PUBLICIDADE

Bolsa recua 1,1% e dólar sobe a R$ 5,36 com preocupação sobre cenário fiscal do País

Clima ficou tenso no mercado, após declarações dos candidatos ao comando do Senado e da Câmara em defesa do auxílio emergencial, mesmo que isso acarrete na violação do teto de gastos

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O mercado brasileiro operou descolado de Nova York nesta quinta-feira, 21, com o investidor atento a chance de prorrogação do auxílio emergencial, apesar da situação delicada das contas do governo. Com isso, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou em queda de 1,10%, aos 118.328,99 pontos, enquanto no câmbio, o dólar subiu 0,98%, a R$ 5,3641. 

PUBLICIDADE

Os dois candidatos ao comando do Congresso apoiados por Jair Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PP-AL), e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fizeram defesas de mais gastos sociais. O último ainda fez declarações contra as privatizações, especialmente a da Eletrobrás. 

Lira foi mais contido e ainda falou que a base de beneficiários do auxílio emergencial deve ser enxugada. À tarde, após a reação negativa dos mercados, falou da necessidade de observar a "disciplina fiscal". Já Pacheco foi mais direto ao defender os gastos sociais e disse que o teto de gastos não pode ser "intocado" e poderá ser revisto.

Discursos pró-auxílio emergencial e por mais gastos sociais pesaram no mercado nesta quinta. Foto: Alex Silva/Estadão

"Nos preocupa a tendência de termos debates fiscais delicados, por conta da situação social, que é importante olhar com atenção, mas infelizmente não temos condição de manter os estímulos do ano passado", disse há pouco a economista da Itaú Asset, Mirella Sampaio. Para ela, a discussão do auxilio emergencial revela a dificuldade de fazer políticas sociais do Brasil dentro da nossa situação fiscal, que é delicada. A trajetória crescente do endividamento causa preocupação, disse ela, ressaltando que é difícil neste momento ver a dívida cair.

Para a economista-chefe da ARX, Elisa Machado, a questão do auxílio coloca o governo em uma espécie de encruzilhada. Retirar totalmente a medida pode afetar a ainda incipiente retomada da economia. Manter o benefício é complicado por causa da situação deteriorada das contas fiscais. "Dentro do orçamento o cobertor é curto", disse ela. Na visão da economista, para prorrogar o auxílio sem gerar mais ruídos no mercado, Brasília precisa mostrar uma "história bem contada" de que não haverá descontrole fiscal. "Não vejo como enfrentar 2021 sem algum auxílio pelo lado da demanda."

Antes das declarações dos parlamentares, o sócio da Gávea Investimentos, Arminio Fraga, expresidente do Banco Central, já havia afirmado estar pouco otimista com a perspectiva de reformas para este ano. O Brasil tem um nível de endividamento elevado e a perspectiva de correção de rumo nessa área "não parece das mais positivas", disse ele em evento da Fitch Ratings. "Minha expectativa é que o governo vai ser reativo, se problemas se mostrarem mais graves, aprova."

Nesse ambiente, durou por pouco tempo a animação com a confirmação de que o governo indiano liberou a exportação comercial de vacinas contra a covid-19. As primeiras remessas devem ser enviadas ao Brasil e Marrocos, de acordo com relato da Reuters. A chegada das vacinas foi confirmada pelo Ministério da Saúde, em Brasília, para o fim da tarde desta sexta-feira.

Publicidade

Nesta quinta-feira, o bom desempenho de Vale ON, com ganho de 1,13% e de parte do setor de siderurgia, com CSN em alta de 0,97%,  contribuiu para amenizar um pouco o efeito negativo, para o Ibovespa, das ações de bancos, com Santander e Bradesco em baixas de 2,41% e 1,81% cada. Petrobrás ON e PN tiveram baixas de 1,89% e 2,43% cada. Destaque também para a baixa de 6,15% de Eletrobrás PNB e da alta de 4,90% de PetroRio. Com o resultado de hoje, a Bolsa cai 1,68% na semana e 0,58% no ano.

Em Nova York, S&P 500 e Nasdaq fecharam com ganhos de 0,03% e 0,55% cada, sendo que ambos renovaram seus recordes de fechamento. Já o Dow Jones teve leve queda de 0,04%. Por lá, o clima foi de ânimo com o início do novo governo Joe Biden.

Câmbio

O dólar teve dia de forte volatilidade, oscilando 17 centavos entre a máxima e a mínima. Pela manhã, a sinalização do Banco Central de que os juros podem subir em breve animou o mercado de câmbio e o dólar caiu a R$ 5,23. Nos negócios da tarde, preocupações fiscais falaram mais alto, após declarações dos candidatos apoiados pelo governo ao comando do Senado e da Câmara em defesa do auxílio emergencial, mesmo que isso acarrete a violação do teto de gastos. Com isso, a moeda americana foi a R$ 5,40.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Novamente, o real foi a moeda com pior desempenho ante o dólar no mercado internacional, considerando as 34 divisas mais líquidas. A moeda americana também subiu em outros emergentes nesta quinta-feira, como no México e África do Sul, mas em ritmo mais contido que aqui. O dólar para fevereiro fechou em alta de 1,12%, a R$ 5,3520.

Nesse ambiente, durou pouco a animação com uma possível alta de juros no país nos próximos meses, o que ajuda a atrair capital externo, após a decisão da última quarta-feira, 20, do Copom. "Nosso câmbio tem tido impacto não só pelo fiscal, mas pelos juros muitos baixos", disse um gestor paulista. "O fato de o dólar estar onde está hoje tem relação com a taxa básica do Brasil estar bem abaixo de seus pares." No México, por exemplo, a taxa básica é 4,25%./ ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.