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Dólar recua 1,7%, a R$ 5,45, e registra menor valor desde fevereiro; Bolsa cai

Moeda americana precificou a sanção do Orçamento de 2021, cujo prazo acaba nesta quinta; Ibovespa acompanhou mau humor do mercado de Nova York

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Por Redação
Atualização:

Já precificando a sanção do Orçamento de 2021, cujo prazo termina nesta quinta-feira, 22, o dólar tocou hoje no menor nível desde fevereiro, fechando em baixa de 1,73%, cotado a R$ 5,4546. O movimento veio na contramão de outras moedas emergentes, que caíram ante a divisa americana. No mercado de ações, a Bolsa brasileira (B3) seguiu o mau humor de Nova York e caiu 0,58%, aos 119.371,48 pontos, perdendo o importante patamar dos 120 mil pontos.

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Com isso, o real teve hoje dia de fortalecimento e o melhor desempenho mundial, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas. No melhor momento do dia, a moeda americana chegou a cair 1,82%, a R$ 5,4496, no menor nível desde 25 de fevereiro. A moeda para maio fechou em queda de 2,13%, a R$ 5,4515.

Após Bolsonaro sancionar a lei que vai destravar o lançamento de programas emergenciais de combate à covid-19, a expectativa é ainda maior pela aprovação do Orçamento - com vetos que devem somar R$ 20 bilhões. Apesar do texto ter deixado R$ 125 bilhões em recursos fora do teto e do alerta hoje da agência Moody's de que isso é negativo para o perfil de crédito do Brasil, a visão entre participantes do mercado é de que o impasse chega ao fim e abre caminho para a agenda de reformas, incluindo as microeconômicas, prosseguir.

Real teve hoje o melhor desempenho mundial, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas. Foto: Paul Yeung/Bloomberg

"A saga do Orçamento parece ter chegado ao fim", afirma o economista para América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia. Ele destaca que é preciso agora monitorar os próximos números da pandemia, para ver se mais pressão para gastos públicos virão. O economista espera uma atividade econômica mais aquecida na segunda metade do ano, com o avanço da vacinação.

Mas alguns problemas fiscais ainda devem permanecer. "Não há segredo de que não tem como cumprir o teto de gastos este ano: o assunto deixa de prejudicar os ativos domésticos e a gente consegue acompanhar o movimento do exterior, com o dólar na faixa de R$ 5,50. Mas sabemos que persistem riscos latentes para (o dólar) voltar, acima desse patamar", aponta Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Apesar disso, abril tem sido marcado pela volta de aportes externos no Brasil e também por maior fluxo comercial, influenciado pela venda da safra agrícola a preços mais altos, destaca um gestor de multimercados. O real, ressalta este profissional, estava muito atrasado em relação a outras moedas e vem recuperando algum terreno.

Dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que o fluxo cambial está positivo no mês em US$ 747 milhões até o dia 16. Pelo comércio exterior entraram US$ 1,4 bilhões no período, de forma líquida. Mais recentemente, o canal financeiro também tem atraído mais capital. Na B3, por exemplo, no último dia 19, houve entradas de R$ 2,2 bilhões.

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Além do fluxos, tem havido desmonte de posições contra o real no mercado futuro. Investidores estrangeiros reduziram o total de suas apostas compradas - que ganham com a alta da moeda americana - de US$ 32,1 bilhões para US$ 31,5 bilhões nos últimos cinco dias até terça-feira, de acordo com números da B3 monitorados pela corretora Commcor.

Bolsa

Nos Estados Unidos, investidores não gostaram da proposta do presidente Joe Biden, de elevar tributos sobre ganhos de capital. Em resposta, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq cederam 0,94%, 0,92% e 0,95% cada. A possibilidade afetou os ganhos também do mercado de títulos do Tesouro americano, com os papéis com vencimento para dez e trinta anos em quedas de 1,554% e 2,232%, respectivamente.

O movimento, evidentemente, atingiu o Ibovespa em cheio, em um dia no qual as Bolsas da Ásia e Europa fecharam em alta, animadas com a queda nos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA. Nesta quinta-feira pós-feriado de Tiradentes, o índice passa a acumular perda de 1,44% na semana, limitando o ganho do mês a 2,35% - no ano, ainda sobe 0,30%.

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Sobre a Cúpula do Clima que acontece virtualmente, "Bolsonaro trouxe (hoje) guinada em relação à retórica de negacionismo, o que soou um pouco mais agradável para parte dos ouvintes", diz Luiz Fernando Quaglio, especialista em investimentos sustentáveis (ESG) da Veedha Investimentos. "Mas ainda há desconfiança em relação ao governo. A pressão dos Estados Unidos trouxe uma mudança. O mais urgente era com relação ao desmatamento e a um plano para a Amazônia, e se espera ratificação do discurso com a prática - ainda há pé atrás com relação a isso, de que a prática não condiz com a retórica, até aqui", acrescenta.

Entre as ações, destaque para os ganhos de UsiminasCSN e Gerdau, em altas de 5,36%, 4,41% e 3,19% cada. Nos papéis de grande peso, Vale subiu 0,07%, apesar da queda do minério da ferro na China, enquanto Petrobrás teve desempenho misto, com a ON em alta de 0,04%, mas a PN em queda de 0,46%. Entre os bancos, Santander caiu 2,06%. Lojas Renner e Multiplan caíram 5,99% e 3,79%, respectivamente./ ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO.

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