotação, a quantidade de remessas cresceu 65% em julho deste ano em relação a julho de 2013, muito em função da ampliação de parceiros nas comunidades, segundo Fialho. O correspondente ganha na fidelização do cliente, já que passa a oferecer mais um serviço ao imigrante, e também financeiramente, pois recebe uma comissão por cada remessa que faz. "A demanda é tão grande que, para alguns correspondentes, o serviço se torna a principal fonte de receita no começo", diz Fialho.

Na Western Union, é possível fazer o envio de dinheiro em 13 mil pontos no Brasil. Para se aproximar do público, além de participar de comemorações locais como festas folclóricas, foram feitas parcerias com redes do varejo como Riachuelo e Gazin. "O mercado de remessas está intimamente ligado a dinâmica da imigração. A partir de 2007, em função do boom da economia e do pleno emprego pelo qual o País passou, o Brasil se tornou um polo atrativo de imigrantes", explica o diretor de desenvolvimento de negócios para América Latina da Western Union, Luiz Eduardo Citro. 

No ano passado, o mercado de remessas movimentou US$ 580 bilhões. "Se fosse um país, seria o 21º PIB mundial, a frente de nações como Suécia e Noruega", compara Citro, que também é presidente da Associação Brasileira das Empresas Prestadoras de Serviços de Micro-Transferência de Dinheiro (ABM Transf).

Envio seguro. Os ganhos dos imigrantes ao utilizar o serviço são na agilidade - as corretoras afirmam que em até uma hora o familiar já pode retirar o dinheiro em algum ponto parceiro no país de destino - , além da segurança do envio. Foi justamente isso que levou o boliviano Juan Marcelo Cabello, há oito anos no Brasil, a começar a utilizar a remessa. 

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"No começo fiz uma transferência para uma pessoa que repassava o dinheiro na Bolívia para meus familiares, mas não senti segurança no sistema. Anotavam o valor em um caderno, não tinha comprovante", diz Cabello. Com esposa e filha brasileiras, há seis anos o médico boliviano de 37 anos passou a usar a remessa para enviar mensalmente de US$ 1 mil a US$ 1.300 para os pais e irmã que moram em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). "Há meses de emergência em que transfiro mais", comenta.

Além de toda a operação ser registrada, outra medida de segurança adotada pelo mercado é informar no momento da operação o nome e os dados de quem irá sacar o dinheiro, o que inibe desvios do valor. Em média, a remessa custa 5% do valor transferido e tem IOF de 0,38%. O tempo para poder sacar varia de acordo com o local de destino, mas em geral em menos de 24 horas o dinheiro fica disponível. O saque pode ser feito em algum agente conveniado, como instituições financeiras ou mesmo lojas parceiras.

Comunidades. Cabello soube do serviço de remessa por conhecidos na Rua Coimbra, local onde se concentra a comunidade e onde há até uma feira boliviana, na qual a Remessa Expressa participa com correspondentes. Se o imigrante quiser ir até uma loja da corretora ao invés de enviar o dinheiro pelo correspondente, ele não precisa andar muito. A proximidade com a comunidade fez com que a Remessa Expressa abrisse, por exemplo, uma loja de remessa no Shopping D, na qual a maior parte do público é formada por imigrantes residentes do Brás e Pari. 

Para tentar ganhar a confiança do cliente, alguns atendentes são inclusive de outros países que falam espanhol, como Bolívia e Peru. Outra estratégia de aproximação se dá na divulgação do serviço. No jornal em espanhol El Chasqui, que circula nas comunidades de imigrantes, a Cotação faz alguns anúncios.

Irmãos Demnhis e Ruben Cuello Aponte fazem remessas para o Peru Foto: Yolanda Fordelone/Estadão

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A maior divulgação, porém, ainda se dá no boca a boca, por conhecidos e familiares que utilizam o serviço. Os irmãos peruanos Demnhis e Ruben Cuello Aponte conheceram o serviço por meio de um terceiro irmão que já morava no Brasil e fazia remessas. Demnhis está aqui há um ano e Ruben há dois e enviam dinheiro a familiares, como esposa e irmã, que moram em Piura (Peru).

Em geral transferem cerca de US$ 500. As remessas de imigrantes costuma ter um ticket médio mais baixo do que a de brasileiros, segundo as corretoras. Na Confidence, por exemplo, a média é de US$ 400 contra US$ 3 mil nas remessas feitas por brasileiros. Na Cotação, a média é de US$ 300. 

Até o começo deste ano, a Confidence atuava com remessas entre brasileiros. No grupo entram, por exemplo, pais que têm um filho estudando no exterior. Em março, das 130 lojas da Confidence no Brasil, 70 começaram a fazer a remessa "cash to cash", a mais utilizada por imigrantes. Nesse tipo de remessa, a pessoa vai com o dinheiro vivo fazer o envio e quem saca no país de destino também pega o valor em moeda local. A remessa também pode ser feita, porém, para uma conta bancária no exterior. 

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Desde que começou a atuar com os imigrantes foram feitas mais de 22 mil remessas, ultrapassando uma média mensal de 5 mil operações. "Foi surpreendente o crescimento. Atualmente estamos estudando as comunidades de imigrantes para tentar expandir o serviço para outras lojas e pontos específicos", diz o vice-presidente da Confidence, Andreas Wiemer. 

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