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Crise aérea já prejudica os negócios

Ainda assim, as projeções para o crescimento do PIB neste ano estão sendo mantidas pelos economistas

Por Nilson Brandão Junior
Atualização:

A crise aérea está causando prejuízos a empresas e passageiros, mas ainda não é suficiente para alterar as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Mas os economistas concordam que o ambiente de negócios e a imagem do País estão sendo afetados. ''''Esse caos vai, obviamente, gerar um custo gigantesco'''', diz o economista Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo federal . Embora admita ser difícil calcular o prejuízo, ele estima que pode passar de R$ 1 bilhão, levando em conta os setores e as atividades atingidos. O PIB em 2006 foi de R$ 2,3 trilhões. Castelar explica que o caos aéreo prejudica os negócios e o turismo. Aumenta o custo de seguros e afeta a exportação de produtos transportados por avião, como frutas e eletroeletrônicos. Num exercício de simulação, ele calcula que o custo de um dia útil perdido para um grupo de 10 mil executivos com salários individuais de R$ 12 mil seria de R$ 6 milhões. ''''Isso é uma gota. Os valores perdidos são maiores. A economia perderá muito. Vendo o PIB como um todo, o impacto é menos significativo e não devem ocorrer mudanças dramáticas nas previsões de crescimento. Mas essa crise influencia a economia'''', diz Castelar. O economista Sergio Valle, da MB Associados, também avalia que é cedo para calcular os estragos. Ele afirma que a expansão de 4,5% do PIB continua mantida. ''''Não vamos deixar de crescer nesse ritmo, mas há uma série de perdas de eficiência com esse caos.'''' A economista do Ipea Lucia Helena Salgado lembra que 70% da demanda do setor aéreo é de viagens de negócios, 25% turismo e os 5% restantes, pessoais. Daí a conclusão de que a economia perde dinamismo com a crise. ''''Vai haver aumento de custos. Várias empresas deliberaram que seus executivos não voam mais por Congonhas. Isso aumenta custos, direta ou indiretamente'''', diz o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira. A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria, diz que a previsão de crescimento de 4,8% neste ano, feita sem considerar o impacto do transporte aéreo, está mantida. Para Fernando Montero, economista da Corretora Convenção, a crise está tendo impacto na imagem e na confiança. ''''Quando se quer investir numa economia, se quer saber se há serviços de energia, portos, infra-estrutura, se pode viajar em aviões seguros. Esta crise tem impactos, sim'''', diz ele. MISSÕES CANCELADAS Os efeitos da crise aérea começam a atingir o comércio exterior. Desde sexta-feira, pelo menos duas missões internacionais foram canceladas. Traziam executivos americanos e australianos para fechar acordos comerciais. Outra, do México, só cumpriu a agenda de encontros com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) porque os 40 representantes viajaram em um avião emprestado pelo presidente Felipe Calderón. ''''Perdi as contas de quantas reuniões com empresários e quantas missões internacionais foram canceladas esta semana porque os estrangeiros estão com medo de chegar ao Brasil e não conseguir voltar'''', desabafou o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca. '''' O retorno dos aviões procedentes dos Estados Unidos na sexta-feira (causado pela pane elétrica no centro de controle de vôo de Manaus) provocou tumulto no Aeroporto de Miami, para onde as aeronaves foram deslocadas, e causou danos à imagem do Brasil lá fora. Eu estava lá. É uma vergonha nacional essa crise porque traz à tona a incapacidade de gestão do governo.'''' O próprio Giannetti, que se reuniu em Brasília, anteontem, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, só conseguiu viajar em um bimotor emprestado. O vôo decolou de Viracopos, em Campinas, e levava outros três empresários. Os demais alugaram um jato executivo porque o vôo comercial que os levaria a Brasília foi cancelado. O encontro, para discutir a valorização do real, seria com o presidente Lula. Mas ele não pôde receber os empresários por causa da crise.

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