14 de abril de 2021 | 15h54
Atualizado 14 de abril de 2021 | 18h35
A Bolsa brasileira (B3) fechou em alta de 0,84%, aos 120.294,68 pontos nesta quarta-feira, 14, completando a sua terceira alta seguida e também no maior patamar desde o dia 17 de fevereiro. O bom desempenho hoje, assim como nos principais índices do exterior, veio na esteira do resultado positivo dos balanços do primeiro trimestre do setor financeiro americano. Nesse cenário, o dólar teve um dia mais ameno no mercado global, encerrando por aqui com queda de 0,82%, cotado a R$ 5,6705.
"O avanço das commodities continua acontecendo, globalmente, com base na expectativa de uma retomada mais forte da economia americana. Os resultados no primeiro trimestre de grandes bancos, como Goldman Sachs e JP Morgan, um setor cíclico, reforçam a perspectiva positiva para o ano nos Estados Unidos", observa Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. No mercado, a percepção é de que a economia americana está se recuperando do pior momento da crise.
"Os resultados um pouco acima do esperado dos bancos também corroboram a percepção de que a economia americana tem se recuperado bem rápido", diz Leonardo Milane, economista e sócio da VLG Investimentos. Nesse cenário, agradou a declaração de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de que, mesmo com o cenário favorável, a entidade monetária não pretende alterar sua política de estímulos antes de 2022, movimento que favorece principalmente os mercados emergentes.
Porém, Lucci chama atenção para outro ponto: apesar da recuperação do Ibovespa, estendida de março para esta primeira quinzena de abril, o giro financeiro tem se mantido fraco, e a volatilidade, contida, refletindo o grau de incerteza que afeta, em especial, a economia doméstica. Ainda assim, ele identifica busca por "ativo real", especialmente em setores que acompanham a demanda externa, como o de commodities. Aqui, acrescenta Lucci, o apelo das ações reflete ainda o ambiente de juros reais negativos, com o "próximo Copom já precificado". A expectativa, na próxima reunião, é que o Banco Central suba a Selic em mais 0,75 ponto percentual. Atualmente, a taxa está a 2,75%.
"A vacinação está agora em 12% da população e começa a surgir previsão de que, em setembro, boa parte da população adulta esteja vacinada, o que contribui para normalização da economia, naturalmente antecipada pelo mercado ao operar em cima da expectativa", diz Leonardo Peggau, superintendente de renda variável e sócio da BlueTrade, que antecipa Ibovespa a 135 mil pontos no fechamento do ano. Sobre o tema, vale lembrar que hoje, o Ministério da Saúde anunciou que a Pfizer vai antecipar a a entrega de dois milhões de doses do seu imunizante ao Brasil.
Com o bom resultado de hoje, o índice acumula ganho de 3,14% no mês e está, desde ontem, em terreno positivo no ano - hoje, passa a acumular alta de 1,07% em 2021. A mudança de direção, no entanto, ocorre a despeito da persistente preocupação sobre o fiscal - situação agravada por Orçamento ainda indefinido para 2021, sujeito a iniciativas "fura-teto" em meio a uma pandemia que cobra preço alto do ritmo de atividade doméstica e dos gastos públicos.
Ainda a 'menina dos olhos' da Bolsa, o setor de commodities continua sendo o principal responsável pelo desempenho do índice. O destaque hoje fica para Petrobrás, com PN e ON em altas de 1,59% e 1,60% cada, em sintonia com o avanço de mais de 4% dos contratos do petróleo no exterior nesta quarta. Vale também chama atenção, após alta de 3,30% com a ação cotada a R$ 107.
O segmento de siderurgia vem logo atrás, com Usiminas e CSN em altas de 4,21% e 3,17%, respectivamente. O dia favorável para o setor financeiro nos EUA apoiou a melhora de Santander e Itaú, hoje com ganhos de 2,01% e 1,28% cada.
Apesar das incertezas sobre o Orçamento de 2021, o dia sem novos desdobramentos sobre o tema, com o dólar influenciado pelo exterior positivo, permitiu uma folga para o real, que tem sido duramente penalizado pela alta da moeda. Hoje, o dólar para maio fechou em baixa de 1,14%, a R$ 5,6590. Em dia com apetite por risco de emergentes no exterior, após o cenário favorável nos Estados Unidos, operadores relataram entrada de fluxo externo no mercado doméstico e perspectiva de novos aportes, em meio a emissões de ações e renda fixa de empresas.
Com o Ibovespa superando os 120 mil pontos, houve relatos de novos fluxos hoje para o Brasil. Dados do Banco Central desta quarta-feira mostram fluxo cambial de US$ 1,064 bilhão entre os dias 5 a 9 de abril, dos quais US$ 927 milhões pelo canal financeiro. Depois deste período, houve outras operações, como a venda de debêntures da Vale da carteira do BNDES, em operação de R$ 11,5 bilhões, com demanda duas vezes maior que a oferta.
O analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, observa que, diferente de março, abril tem sido marcado por um dólar mais fraco no mercado internacional. E este movimento continuou hoje, com a divisa dos EUA testando mínimas em um mês ante pares como o euro e o dólar canadense. Este movimento beneficia também as moedas de emergentes. No entanto, ele destaca que, para que o cenário favorável continue, a aprovação do Orçamento, dentro das regras, se faz essencial. /LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO
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