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Bolsa cai 1% e dólar sobe a R$ 5,51 de olho em troca no comando do BC da Turquia

Mudança na presidência do banco central turco, a terceira em dois anos, se deu por discordâncias sobre a condução da política monetária local; avanço da covid no País e no mundo ainda preocupa

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Por Redação
Atualização:

A troca no comando do banco central turco pela terceira vez em dois anos nesta segunda-feira, 22, afetou o pregão da Bolsa brasileira (B3), que fechou em queda de 1,07%, aos 114.978,86 pontos. O movimento, que pesou ainda nos mercados de Ásia e Europa, também pesou no câmbio, com o dólar hoje em alta de 0,59%, a R$ 5,5179.

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A troca feita pelo presidente da TurquiaRecep Tayyip Erdogan, se deu por discordâncias sobre a condução da política monetária. O até então presidente Naci Agbal foi substituído por Sahap Kavcioglu, do partido de Erdogan, dois dias após a instituição elevar os juros básicos em dois pontos porcentuais, a 19%, acima das expectativas do mercado. 

Como fator de incentivo, porém, ajudou a melhorar o ânimo do mercado a arrecadação do País. O total recolhido pela Receita com impostos e contribuições federais somou R$ 127,747 bilhões, o melhor resultado para o mês na série histórica. A cifra representa aumento real de 4,30% na comparação com o igual mês de 2020 e ficou perto do teto da pesquisa do Projeções Broadcast (intervalo de R$ 99,0 bilhões a R$ 129,03 bilhões).

Mudança na presidência do banco central turco bagunçou os mercados de todo mundo e também a Bolsa brasileira. Foto: Umit Bektas/Reuters

Em coletiva, o ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou que os próprios resultados de março da arrecadação federal mantiveram o ritmo de crescimento, mas admitiu que as receitas do governo federal devem sofrer um impacto com o recrudescimento da pandemia a partir da segunda quinzena deste mês.

Já no exterior, apesar do bom desempenho dos índices de Nova York, com ganho máximo de 1,23% do Nasdaq, paira a preocupação quanto a uma terceira onda de pandemia na Europa, que viu protestos neste fim de semana no Reino Unido, na França e na Alemanha, e prorrogação do lockdown neste último país, sinalizada hoje, até 18 de abril.

" O pacote de emergentes foi afetado pelo episódio da Turquia, mas, para além disso, o mercado está começando a olhar com atenção a possibilidade de terceira onda de covid", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group.

O curtíssimo prazo, contudo, ainda é condicionado pela pandemia. "Após atingir 294 mil mortes por coronavírus no fim de semana, o Brasil segue no pior momento da crise sanitária, o que motivou governos estaduais a adotarem novas medidas de isolamento. Na Europa, existe preocupação com terceira onda da doença, que já levou a medidas restritivas em países como França, Itália, Alemanha e Holanda. Nesse cenário, a reação dos investidores é de aversão a risco, pela incerteza sobre a recuperação econômica", aponta Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.

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Entre as ações, os papéis de mineração e siderurgia estiveram entre as perdedoras do dia.  "A queda de 6% (no minério de ferro) nesta madrugada, após atingir nova máxima do ano neste mês, deve-se a notícias de que o governo chinês irá apertar o cerco sobre o polo industrial de Tangshan, que responde por um quarto da produção de aço chinês", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Hoje, Vale ON teve baixa de 1,66%, Usiminas, de 3,09%, Gerdau PN, de 3,04%, e CSN, de 1,71%. Destaque também para perdas de 2,00% na PN e de 1,87% na ON de Petrobrás. A perspectiva de recrudescimento da pandemia na Europa pressionou em especial as ações de empresas ligadas à mobilidade, com Embraer, em queda de 7,44%, Azul, de 6,10% e Gol, de 3,63%.  No mês, o Ibovespa avança 4,49%, limitando as perdas do ano a 3,39%.

Câmbio

O real sentiu o baque junto com as moedas de seus pares emergentes e se desvalorizou frente ao dólar durante toda a sessão de negócios desta segunda-feira, de olho na troca da presidência do BC turco. Esse fator externo caiu em um dia no qual a moeda já sofria com questões internas, como a piora no quadro de expansão da covid e a ainda problemática situação fiscal do país, que ajudaram a pintar um quadro de tensão que levou mais cedo a cotação a R$ 5,5484 na máxima do dia no mercado à vista. O dólar para abril fechou com alta de 0,28%, a R$ 5,5095. Ao mesmo tempo, no exterior, o dólar se fortalecia 7,65% ante a lira turca.

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Para Samuel Castro, Estrategista de América Latina do BNP Paribas, houve uma elevação geral do nível de risco por parte da percepção dos investidores globais em relação aos mercados emergentes e o real entrou em um movimento muito similar de seus pares, nada fora do padrão. Por outro lado, ressaltou Castro, ajudou o real hoje o fato de o Banco Central brasileiro ter iniciado, na quarta-feira passada, um processo de normalização da política monetária de uma maneira robusta e já indicando um novo ajuste forte. Não fosse isso, disse, a moeda local já estaria perdendo hoje mais do que outras moedas de emergentes frente ao dólar.

"O real está mais blindado hoje e menos suscetível a variações extremas. O Copom aumentou a Selic e deixa a moeda um pouco mais blindada em momentos como de hoje. É um fator (a normalização) que acabou ajudando e vai seguir ajudando", disse, lembrando que o real vinha sofrendo muito e, dada a baixa taxa de carregamento, era a primeira moeda a ser vendida. "Nessa posição não nos deixa desconfortável em um contexto do movimento da Turquia. Se fosse em outro momento a reação seria muito mais forte."

Ainda assim, hoje, o Credit Default Swap (CDS) de 5 anos do Brasil, termômetro do risco-País, engatou alta e chegou a 201,31 pontos no meio da tarde, mas há instantes, marcava 198.70 pontos ante 191,32 pontos de sexta-feira, 19, de acordo com cotações da IHS Markit. /LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

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