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Em espiral negativa, Bolsa cai mais de 1% e fecha no menor nível desde maio

No pior momento do dia, Ibovespa bateu nos 116,2 mil pontos; cautela marcou o pregão de hoje, com investidor à espera da votação da reforma do Imposto de Renda; dólar caiu 0,2%

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Por Redação
Atualização:

Emendando a segunda queda seguida da semana, a Bolsa brasileira (B3) caiu 1,07% nesta terça-feira, 17, fechando aos 117.903,81 pontos - no menor nível de encerramento desde 4 de maio. Hoje, o clima pouco favorável no exterior, com investidores monitorando o avanço da variante Delta do coronavírus, colaborou para aumentar a aversão aos riscos provocada pela votação da reforma do Imposto de Renda, marcada para hoje. No câmbio, o dólar caiu 0,20%, a R$ 5,2701.

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No pior momento do dia, o Ibovespa caiu 2,46%, aos 116.247,81 pontos. O principal índice da B3 rompeu hoje o menor nível desde 9 de abril, quando foi aos 117,3 mil pontos no piso daquela sessão. Na semana, ele cede 2,71%, no mês, 3,20% e no ano, 0,94%. Em Nova York, todos os índices fecharam em queda, afetados pelo avanço da variante Delta da covid. A crise política no Afeganistão também continou no radar.

"O mercado seguiu hoje tendência de queda, acompanhando os de fora, o que contribuiu para acelerar por aqui. A dificuldade em votar, em fazer a reforma tributária, que mais uma vez parece que vai ser postergada; a questão do rompimento de teto de gastos, com que o governo continua a flertar, seja por conta de aumento de programas sociais, seja para enquadrar algum tipo de despesa, isso está trazendo um desconforto bastante grande para os investidores", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

No pior momento do dia, Bolsa caiu aos 116,2 mil pontos, em forte queda de 2,45%. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Em Brasília, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conhecida como bancada ruralista, deputado Sérgio Souza (MDB-PR), disse que a reforma, relatada pelo deputado Celso Sabino (PSDB-PA), "ainda precisa de ajustes". A intenção do relator e do governo é aprovar o texto ainda hoje no plenário da Câmara, porém, há forte resistência no Parlamento à proposta - na quinta-feira passada, a falta de um consenso fez com que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adiasse a votação para hoje.

Porém, Lira voltou a sinalizar que a apreciação do texto em plenário vai depender de acordo com os líderes partidários. O MDB, que tem 34 deputados, já anunciou no Twitter que vai orientar contra a aprovação do texto. Em troca de apoio dos municípios, o governo acertou a aprovação de um conjunto de propostas que resultarão em transferência adicional de R$ 6,5 bilhões ao ano às prefeituras. No entanto, os Estados seguem resistentes ao texto.

No cenário político, pesquisa XP/Ipespe mostrou que a avaliação negativa do governo chega ao seu maior patamar. A leitura é de que os números podem levar a posturas ainda mais radicais ou populistas por parte do presidente Jair Bolsonaro, agravando a crise institucional e os riscos fiscais. Segundo levantamento, 54% dos brasileiros avaliam o governo como ruim ou péssimo e 23% como bom ou ótimo, menor índice já registrado. Os que avaliam o governo como regular somam 20%.

Além das questões internas, os sinais de desaceleramento da retomada de algumas das maiores economias do mundo também preocupa. "Ontem, os dados abaixo do esperado na China, em especial a atividade industrial, não animaram os investidores, abrindo caminho para uma correção. Hoje foi o resultado do varejo americano que trouxe preocupação", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

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Por outro lado, ele destaca a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, que contribuiu, à tarde, para acalmar um pouco o mercado: o dirigente observou que a pandemia ainda está presente, e que deve se manter por algum tempo, em um contexto de retomada gradual da economia.

"A fala deu alívio para os mercados como no Ibovespa, que rapidamente subiu mil pontos após o posicionamento do Fed. Powell segue cauteloso sobre a recuperação da economia e não deve forçar a retirada de estímulos, como vinha sendo precificado pelo mercado", acrescenta o analista da Clear. 

Entre as ações, os papéis de Petrobras, que subiam pela manhã, perderam força, com ON em alta de 0,04%, mas PN sem variação. Já Vale ON cedeu 1,65% e Santander, 0,62%. Destaque para fortes quedas em siderurgia, em especial para Usiminas PNA, com 5,09%. Na ponta negativa do índice, Locaweb fechou em baixa de 6,91%, à frente de Embraer, com 6,63%.

Câmbio

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O dólar, que bateu em R$ 5,3036 na máxima, mudou o sinal logo no final da tarde. O movimento aconteceu após a fala de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, reforçando que a autoridade monetária vai ser dura no combate à inflação. Ele disse ainda que o BC fará o necessário para perseguir a meta.

O presidente do BC falou ainda diretamente da questão fiscal. Ele disse que ruídos em relação aos impactos do novo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, e do pagamento de precatórios afetam as projeções de inflação para 2022, que estão acima do centro da meta (3,50%). Apesar do respiro hoje, a moeda americana ainda sobe 0,48% na semana e acumula valorização de 1,16% no mês. O dólar para setembro subiu 0,67%, a R$ 5,3050. 

Para o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, Campos Neto deu a entender que a percepção do BC sobre os desdobramentos da questão fiscal piorou em relação à reunião mais recente do Copom. "Essa piora no fiscal pode servir de gatilho até para uma aceleração da alta dos juros na próxima reunião do Copom, de 1 ponto [porcentual] para 1,25 ponto. Parte do mercado está precificado isso e uma Selic mais forte no fim do ciclo, o que puxa o dólar para baixo", afirma Velho.

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No entanto, para Velho, a queda do dólar hoje parece uma questão pontual, em meio a uma pausa para investidores realizarem lucros. "Não vejo grande fluxo de recursos para puxar o câmbio para baixo. Ainda existe muito estresse institucional e o risco fiscal permanece elevado, com essa questão dos precatórios e do Bolsa Família", diz.

Já na avaliação do estrategista-chefe do grupo Laatus, Jefferson Laatus, o cenário fiscal permanece incerto e o dólar só não "estressa tanto" porque os juros estão em níveis bem atraentes. "A única esperança do mercado hoje é o Banco Central, porque a política não ajuda e o fiscal continua assustando", afirma Laatus, que vê a queda da moeda americana nesta terça como um alívio pontual, com correção de excessos passados./LUÍS EDUARDO LEL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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