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Crescimento de 0,3% indica fim da recessão na França e na Alemanha

Resultado do 2.º trimestre é animador, mas União Europeia ainda enfrenta recessão, com recuo de 0,3% no PIB

Por Andrei Netto e PARIS
Atualização:

Depois de um ano inteiro enfrentando crescimento negativo, as duas maiores economias da União Europeia retomaram a atividade econômica e puseram fim - pelo menos tecnicamente - à recessão. Os Produtos Internos Brutos (PIBs) da Alemanha e da França cresceram 0,3% no segundo trimestre de 2009, quebrando a espiral de queda que já durava quatro trimestres. Na contramão, a União Europeia continua enfrentando a recessão, com recuo de 0,3% no período, porque países como Reino Unido e Itália continuam em retração. Celebrada em Berlim e Paris antes mesmo de seu anúncio oficial, a informação foi revelada ontem pela manhã pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), de Bruxelas. Dos 17 países que tiveram seus dados divulgados, cinco retomaram o crescimento econômico: Alemanha, França, Portugal e Grécia, todos com 0,3%, e Eslováquia, com 2,2%. A informação provocou euforia entre as equipes econômicas desses países. Na França, a ministra da Economia, Christine Lagarde, interrompeu as férias para antecipar a informação à rádio RTL, de Paris. "É uma cifra claramente positiva e nos alegra", festejou, menosprezando o fato de o PIB do país ter caído 1,2% no primeiro semestre. E citou dados da Itália (-0,3%), Grã-Bretanha (-0,8%) e dos Estados Unidos (-0,3%). O dado positivo se deveu à baixa dos preços ao consumidor, o que resultou na manutenção do consumo, e ao aumento das exportações, que superaram, no período, as importações. Em Berlim, a celebração não foi menor. "Esses números mostram que o pior da recessão ficou para trás", disse o ministro da Economia, Karl-Theodor zu Guttenberg. A comemoração, entretanto, não foi completa. Outros 11 países da UE ainda estão em recessão, incluindo o Reino Unido, a Itália e a Holanda, terceira, quarta e sexta maiores economias do bloco. A Suécia foi a única estagnada. No conjunto da UE, o desempenho foi mais uma vez negativo, embora próximo da estabilidade: 0,1%. Considerada apenas a zona do euro, grupo de 16 países - a maioria da Europa Ocidental -, que adota a moeda única, o decrescimento foi mais acentuado, de 0,3%. Além disso, no apanhado anual a recessão não faz exceções. Todos os 17 países analisados enfrentaram queda de 4,8% no PIB, incluindo os motores do bloco: Alemanha (5,9%), França (2,6%), Reino Unido (5,6%) e Itália (6%). Apesar do otimismo, economistas ouvidos pelo Estado em Paris e em Frankfurt são mais prudentes. "Fomos surpreendidos pelas altas na Alemanha e na França, mas ainda é cedo para afirmar que a retomada sustentável da atividade está em curso", diz Clemente De Lucia, especialista em zona do euro do banco BNP Paribas. "O certo é que o crescimento ainda será muito fraco até maio de 2010." Marc Touati, diretor-geral da consultoria Global Equities, acredita que as estatísticas do Eurostat dissipam o risco de uma grande depressão, a exemplo dos anos 1930, mas pediu calma. "O crescimento é um símbolo técnico ligado aos planos de relançamento, à baixa do petróleo, ao incentivo à venda de automóveis, à queda do valor do euro." Para ele, a fragilidade da Europa permanece e não resistirá a um euro forte demais ou ao aumento da taxa de juros pelo BCE. "Após quatro trimestres seguidos de baixa, a progressão do segundo trimestre de 2009 é antes de mais nada uma recuperação modesta da fraqueza. Não é exatamente um sinal de retorno sustentável do crescimento." Cedric Thellier, economista do banco Natixis, em Frankfurt, disse temer o início de uma nova recessão já no início de 2010, fruto do esgotamento dos planos de relançamento das economias europeias. "A questão em aberto é como será o desempenho da economia quando esses planos não tiverem mais efeito", questiona Thellier, lembrando que o consumo familiar, que impulsionou a indústria automobilística, entre outras, tende a se degradar com o fim dos incentivos fiscais e com o efeito retardado do desemprego. "Ainda não podemos dizer que saímos da recessão e viveremos, daqui para a frente, um crescimento linear."

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