O dia foi marcado pela piora dos ativos de risco, no Brasil e no exterior. A Bolsa brasileira fechou esta sexta-feira, 29, com forte queda de 3,21%, aos 115.067,55 pontos, enquanto em Nova York, os índices amargaram perdas em torno dos 2%. Hoje, os investidores continuaram receosos com o mercado, de olho nas consequências e no alcance dos movimentos especulativos dos últimos dias em alguns papéis de empresas com problemas. No câmbio, o dólar teve alta de 0,7%, a R$ 5,4745.
Nos EUA, em carta à Securities and Exchange Comission (SEC), que regula o mercado de capitais americano, a senadora democrata Elizabeth Warren pressionou a entidade a tomar medidas para evitar incidentes de manipulação de mercados, tentando prever novos casos, como o da GameStop, que já sobe mais de 700% com a compra de pequenos investidores orquestrada em fóruns pela internet.
O mesmo movimento foi visto nas ações da IRB Re. Na quinta-feira, 29, o papel fechou em alta superior a 17%. Hoje, as ações da companhia caíram 6,13% na Bolsa brasileira, que manteve o papel em leilão. "Começa a ficar meio sistêmico, um grupo organizado querendo causar caos no mercado financeiro, com danos para fundos - se vier a ficar recorrente, há a possibilidade de contrapartes ficarem sem condições de pagar. É um ponto de atenção que tem causado mal-estar no mercado, fazendo preço", diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.
As condutas são consideradas infrações graves contra o mercado de capitais e estão previstas em lei e na Instrução 8 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Pela manhã, a entidade divulgou um alerta ao mercado afirmando que "a atuação com o objetivo deliberado de influir no regular funcionamento do mercado pode caracterizar ilícitos administrativos e penais".
Em Nova York, por conta do temor com esse tipo de movimento, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com quedas de 2,03%, 1,93% e 2,00%, o mesmo aconteceu com os mercados de Europa e Ásia. Por aqui, o Ibovespa saiu dos 118 mil pontos, na máxima, para cair aos 115 mil pontos. Na última quinta, o índice fechou com alta de 2,6%. Com o resultado de hoje, a Bolsa fecha a semana com queda de 1,97% e o mês de janeiro, com baixa de 3,32%.
No noticiário nacional, a semana chega ao fim em meio à grande expectativa para a eleição das presidências da Câmara e do Senado, na segunda-feira, bem como para possível paralisação de caminhoneiros, em contexto ainda mais difícil do que o da greve de maio de 2018. Na próxima semana, a atenção se volta também para a temporada de balanços do quarto trimestre, que ganha força com o anúncio dos resultados de grandes instituições financeiras, como Itaú, Bradesco e Santander, entre segunda e quarta-feira.
No exterior, preocupou as palavras da porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, de que o novo governo americano avalia eventuais ajustes na relação bilateral e deseja estar "em posição de força" quanto a Pequim. A fala tirou o foco da aprovação de novas medidas de estímulo nos Estados Unidos.
Assim, o mau humor se disseminou hoje por empresas e setores, com poucas exceções, como a alta de 1,64% de Braskem e de 0,08% de Marfrig. No lado oposto, CSN caiu 8,27% e Ecorodovias, 6,04%. Entre as ações de maior porte, Petrobrás PN e ON perderam respectivamente 3,85% e 4,44%, ambas nas mínimas do dia no encerramento, enquanto Vale ON cedeu 3,46%. Destaque também para o setor de bancos, com quedas de 1,97% de Banco do Brasil e de 3,57% de Santander.
Câmbio
O dólar subiu 5,5% ante o real em janeiro, a maior alta desde março do ano passado, quando a pandemia começou no País e a divisa dos Estados Unidos disparou 16%. A moeda brasileira teve o pior desempenho no mercado internacional neste mês, com a deteriorada situação fiscal do Brasil impedindo recuo maior do dólar, mesmo com fluxo externo forte. Em outros emergentes, a moeda americana teve valorização menos intensa, subindo 4,5% na Colômbia, 3,1% na África do Sul e 2,5% no México. Na Turquia, caiu 1,8%. O dólar para março fechou em alta de 0,38%, a R$ 5,4660.
"Os riscos para a piora do cenário no Brasil estão crescendo", avalia o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson. A Capital Economics projeta que o dólar vai seguir forte no Brasil, mesmo com tendência de queda no exterior. Para o fim do ano, a estimativa é que a moeda americana fique em R$ 5,50. Ao fim de 2022, vá a R$ 5,75.
Os economistas do Bradesco também veem o real mais enfraquecido, sobretudo neste começo de 2021. "Diante da perspectiva de menor crescimento e das incertezas fiscais, o real deve se manter pressionado neste início de ano", afirma relatório do banco. O Bradesco cortou a previsão de crescimento da economia brasileira este ano de 3,9% para 3,6%, por conta do avanço da pandemia. "Enquanto não for descartada a hipótese de um estímulo fiscal amplo em 2021, a moeda tende a se manter bastante descolada dos pares."/ LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO