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‘Crédito do FGTS deve ser o mais barato’

Para subsecretário, antecipação do saque pode ter juro mais baixo que o do consignado e promoverá revolução

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Um dos idealizadores do programa de saques do FGTS do governo Jair Bolsonaro, o subsecretário de Política Macroeconômica do Ministério da Economia, Vladimir Teles, prevê que a modalidade de crédito que será criada com garantia dos recursos que o trabalhador receber do saque-aniversário deverá ter os juros mais baratos do mercado brasileiro. Em entrevista ao Broadcast/Estadão, Teles diz que o programa está aumentando a remuneração real do trabalhador e que esse tipo de empréstimo vai promover um revolução no crédito do País.

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“A maioria não entendeu que o trabalhador, ao ir para o saque-aniversário, tem uma alternativa de crédito barato que hoje não tem”, avalia. A carteira de trabalho digital conterá as informações sobre os dados do FGTS e o montante comprometido nos financiamentos. Dessa forma, aponta Teles, a medida vai facilitar a oferta do crédito. Os trabalhadores poderão obter empréstimo com base nos recursos do FGTS em mais de um banco.

As instituições financeiras terão liberdade para desenhar o modelo de empréstimo. Segundo ele, os bancos têm mostrado grande apetite pela modalidade. Com risco zero de calote, já que o dinheiro para o pagamento do empréstimo poderá ser direcionado diretamente para o banco credor, a antecipação do FGTS com recebíveis futuros será regulamentada em breve pelo Conselho Curador do FGTS. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Segundo Teles, saque terá impacto no PIB per capita de 2,5 p.p. em 10 anos. Foto: GABRIELA BILO/ESTADAO

Qual a importância da mudança?

Em geral, as pessoas têm focado muito no impacto de curto prazo da liberação do saque imediato de R$ 500. Ele é importante, mas vai ter um impacto maior do que os 0,35 ponto porcentual de alta do PIB em 12 meses. Temos a expectativa de que vai ter um multiplicador (impacto sobre o crescimento) maior do que o que ocorreu no governo Michel Temer. Enquanto a liberação de Temer foi de contas inativas e não era focado num grupo específico de pessoas, o saque atual é focado nos mais pobres. Vamos atingir quatro vezes mais de pessoas. E o impacto no crescimento é maior quando se foca nos mais pobres. Já temos vários economistas dizendo que vai ser em torno de 0,5 ponto porcentual em 12 meses.

O programa de saques do FGTS é uma reação ao risco de a economia entrar em recessão?

Não. É uma mudança de estrutura. Só o saque de R$ 500 tem impacto conjuntural. Todas as outras medidas são estruturais.

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Por que é estrutural?

Das 260 milhões de contas, 211 milhões têm até R$ 500. Vamos zerar 211 milhões de contas e facilitar muito a operação da Caixa. No seu ápice de atendimento, (a Caixa) atendia 8 milhões de pessoas num mês no saque de contas inativas. O saque de R$ 500 limpa o estoque e permite a operacionalização do saque-aniversário. Tem o objetivo triplo. É pró-pobre, tem impacto de curto prazo mais forte, e vai usar uma faixa para viabilizar operacionalmente o saque aniversário. Essas medidas não foram uma reação ao baixo crescimento simplesmente. Já estavam no radar desde o ano passado.

Qual a grande vantagem do programa?

O FGTS é uma medida que aumentará produtividade. Não é uma medida de choque de demanda de curto prazo, embora tenha esse efeito também.

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De que forma?

No caso do FGTS, o trabalhador só podia usar em casos muito restritos de saque. Isso criava uma série de restrições tanto no mercado de trabalho quanto na própria utilização dos recursos que reduzia a sua eficácia. Um trabalhador que fez uma dívida de R$ 100 em 2017, dependendo da taxa de juros a que ele foi exposto, hoje teria uma dívida de R$ 2.500. Se ele tivesse acesso ao recurso, hoje não teria dívida. Se olharmos os dados, a grande maioria das pessoas que está como nome negativado no SPC ficou endividada com um única dívida.

Qual será consequência desse choque de produtividade na economia?

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Estimamos, em 10 anos, estarmos com um PIB per capita de 2,5 ponto porcentual mais alto só por causa do saque-aniversário. Sem considerar o empréstimo com recebíveis. Aí, o impacto será maior ainda.

O empréstimo com recebíveis do FGTS tem grande potencial para aumentar o crédito?

Funcionará como uma antecipação do saque. Assim como tem 13º salário que o banco oferece o empréstimo como antecipação. Por exemplo, o cotista tem R$ 2 mil a receber daqui a dois meses. Ele pode pedir a antecipação desse recurso por meio de crédito. O banco antecipa pagando um juro. Quando for para receber o saque, o dinheiro vai para o banco. O crédito vai ser pago no dia do aniversário.

Como será o custo dessa modalidade de crédito?

O juro deve ser mais baixo do que o do consignado, porque o dinheiro já está na sua conta do FGTS e tem data certa para o saque. O risco é zero. Essa modalidade terá que ser regulamentada pelo Conselho Curado do FGTS. É uma possibilidade de desenho do crédito. Conversamos com o Banco Central e tive reuniões com economistas de bancos depois da medida ter sido anunciada. Eles têm mostrado um apetite grande por esse produto porque o risco é zero. A taxa de juros provavelmente será a menor de mercado. Por isso, é uma revolução.

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