BRASÍLIA - O volume total de operações de crédito do sistema financeiro subiu 1,9% em setembro ante agosto, para R$ 3,809 trilhões, informou nesta segunda-feira, 26, o Banco Central. Em 12 meses, houve alta de 13,1%.
Os dados foram influenciados pelos efeitos da pandemia do coronavírus, que colocou em isolamento social boa parte da população e reduziu a atividade das empresas - em especial, nos meses de março e abril. Em meio à carência de recursos, famílias e empresas aumentaram a demanda por algumas linhas de crédito nos bancos.
O aumento no crédito bancário no acumulado deste ano está relacionado às medidas adotadas pelo Banco Central para liberar às instituições financeiras mais recursos destinados a empréstimos durante a pandemia.
Em setembro ante agosto, houve alta de 1,4% no estoque de recursos para pessoas físicas e de 2,6% para pessoas jurídicas (empresas).
De acordo com o BC, o estoque de crédito livre (dinheiro que os bancos podem emprestar em qualquer linha) avançou 1,9% em setembro, enquanto o de crédito direcionado (rural, financiamento para casa própria e BNDES) apresentou alta de 2,0%.
No crédito livre, houve aumento de 1,5% no saldo para pessoas físicas no mês passado e de2,4% para as empresas.
O BC informou ainda que o total de operações de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) foi de 51,9% para 52,8% na passagem de agosto para setembro.
As projeções do BC, atualizadas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro, indicam expansão de 11,5% para o crédito total em 2020. A projeção para o crédito livre em 2020 é de alta de 12,5% e, para o crédito direcionado, é de elevação de 10,1%.
Juro médio cai, mas cheque especial tem alta
Os juros bancários médios com recursos livres (sem contar habitacional, BNDES e rural) de pessoas físicas e empresas, por sua vez, recuaram de 26,5% ao ano em agosto para 25,7% ao ano no mês passado. Somente para pessoas físicas, a taxa passou de 39% para 38% ao ano na mesma comparação.
A queda do juro bancário no mês passado não englobou as operações com cheque especial, cuja taxa passou de 112,9% ao ano em agosto (6,5% ao mês) para 114,2% ao ano no mês passado, o equivalente a 6,6% ao mês. Nessa modalidade, o BC adotou um teto para os juros.
O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito caiu 0,3 ponto porcentual de agosto para setembro. A taxa passou de 310,2% para 309,9% ao ano.
O rotativo do cartão e o cheque especial são modalidades de crédito emergencial muito acessadas em momentos de dificuldades.
O juro do rotativo é uma das taxas mais elevadas entre as avaliadas pelo BC. A taxa da modalidade rotativo regular - em que houve o pagamento mínimo da fatura - passou de 270,3% para 268,6% ao ano de agosto para setembro. Na modalidade rotativo não regular - em que não foi feito o pagamento mínimo - taxa subiu de 335,2% para 336,8% ao ano.
No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro passou de 137,8% para 142,1% ao ano.
Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 65,1% para 62,3%.
Em abril de 2017, começou a valer a regra que obriga os bancos a transferir, após um mês, a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, com juros mais baixos. A intenção do governo com a regra era permitir que a taxa para o rotativo do cartão de crédito recuasse, já que o risco de inadimplência, em tese, cai com a migração para o parcelado.
Atualmente, porém, o risco de inadimplência aumentou, justamente porque muitas famílias estão enfrentando redução de renda, na esteira da pandemia.
A taxa de inadimplência média passou de 2,6% para 2,4% de agosto para setembro. No caso das operações com pessoas físicas, a inadimplência passou de 3,3% em agosto para 3,1% no mês passado, e nas empresas, caiu de 1,8% para 1,5% na mesma comparação.
A queda dos juros bancários médios e das operações com pessoas físicas acontece em um momento de recuo da taxa básica de juros da economia. Em agosto, houve nova queda, para 2% ao ano (mínima histórica), patamar que foi mantido em setembro.
De acordo com o BC, o chamado spread bancário (diferença entre quanto bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes) médio com recursos livres passou de 22,1 pontos porcentuais, em agosto, para 21,1 pontos percentuais em setembro.
Mesmo com o repasse da queda do juro básico da economia na parcial deste ano, o spread bancário ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
O spread é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.