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Cresce temor de que IPCA estoure teto da meta

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

Economistas do mercado financeiro passaram a ficar mais temerosos de que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano escape do controle do Banco Central e ultrapasse o teto da meta de 6,5%, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), para o período. O centro da meta da inflação para este ano é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. A pergunta que vem desencadeando este debate é: se a inflação vem surpreendendo a todos até este momento, como haverá certeza de que isso não continuará a ocorrer? O primeiro ponto a colocar gás nessa suposição, portanto, está relacionado às surpresas altistas recentes dos diferentes indicadores de preço. Depois, a disparada das projeções para o IPCA (de 5,24% para 5,48%), segundo a Pesquisa Focus, do Banco Central, colocou mais lenha na fogueira. E, ontem, a revisão da própria Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para o seu índice de inflação, que deve encerrar 2008 em 5,93% e não mais em 4,5%, foi a gota d''água. Apesar de o sinal de alerta ter sido aceso, ainda é difícil encontrar quem tenha embutido essa possibilidade em sua expectativa para o fim do ano. O que nenhum analista nega é que o assunto tem sido debatido internamente nas instituições com suas equipes. E o consenso é o de que se chegou a um momento em que a possibilidade se torna mais factível. "Faz sentido essa preocupação. Não é uma simples especulação", argumentou o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Paulo Barcellos. Para se ter uma idéia, a primeira Pesquisa Focus do Banco Central deste ano apontava para uma mediana de 4,3%. "E se isso continuar ocorrendo, a inflação de 2008 pode até superar o teto da meta", disse Barcellos, acrescentado que esta hipótese é mais provável hoje do que há seis meses. Recentemente, a equipe do Sicredi elevou de 5,5% para 5,8% a projeção para o IPCA acumulado deste ano. "Este é um cenário (o do estouro da meta) que deve ser olhado, mas não é preciso apostar nele já." O estrategista-chefe da Crédit Agricole do Brasil, Vladimir Caramaschi, tem uma projeção mais elevada para a inflação deste ano, em torno de 5,7%. Para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe do período, a alta prevista ronda os 6%. "O risco (de estourar o teto da meta) existe mesmo e, a esta altura, é um problema colocado independente do que o Banco Central faça", observou. Para ele, o principal impacto para a inflação continua a vir de fora, com a alta dos preços das matérias-primas (commodities). "Se elas continuarem a subir no mercado internacional, é inevitável que haja alta aqui também", relacionou. Na Bradesco Asset Management (Bram), as estimativas para a inflação são ainda mais salgadas. A economista-chefe da instituição, Ana Cristina Costa, prevê alta de 5,63% para o IPCA este ano e nada menos do que 6,72% para o IPC-Fipe do mesmo período. "De fato, se formos olhar para o risco, é mais provável que estejamos subestimando o comportamento da inflação do que superdimensionando-a", avaliou. E subestimar a inflação é algo que foi feito pelos analistas desde o começo do ano. A mediana das projeções do mercado no início do ano estava em 4,3%, segundo a Pesquisa Focus; passando por uma forte deterioração em abril, quando chegou a 4,5%, passou por 4,6%, 4,7%, até atingir 4,82%. No mês passado, a mediana passou rapidamente por 4,9%, já atingindo a casa dos 5%. No último dia útil do mês, estava em 5,48%. Atualmente, o IPCA acumula alta de 2,75% no ano e 5,25% em 12 meses, ambos até maio. No caso do IPC-Fipe, 2,82% nos cinco primeiros meses do ano e 5,41% em 12 meses. Caso a hipótese seja confirmada, caberá ao BC apertar mais a política monetária, ou pelo menos esticar o ciclo de corte para que não haja tanta contaminação para o próximo ano. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou, pela segunda vez consecutiva, a taxa básica de juros do País, a Selic, em 0,50 ponto porcentual, para 12,25% ao ano.

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