
23 de setembro de 2014 | 02h04
É uma dificuldade a mais para empresas já debilitadas. Desde o fim do ano passado, o maior dos desafios do setor elétrico tem sido equilibrar a situação de caixa no curtíssimo prazo. Mesmo companhias de grande porte, como a Santo Antonio Energia, que vendeu mais energia do que pode produzir a hidrelétrica que constrói no Rio Madeira, atrasam compromissos na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, pedindo socorro aos sócios.
Além do marco regulatório, as dificuldades decorrem da falta de chuvas e seu impacto sobre o preço da energia, hoje em R$ 745 o megawatt-hora (MWh) no mercado livre. Esse preço é pago pela parcela da energia que as distribuidoras têm de entregar aos consumidores, além da que obtêm regularmente das geradoras.
O descompasso entre os contratos de compra e venda de energia já implicou um custo estimado em R$ 66 bilhões pelo banco JP Morgan. Mas até o fim deste ano vencerão outros contratos de fornecimento das geradoras envolvendo 2.961 MW médios. E, se o governo federal não promover leilões que assegurem o fornecimento dessa energia, as distribuidoras terão de recorrer em escala maior ao mercado livre.
A improvisação tem custos pesados para o setor de energia, que depende de políticas de longo prazo, em que nem os riscos meteorológicos podem ser ignorados. Mas, ao mudar o modelo elétrico, o governo federal não contou com a hipótese de que geradoras de grande porte, como a Cemig, de Minas, a Cesp, de São Paulo, e a Copel, do Paraná, preferissem levar suas concessões até o vencimento, sem aderir às novas regras. Já a Eletrobrás, controlada pela União, aderiu às regras e sofreu vultosos prejuízos.
Por ora, os custos da energia cara e escassa recaem sobre a União, que libera os recursos de fundos do setor, sobre as empresas obrigadas a tomar vultosos empréstimos e sobre consumidores cujas tarifas vêm sendo corrigidas em porcentuais elevados, frustrando as promessas oficiais feitas na definição do marco elétrico. Novos desequilíbrios entre oferta e demanda implicarão tarifas ainda maiores, para compensar os desajustes atuais e os previstos.
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