O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, destacou nesta segunda-feira, 9, que a alta da taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto porcentual para 12,25% ao ano, promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, sobrecarregará ainda mais o banco de fomento e não vê motivos para que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) aumente, já que esta é a fonte mais barata de recursos para os investimentos. Veja também: Confira a evolução da Selic desde o início do governo Lula "Não creio ser necessário subir a TJLP, porque vai penalizar o que há de mais precioso para o Brasil que são três fins nobres", disse, citando como prioridades a formação de nova capacidade produtiva da indústria, no intuito de evitar escassez de produtos; a inovação tecnológica, e o investimento em infra-estrutura, em especial, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas áreas de logística e energia. Coutinho, que visitou hoje os estúdios da Rede Eldorado de Rádio, em São Paulo, ressaltou que os investimentos das empresas brasileiras têm crescido a uma escala de 30% ao ano. "Vejo que os investimentos se mantêm muito firmes e isso tem sobrecarregado a demanda sobre o BNDES", disse. "Se não criarmos oferta de uma forma consistente, pode faltar produto lá na frente e a inflação pode ser mais pressionada, por isso o papel do BNDES tem de ser cumprido neste momento", afirmou. Inflação O presidente do BNDES evitou uma avaliação sobre a alta do juro básico no País, que subiu pela segunda vez consecutiva este mês. "Não me compete opinar sobre política monetária, que compete ao Banco Central." Mesmo assim, ele atribuiu a forte pressão inflacionária a três fontes. A primeira, é a do setor de petróleo, a segunda, da alta dos preços de metais e minerais por causa do aquecimento da atividade na China, e a terceira, dos alimentos. "Isso refletiu sobre os indicadores do atacado do mundo inteiro, não só do Brasil", comparou. Ele salientou ainda que a transmissão da alta do atacado para o varejo é um percurso longo e que "isso toma tempo". "O trabalho do Banco Central é o de evitar que pressões no atacado desorganizem as expectativas. As expectativas para 2009 continuam próximas à meta, portanto o BC tem conseguido manter o controle", disse, ressaltando que a estabilidade das expectativas é algo importante porque mostra confiança na tomada de investimento. O centro da meta da inflação para 2008 e 2009 é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Nova política de desenvolvimento Coutinho ressaltou que a nova política de desenvolvimento produtivo possui três grandes setores estratégicos, os quais o Brasil já possui liderança, que são o de commodities (citando produtos minerais, celulose e agronegócios), manufatura e aeronáutica. "O Brasil tem capacidade de oferecer esses produtos em escala e a preços imbatíveis e isso já viabilizou empresas importantes, exportadores naturais. É importante que evoluam, agora, para serem lideres globais", argumentou. O presidente do BNDES avaliou como "interessante" a experiência pró-exportadora, que desenvolveu a competitividade mundial. "Nós ficamos presos à substituição das importações. Neste momento, esta contradição foi superada e o sucesso exportador no cenário internacional é um bom guia para apoiar experiências com grau reduzido de risco", disse. Coutinho rejeitou, porém, a crítica de que o banco apóia apenas algumas escolhidas, afirmando que o que interessa é apoiar lideranças já reveladas por suas competências. "Não é verdade. O banco financia um leque muito extenso de empresas, como a pequena, que utiliza o cartão BNDES, uma inovação bem sucedida, que permite a 150 mil companhias comprarem insumos, com um giro de até R$ 250 mil, de fora conveniente", alegou. Além disso, ele enfatizou que o BNDES atua indiretamente no mercado no caso de empresas de médio porte e que essas operações representam metade do trabalho do banco. Mercado internacional Coutinho disse ainda que o banco tem buscado "se virar" para obter funding para atender o crescimento por financiamentos para investimentos produtivos. "Estamos indo a mercado. Fizemos uma captação há duas semanas, de US$ 1 bilhão, e talvez freqüentemos o mercado internacional no segundo semestre e no ano que vem", disse, sem dar mais detalhes.