PUBLICIDADE

Crescimento da aviação acirra concorrência entre TAM e Gol

Duas companhias investem pesado em aumento de frota e estrutura financeira

Por Agencia Estado
Atualização:

O crescimento entre 12% e 15% previsto para o mercado doméstico de aviação em 2007 não deve tornar as coisas mais fáceis para as duas principais companhias aéreas brasileiras, TAM e Gol, pois a expectativa é que a concorrência entre elas seja ainda mais acirrada no próximo ano. As duas investem pesado em aumento de frota e contam com sólida estrutura financeira para sustentar tal expansão. Além disso, companhias menores, como OceanAir e BRA, que procuram disputar as rotas de maior procura oferecendo preços mais baixos, também prometem dar trabalho para as líderes de mercado. Não se pode descartar ainda uma eventual recuperação da Varig, apesar do futuro ser incerto hoje. "O cenário de competição será mais acirrado, já que as empresas têm preparado expressivos incrementos de capacidade, adicionando mais aeronaves às suas frotas", afirma a analista da Fitch Ratings Débora Jalles. Para Débora, caso as previsões de crescimento de demanda não se realizem, o resultado natural será um desequilíbrio entre oferta e demanda de vôos, com uma possível volta às práticas predatórias de guerra de tarifas, com conseqüente perda de rentabilidade para as empresas. Ambiente competitivo O presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, admite que espera um ambiente extremamente competitivo para o mercado aéreo em 2007, quando a empresa trabalha com expectativa de evolução entre 12% e 14% do volume de tráfego. Conforme o executivo, a estratégia da companhia para enfrentar esse cenário é continuar trabalhando com uma forte política de redução de custos e baixas tarifas, o que, na opinião dele, deverá fazer com que a Gol contribua para estimular o aumento do mercado e a expansão da participação. A empresa deverá encerrar 2006 com 65 aeronaves na frota, ante um volume de 54 aviões do terceiro trimestre de 2006, e os planos são de chegar em 2012 com 101 jatos, correspondendo a um crescimento de 12% ao ano no número de assentos disponíveis. Para 2007, estão previstas 15 novas aeronaves, o que representa um aumento de 45% na capacidade da empresa. Segundo o presidente da Gol, as novas unidades contribuirão para a empresa enfrentar o forte ambiente de competição previsto para 2007. A TAM projeta um crescimento do mercado doméstico entre 10% e 15% em 2007, com previsão de manter um market share médio acima de 50%. A empresa trabalha com uma expectativa de taxa de ocupação média nas linhas domésticas em cerca de 70% e com 13 horas voadas por aeronave por dia. A empresa também estima redução de 7% nos custos (CASK), excluindo combustível. No balanço financeiro do terceiro trimestre, a TAM afirmava que, para atingir esses objetivos, deveria focar no atendimento ao cliente, buscar oportunidades de aumento de receita com rentabilidade, além de otimizar o uso da frota com a redução dos custos operacionais. A companhia aérea também programa elevar a frota para 109 unidades em 2007, ante um total de 96 aparelhos previstos para 2006, segundo informações do balanço financeiro da empresa. Para 2008 e 2009, a projeção é chegar a 121 e 126 jatos, respectivamente, atingindo 132 aviões em 2010. A incorporação de novas aeronaves deverá contribuir para que a TAM eleve a capacidade em 2007 em 30% nas rotas para o mercado doméstico e em 60% nas linhas internacionais. De acordo com o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, o aumento do número de aviões prepara a empresa para a operar novas rotas, principalmente nos trechos internacionais. Ampliação da malha Além dos planos ambiciosos de TAM e Gol, BRA e OceanAir têm ampliado a malha de atuação e lançado promoções de passagens com o objetivo de conquistar os passageiros mais sensíveis a preço e com maior disponibilidade de horários - um nicho que foi muito explorado pela Gol quando iniciou as operações, em 2001. A estratégia tem surtido efeito. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no acumulado dos primeiros dez meses do ano, a BRA detinha 4,23% do mercado doméstico. Atualmente a empresa chega a mais de 30 destinos, a maioria da Região Nordeste. A empresa conta com 11 aeronaves - 1 Boeing 767-200 (234 passageiros), 6 Boeing 737-300 (148 passageiros), 3 Boeing 737-400 (170 passageiros) e 1 Boeing 767-300 (280 passageiros). A OceanAir detinha 1,29% do mercado entre janeiro e outubro de 2006, operando para 23 cidades. A expectativa é de ampliar o número de destinos atendidos para 26 no início de 2007, quando se espera a aprovação das novas rotas pela Anac. A companhia, que opera, atualmente, com 10 jatos MK-28, mais conhecidos como Fokker-100 (100 lugares), 7 Brasílias (30 lugares) e 3 F-50 (48 lugares), também programa a compra de mais seis aeronaves MK-28 em 2007. A nova Varig, por sua vez, espera autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar plenamente. Enquanto a homologação para operar como empresa de transporte aéreo (certificado conhecido como Cheta) não sai, a companhia voa usando as licenças da antiga Varig. Atualmente, a companhia tem 14 aviões, que atendem a 12 destinos domésticos e quatro internacionais. A "Varig antiga" continua em processo de recuperação judicial e deverá usar as licenças para voar com a marca Nordeste. Quinto maior mercado Atualmente, o Brasil é o considerado o quinto maior mercado doméstico mundial, mas com forte potencial de expansão, quando comparado a países como os Estado Unidos, Chile e Argentina. De acordo com a Anac, em 2005, o Brasil registrou 35,8 milhões de embarques domésticos e 5 milhões de embarques internacionais, sendo a população de 184 milhões de habitantes. Já os EUA, que, no mesmo período, possuíam uma população de 293 milhões de habitantes, apresentaram 670,4 milhões de embarques domésticos e 68,2 milhões de embarques internacionais. Historicamente, a correlação entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o crescimento do mercado de aviação é de 2,5 vezes no Brasil. No entanto, nos últimos anos, observa-se um forte descolamento desta relação. Pelos dados da Anac, a demanda doméstica cresceu 12% em 2004, 20% em 2005 e 22% no primeiro semestre de 2006, com incrementos de 5,5; 4,6 e 2,1 pontos percentuais, respectivamente, nas taxas de ocupação. O modal aéreo, no entanto, ainda representa apenas 2% do setor de transporte no Brasil. O perfil da demanda por serviços aéreos no País divide-se entre viagens de negócios, em torno de 70%, e viagens a lazer, com 30%. Contudo, uma nova tendência na estrutura do setor de transporte nacional é percebida nos últimos anos. No passado, os aviões eram acessíveis apenas a cidadãos de maior renda, explicando o baixo uso deste meio de transporte. Atualmente, verifica-se um maior número de passageiros que nunca, ou raramente, usaram o avião como meio de locomoção. A disponibilidade de operadoras com baixo custo e baixa tarifa, o desenvolvimento da economia, o incremento de renda e a maior oferta de crédito disponível contribuíram para este resultado. Segundo Constantino, cerca de 10% dos passageiros transportados pela Gol nos cinco anos de existência voaram pela primeira vez na vida.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.