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Cresce participação de venda de carros à vista

Medo de assumir uma dívida leva consumidor a economizar para comprar veículos à vista. Financiamento, que teve a maior procura da história no começo do ano, está diminuindo no índice total de vendas, tando de usados quanto de zero-quilômetros.

Por Agencia Estado
Atualização:

Além de afugentar o consumidor das concessionárias, o aumento das taxas de juros provocou a redução das vendas financiadas de veículos nos últimos meses. Cautelosos em contrair uma dívida de longo prazo, alguns consumidores abriram mão de suas economias comprando à vista. Quem não pôde se dar ao luxo e não teve urgência em adquirir o bem, acabou sendo atraído pelos consórcios. A participação do financiamento - Crédito Direto ao Consumidor (CDC), leasing e consórcio - nas vendas de veículos no Brasil havia alcançado no primeiro semestre deste ano o maior índice da história. De cada 100 veículos comercializados no País, 80 foram adquiridos por meio de alguma dessas modalidades. Há cinco anos, a relação era de 60 em 100. No primeiro semestre, 20 de cada 100 carros zero-quilômetro negociados foram comprados à vista. Outros 60 foram adquiridos por meio de CDC; 4, por leasing e 16, por consórcio. No segundo semestre, a relação mudou ligeiramente, devendo encerrar o ano com 21% das operações à vista e 79% de financiamentos. De acordo com o diretor-executivo da Anef, José Romélio Ribeiro, as vendas à vista chegaram a ter participação superior a 21% nos últimos meses, mas esse porcentual deve cair no fim do ano. Isso porque o 13º salário deve servir como entrada para compras financiadas. Para 2002, entretanto, a projeção da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) é de que 23% das vendas de veículos sejam feitas à vista. A compra financiada (CDC) correspondia a um volume quatro vezes menor em 1998: 15%. Naquela época, as taxas de juros eram de 4,5% ao mês em média, ante uma taxa atual de 2,6% ao mês. No início do ano, a taxa chegou a ser reduzida para 1,99% ao mês. O ano de 1998 registrou também o pico da inadimplência entre os clientes dos bancos das montadoras: 6,8%. Hoje, o índice está em torno de 5%. Temor de assumir dívidas chegou ao mercado de usados O temor do consumidor de assumir uma dívida de longo prazo também chegou ao mercado de veículos usados. Os financiamentos, que respondiam por 75% dos negócios nos primeiros meses do ano, chegaram a uma participação de 57% nas vendas de agosto. Em setembro, entretanto, houve uma recuperação parcial: de cada 100 carros usados vendidos em São Paulo, 64 foram financiados. O diretor de financiamentos do Grupo Santander Banespa, Jerônimo Varalla, acredita que a participação das vendas financiadas nos negócios com veículos usados caiu em média 30% nos últimos quatro meses. "Diante das taxas mais altas, a pessoa prefere perder a liquidez e fazer o possível para comprar o carro à vista", disse o diretor do grupo, que atua no financiamento de carros usados para seus correntistas e por meio de convênios com revendedores de veículos. Ele acredita que as taxas devem cair em 2002, favorecendo os financiamentos. Para George Chahade, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores de São Paulo (Assovesp), o índice deve melhorar já nos próximos meses, com o pagamento do 13º salário. Outra tendência apontada por Chahade é o alongamento dos prazos de parcelamento. Na média, os planos de financiamento de usados passaram de 28 para 31 meses. O saldo financiado também cresceu, passando de 64% para 69% no período. "O consumidor está pagando o mesmo valor de parcela em um prazo maior", disse. As taxas de financiamento no mercado de usados variam de 2,8% a 3,5% ao mês. No início do ano, os juros estavam entre 1,8% e 2,2% ao mês. A elevação dos juros foi um dos fatores que derrubou as vendas de veículos usados no Estado. De janeiro a setembro, o volume comercializado pelos revendedores paulistas independentes caiu 14,3% em relação ao ano passado. Foram comercializadas 518,1 mil unidades, ante 604,5 mil veículos nos nove primeiros meses de 2000. Diante dos resultados, a Assovesp reviu suas projeções para o ano, de um crescimento de 3% a 8% para queda de 5% a 10% no mercado. A expectativa era de o volume comercializado este ano ficasse nos mesmo patamares das vendas de 2000, de 807,8 mil unidades. Agora, a projeção é de aproximadamente 760 mil veículos.

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