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Crédito externo tem avanço maior do mundo

Em 2009, expansão para o setor produtivo brasileiro foi de US$ 22,9 bilhões, segundo o BIS; os bancos estrangeiros têm US$ 386 bilhões no Brasil

Por Jamil Chade , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

A expansão do crédito estrangeiro para o setor produtivo brasileiro foi a maior do mundo em 2009. Os dados são do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). Invertendo um fenômeno de 30 anos nas finanças internacionais, 2009 registrou o desaparecimento de quase US$ 2 trilhões em linhas de crédito e empréstimos no mundo diante da hesitação dos bancos em liberar recursos. Já o fluxo para o Brasil observou uma tendência contrária, e o País apresentou a maior expansão entre todas as economias. Em um ano, os créditos ao setor produtivo no Brasil cresceram US$ 22,9 bilhões. No último trimestre de 2009, a expansão foi de US$ 5,3 bilhões. No fim de dezembro, o País teve um total de empréstimos de US$ 103 bilhões, excluindo o fluxo entre bancos. Em 2008, o Brasil já havia observado uma alta de US$ 6,9 bilhões em linhas de crédito. Mas a redução não foi suficiente para afetar os números finais. Descontada a redução nos empréstimos interbancários, 2009 terminou com um aumento total de US$ 13 bilhões em créditos ao Brasil, atingindo US$ 170,1 bilhões. Só no último trimestre de 2009, a exposição dos bancos estrangeiros à economia brasileira aumentou US$ 5,5 bilhões. Em 2008, o Brasil havia perdido US$ 1,6 bilhão em linhas de crédito. Apesar da expansão no capital para a produção, os empréstimos de um banco a outro no Brasil seguiram a tendência mundial e caíram em 2009. Lucros bilionários. Em estoque, a exposição de bancos estrangeiros no Brasil chega a US$ 386 bilhões. Os bancos europeus, principalmente os espanhóis, são os mais expostos, com US$ 273 bilhões. Os americanos fecharam 2009 com uma exposição de US$ 64 bilhões no Brasil. No mundo, o total de linhas de crédito e empréstimos entre países chegou a US$ 30,4 trilhões em 2009, 6% abaixo de 2008. Ao mesmo tempo que se verifica esse fenômeno, bancos de todas as partes do mundo anunciam lucros bilionários. Há poucos dias, foi o Goldman Sachs que mostrou que suas contas estavam em dia. Ontem, o Credit Suisse anunciou lucros de quase US$ 2 bilhões no primeiro trimestre. As economias dos Estados Unidos, Japão e Europa apresentaram as perdas mais profundas. Na Europa, os bancos deixaram de emprestar US$ 209 bilhões ao setor produtivo em 2009, em comparação aos níveis de 2008. Nos Estados Unidos, os créditos também secaram em US$ 157 bilhões, ante uma retração de US$ 52 bilhões no Japão. Apesar de a queda nesses países ser muito maior que no Brasil, o volume de créditos é ainda cinco a dez vezes superior. Já os mercados emergentes apresentaram alta nos créditos ao setor produtivo em 2009 de US$ 13 bilhões, cerca de 1%. Mas a expansão no Brasil é bem superior à da China (US$ 5,4 bilhões anuais ), Índia (US$ 4,6 bilhões) e vários outros países. Contando os empréstimos a bancos, a expansão dos créditos para a Ásia foi de US$ 14 bilhões, ante US$ 6 bilhões na América Latina. A China, por exemplo, compensou o desempenho relativamente fraco de sua expansão de créditos à produção com um salto em créditos entre bancos. No total, acumulou US$ 24 bilhões em 2009, depois de perder US$ 33 bilhões em 2008. Só no último trimestre de 2009, obteve alta de US$ 20,5 bilhões em créditos. Queda continua. Por mais que governos tenham injetado liquidez nos mercados, a constatação do BIS é de que os fluxos de crédito a setores produtivos caíram em US$ 383 bilhões no ano. Temendo quebras e sem saber quais investimentos eram seguros, os bancos fecharam os cofres a partir de meados de 2008. Naquele ano, a contração de empréstimos à produção havia sido ainda maior, de US$ 759 bilhões. O resultado foi a pior recessão em 70 anos. Segundo os novos dados do BIS, mesmo com os bilhões de dólares dos governos para garantir o funcionamento do sistema financeiro internacional, a constatação é que os empréstimos ainda não voltaram aos níveis anteriores à crise e continuam em queda. Para analistas, a insistência dos bancos em cortar créditos mostra que não existe ainda uma confiança no crescimento da economia internacional.

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