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Bolsa resiste à 'PEC kamikaze' e fecha em alta, aos 112 mil pontos; dólar sobe

Medida permite que governo reduza os impostos sobre combustíveis em 2022 e 2023, sem compensação fiscal; bom desempenho dos índices de Nova York ajudou o mercado nacional

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Por Redação
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A Bolsa brasileira (B3) fechou em alta de 0,49%, aos 112.244,94 pontos nesta sexta-feira, 4, apesar do clima pouco favorável aos negócios, especialmente depois de um senador apresentar um projeto que permite reduzir os impostos sobre os combustíveis em 2022 e 2023, sem compensação fiscal. Em Nova York, os ganhos do Nasdaq e do S&P 500 ajudaram o mercado nacional, enquanto no câmbio, o dólar avançou 0,50%, a R$ 5,3220.

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A PEC dos Combustíveis foi apresentada hoje pelo senador Carlos Fávaro (PSD-MT). O texto, mais amplo que o do deputado Christino Áureo (PP-RJ), inclui o pagamento de um auxílio-diesel mensal de R$ 1.200 a caminhoneiros autônomos por até dois anos, subsídios ao transporte público e aumento da cobertura do vale-gás a famílias de baixa renda. O impacto fiscal seria superior a R$ 100 bilhões, de acordo com projeções iniciais da equipe econômica.

A segunda proposta de PEC sobre combustíveis caiu como uma bomba no Ministério da Economia. Nos bastidores da pasta, o texto apresentado pelo senador Carlos Fávaro ganhou o apelido de “PEC kamikaze”, em uma referência aos pilotos japoneses que usavam seus aviões como bomba na Segunda Guerra Mundial.

Ganho do mercado de Nova York ajuda Bolsa a se distanciar dos impactos negativos da PEC Kamikaze. Foto: Werther Santana/Estadão

"A mais recente movimentação em torno da questão dos combustíveis coloca em xeque a 'carta branca' dada por Bolsonaro, nesta última semana, para que a equipe econômica prevaleça sobre outras áreas no tocante ao tema. Com o envio de uma proposta patrocinada pela Casa Civil e muito mais ampla do que deseja Guedes e sua equipe, fica claro que o debate está bastante aberto sobre qual texto deve avançar no Congresso", diz em nota a Levante Investimentos.

"A PEC gera um forte perda de arrecadação, além de minar ainda mais a credibilidade das regras fiscais. Além disso, isso não deveria levar a uma política monetária mais leniente, pois o impacto baixista sobre a inflação seria decorrente de uma "canetada" em preços administrados, sem contar que, mais a frente, os tributos teriam que ser recompostos", explica o estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein​.

Um operador de renda fixa também vê uma posição defensiva do mercado por causa da PEC. "Essa PEC dos Combustíveis a gente sabe onde vai parar. É ruim para todos os ativos, é populismo puro, termina mal querer controlar artificialmente o preço da gasolina. Vai diminuir um pouco o preço, mas olha como está o petróleo? Vai bater US$ 100", diz.

No entanto, o governo segue pressionado para achar uma solução, especialmente diante da alta do petróleo, com o Brent para abril em alta de 2,37% e o WTI para março, de 2,26%. Em resposta, Petrobras ON e PN subiram 1,79% e 1,75% cada, enquanto PetroRio teve ganho de 7,34%. Entre as ações de grande peso, Santander avançou 1,32% e Bradesco, 0,6%. Vale teve alta de 2,62%.

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Apesar do desempenho de hoje, o Ibovespa fecha a semana com ganho de 0,30%, acumulando leve alta de 0,09% em fevereiro, colocando o ganho do ano a 7,08%. O maior apoio do índice hoje veio de Nova York, apesar da sessão marcada pela instabilidade. Hoje, o S&P 500 subiu 0,52%, enquanto o Nasdaq avançou 1,58%, diante da boa aceitação dos números trimestrais da Amazon, que registrou lucro de US$ 14,3 bilhões. Hoje, os papéis da empresa fecharam em alta de 13,54%. Em contrapartida, o Dow Jones oscilou para o negativo no final do pregão e caiu 0,06%. 

Os índices acionários americanos ganharam maior fôlego perto do final do pregão, com os investidores repercutindo positivamente a aprovação da lei "América Compete" pela Câmara dos Representantes, cujo aporte é de US$ 350 bilhões. Segundo o presidente americano, Joe Biden, a aprovação da lei é "crucial" para que o país supere a competitividade da "China e de outras nações no século XXI". Segundo ele, "empresas e trabalhadores elogiaram essa legislação como vital para continuar o impulso econômico que vimos no ano passado".

Câmbio

Além da PEC dos Combustíveis, o relatório de vagas de emprego dos Estados Unidos em janeiro (payroll) estimulou uma corrida por dólares nesta sexta, e a moeda frente a divisas emergentes. No começo dos negócios, o mercado de câmbio intercalou alta e baixa moderada em meio ao petróleo forte e o dólar misto no exterior, caindo ante moedas principais como libra e iene, mas subindo ante pares emergentes do real ligados a commodities.

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O documento apontou criação de 467 mil empregos, bem acima das previsões de 150 mil novas vagas, aumentando as apostas do mercado em um Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mais agressivo. "O payroll sacramenta a alta de juros nos EUA em março e ainda dá espaço para parte do mercado falar que o Fed pode começar com 0,50 (ponto porcentual), embora a grande aposta ainda seja de 0,25 (ponto porcentual)", afirma Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos.

Segundo levantamento do CME Group, o porcentual das apostas para uma elevação como descrita pela Capital cresceu de 14,3% ontem para 21,1% após o payroll. Já o Goldman Sachs decidiu não realizar alterações em sua projeção de cinco altas de juros em 2022.

Segundo o diretor da corretora Ourominas, Mauriciano Cavalcante , com a possível alta mais forte dos juros nos EUA e com o Copom indicando alta menor da Selic em março, o fluxo cambial de estrangeiro deve diminuir para o Brasil e outros países emergentes, com busca de maiores retornos em Treasuries - títulos da renda fixa americana -, e no dólar.

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A chance de um aperto nos juros já em março, que pode promover ainda a fuga de capital dos ativos de risco, pesou no mercado europeu. O índice Stoxx 600, que concentra as principais empresas da região, caiu 1,38%, a Bolsa de Londres cedeu 0,17%, a de Frankfurt, 1,75% e a de Paris, 0,77%.

Apesar da alta de hoje, a moeda encerra a semana em queda de 1,26%. Na semana passada, quando o dólar se situou abaixo de R$ 5,40, as perdas foram de 1,20%. No ano, a desvalorização acumulada é de 4,55%. No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis moedas fechou em leve alta. O dólar subiu em bloco frente a divisas emergentes e de exportadores de commodities, como raras exceções, como o rublo.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que, além do payroll forte, o dólar é pressionado pelo que chama de "flexibilização fiscal" no Congresso, com apresentação de PECs que representam perda de arrecadação. "Existe um movimento da base política do governo para aumentar gastos e reduzir impostos, o que piora o fiscal", diz. /ANTONIO PEREZ, SILVANA ROCHA, MAIARA SANTIAGO E LUÍS EDUARDO LEAL

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