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Covid mostrou que várias nações avançadas estão bem mais frágeis do que se acreditava

Ao final de setembro de 2021, quase metade dos casos e dos óbitos registrados no mundo tinham acontecido em economias avançadas

Por Luis Fernando Lopes
Atualização:

O assunto do momento é, além do teto de gastos, a CPI da Covid. Ocorre que a pandemia também se presta à descoberta de fatos relevantes, ainda que não intuitivos.

A covid-19 atingiu o planeta no qual vivem 7,8 bilhões de pessoas. Cerca de 15% delas estão em países desenvolvidos, adotando a classificação do Fundo Monetário Internacional. Ali, as condições de vida são bem superiores às dos emergentes (onde vivem os demais 85%), o que inclui sistemas de saúde muito mais eficientes. Quando a crise atingiu proporções mundiais, era de se esperar que o impacto humanitário e econômico nas nações mais ricas fosse significativamente menor. 

Em meados de outubro, média móvel de mortes por covid nos EUA era de 1.630 - no Brasil, de 320. Foto: Bryan R. Smith/AFP

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Sucede que, ao final de setembro de 2021, quase metade dos casos e dos óbitos registrados no mundo tinham acontecido em economias avançadas. Pesquisas com amostragem de população feitas para tentar corrigir o problema da subnotificação em nações mais pobres encontraram alguns desvios consideráveis na Europa Oriental e na Ásia Central, porém, não suficientes para alterar o quadro geral. O choque adverso foi proporcionalmente mais intenso em Nova York, não em Nova Deli; em Londres, ao invés de Luanda. Em meados de outubro a média móvel de sete dias de mortes associadas ao coronavírus era de 1.630 nos Estados Unidos e de 320 no Brasil, embora a população lá seja pouco mais de 50% superior à nossa. 

Mas há também a dimensão econômica. Antes da pandemia, os países emergentes já cresciam a taxas bem superiores às das nações mais ricas. Quando sobreveio o choque da covid-19 em 2020, o produto interno bruto real do conjunto dos países menos desenvolvidos caiu muito menos (-2,1% versus -4,5%, respectivamente) e deverá recuperar-se de forma mais vigorosa em 2021 (+6,4% versus +5,2%), segundo as estimativas mais recentes do FMI no relatório World Economic Outlook

Grande parte da perturbação nos mercados financeiros globais resulta da constatação de que várias nações avançadas estão bem mais frágeis do que se acreditava. Daí não se segue que todos os países emergentes estão em situação ainda pior. Na verdade, os recentes acontecimentos devem acelerar a tendência secular de perda de importância relativa das economias mais ricas frente às menos desenvolvidas. Em 1980, estas últimas somavam 37% do PIB mundial, ajustando pela paridade do poder de compra das moedas. Neste ano, deverão somar 58%. 

Para além da CPI da Covid e do teto de gastos, esta transformação terá profundas, e interessantes, implicações para o Brasil. 

*SÓCIO E ECONOMISTA-CHEFE DO PÁTRIA INVESTIMENTOS

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