As operações de crédito continuam responsáveis pela maior parte da receita dos bancos, mas o maior crescimento tem sido no setor de serviços. Dados da ABM Consulting mostram que em 2004 a participação do crédito na receita foi de 43,1%. Em 2003, esta participação era de 40,7% - crescimento de 2,4 pontos porcentuais. No setor de serviços, o ganho representou 20,1% das receitas. No ano anterior, a porcentagem ficou em 17,4%, apontando um crescimento de 2,7 pontos porcentuais. O estudo da consultoria toma por base os balanços de bancos já divulgados neste ano: Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Unibanco. Entre estas instituições, a participação maior das operações de crédito em relação às receitas é do Unibanco, com 48,4%. Já no setor de serviços, o Itaú tem maior a participação na receita, com 26,3%. O analista financeiro da ABM Consulting, Gustavo Pedreira, destaca que o Itaú é o banco que mais se aproxima dos norte-americanos e europeu. "Nos Estados Unidos, os bancos têm 30% da receita vinculada aos serviços. Na Europa, esta porcentagem é ainda maior", afirma. Títulos públicos A terceira maior participação na receita dos bancos vem da rentabilidade dos títulos públicos. Em 2004, ela foi de 17%, bem inferior ao registrado no ano anterior, que ficou em 25,1%. Dos quatro bancos analisados, a maior queda na participação foi no Banco do Brasil - de 28,1% em 2003 para 14,7% em 2004. "Os bancos públicos detêm um volume muito grande de títulos do governo. Com a queda da taxa de juros média em 2004, o ganho com estas operações foi muito menor, o que reduziu a participação dos títulos públicos na receita dos bancos", explica Pedreira. Analistas afirmam que este é o grande desafio dos bancos atualmente, ou seja, manter lucros altos apesar da queda das taxas de juros. Este resultado, segundo eles, só será possível com a ampliação das operações de crédito. Pedreira lembra que, apesar do crédito estar no topo das receitas dos bancos, esta participação ainda é pequena. "Apesar da queda da taxa média de juros em 2004, o crescimento desta participação foi baixo", afirma. No ano passado, a Selic média anual ficou em 16,23% e, em 2003, 23,1%. Pedreira destaca ainda que, no Brasil, o volume de crédito representa apenas 26% do Produto Interno Bruto, enquanto na zona do euro este porcentual chega a 140%. "O grande concorrente do crédito no interesse dos bancos são os títulos públicos. Com estes papéis, os bancos conseguem rentabilidade, sem precisar de uma estrutura operacional e com um risco menor." Banco do Brasil O lucro do Banco do Brasil em 2004, anunciado ontem, de R$ 3,024 bilhões, é o segundo maior já registrado na sua história. O maior foi em 1988 quando informou R$ 3,250 bilhões (ajustado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até 31 de dezembro de 2004. Se considerados os valores sem ajuste, o lucro de 2004 é o maior da historia do Banco. O estudo da ABM Consulting mostra que o planejamento tributário foi um dos maiores responsáveis pelo resultado da instituição. Em 2003, a despesa com o pagamento de Imposto de Renda no Banco do Brasil representava 5,3% da receita. No ano passado, esta participação caiu para 3,6%. "Nos bancos, o IR não incide sobre resultado líquido, mas sobre lucro real. Ou seja, um planejamento tributário eficiente garantiu uma base de tributação menor", afirma Pedreira.