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Corte na Selic é certo. Falta só saber quanto

Na avaliação de analistas, diante da crise, Copom poderá optar por redução de até 1 ponto porcentual

Por Leandro Mode e Fabio Graner
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reúne-se na terça e na quarta-feira para chancelar uma ?decisão? amplamente antecipada pelo mercado: a queda da taxa básica de juros (Selic). Desde que a crise global se agravou, em setembro passado, com a quebra do banco americano Lehman Brothers, o Brasil é um dos dez países, em um universo de 52, que não reduziram o juro básico, segundo levantamento da LCA Consultores. Sete elevaram as taxas e os outros 35 as reduziram. O recuo dos juros futuros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) de dezembro para cá é tão expressivo que a taxa real, que desconta a inflação projetada para os 12 meses seguintes, já é a mais baixa desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, em janeiro de 2003. Segundo levantamento da Tendências Consultoria, feito a pedido do Estado, essa taxa está em 6,3% ao ano. Quando Lula assumiu, era de 16,5% ao ano. Apesar disso, o juro brasileiro ainda é o mais alto do mundo, tanto em termos reais quanto nominais (medida que não desconta a inflação). Aos 13,75%, a Selic é a segunda maior taxa básica do planeta, atrás apenas da Venezuela. A única dúvida que ainda resta sobre a reunião desta semana do Copom está relacionada ao tamanho do corte da Selic, que, na avaliação de analistas, pode ser de 0,50, 0,75 ou até 1 ponto porcentual. "Se há 20 dias tivéssemos levantado a hipótese de uma redução de 0,75 ponto, todos ririam da nossa cara", diz o ex-presidente do BC Ibrahim Eris. "Hoje, 0,75 ficou perfeitamente viável e até mesmo a hipótese de uma queda de 1 ponto não deixa ninguém chocado." Segundo Eris, isso se deve à velocidade com que o cenário econômico está se deteriorando no Brasil. Na semana passada, o IGP-10, um dos índices de inflação mensurados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou queda de 0,85% em janeiro, a maior da série histórica iniciada em 1993. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que as vendas no varejo recuaram 0,7% ante outubro, resultado pior que o esperado. Com a inflação em franca desaceleração e a atividade econômica embicando para baixo, o único fantasma que rondava o BC era a alta do dólar. No comunicado divulgado após a sua reunião de dezembro, o Copom deixou claro que não mexeu no juro por ainda temer o efeito da desvalorização do real na inflação. Normalmente, uma alta de 10% do dólar provoca uma elevação de 1 ponto porcentual nos Índices de preços ao consumidor (IPCs). Desta vez, porém, ao menos até o momento, esse efeito não se concretizou. "Os economistas tiveram dificuldades para entender (o cenário) porque olhavam para fenômenos já conhecidos de conjuntura; este não é", diz o professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos economistas mais consultados pelo presidente Lula. "Quem apostou no que já era conhecido se atrapalhou e escreveu coisas que não deveria." Na avaliação de Belluzzo, desde que o Brasil se industrializou, nunca houve uma crise como a atual. Segundo o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, a forte queda dos preços das commodities nos últimos meses compensou largamente a disparada da moeda americana de setembro para cá (43,5%). Por isso, diz ele, o caminho está aberto para reduções da Selic. Para esta reunião, Loyola acredita num corte de 0,75 - embora a projeção ?oficial? da consultoria Tendências, da qual ele é sócio, seja de 1 ponto porcentual. O professor da FGV Márcio Holland vai além. "Se for para cortar menos que 1 ponto porcentual, é melhor não fazer nada", afirma. Em 2007, Holland escreveu, em parceria com Edmar Bacha (um dos ?pais? do Plano Real) e Fernando Gonçalves, um estudo segundo o qual a taxa de juros no Brasil era muito mais alta que o necessário. Holland está pessimista com a conjuntura econômica. "Para o Brasil conseguir crescer 2% este ano, será preciso uma forte redução do juro", diz ele, que já foi chamado de "Roubini brasileiro". Nouriel Roubini, um economista de origem turca radicado nos Estados Unidos, é conhecido por suas projeções pessimistas e por ter antecipado a crise global. GOVERNO Apostas para o Copom à parte, o presidente Lula será o primeiro a receber informações sobre o cenário macroeconômico que será considerado nas discussões da diretoria do BC. Segundo fontes do Planalto, Lula conversará com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, antes da reunião. Essa conversa, observa um interlocutor do Planalto, sempre acontece e antecede as reuniões. Uma atitude mais ousada do BC - com um corte de um ponto porcentual - é defendida por integrantes do governo. Desta vez, o BC não deu nenhuma pista do tamanho do corte. A única referência é o próprio comunicado da última reunião, em dezembro, que deixou clara a trajetória de queda. Diante desse cenário, a pressão sobre o colegiado, por parte do Ministério da Fazenda e dos demais "desenvolvimentistas" do governo, é muito menor do que em outras reuniões. "Mas seria bom que o BC fosse radical e cortasse um ponto na taxa. Condições para isso há", disse uma fonte. Um corte maior seria entendido como sinal inequívoco de que o governo está totalmente focado na meta de fazer a economia crescer 4% este ano, apesar da crise. FRASES Ibrahim Eris Ex-presidente do BC "Se há 20 dias tivéssemos levantado a hipótese de uma redução de 0,75 ponto, todos ririam da nossa cara. Hoje, 0,75 ficou perfeitamente viável e até mesmo a hipótese de uma queda de 1 ponto não deixa ninguém chocado" Luiz Gonzaga Belluzzo Professor da Unicamp "Os economistas tiveram dificuldades para entender (o cenário) porque olhavam para fenômenos já conhecidos de conjuntura. Este não é. Quem apostou no que já era conhecido se atrapalhou e escreveu coisas que não deveria"

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