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Crise amplia restrições aos estrangeiros na União Europeia

Desemprego e expulsões levam brasileiros a deixar a Espanha e a Itália

Por Andrei Netto
Atualização:

Mesmo que proíbam campanhas públicas contra trabalhadores estrangeiros, como a American Worker faz nos Estados Unidos, os governos das maiores economias da União Europeia têm adotado políticas restritivas a forasteiros no mercado de trabalho. Entre as ações estão a punição de empresários que empregam ilegais e incentivo financeiro ao retorno dos trabalhadores. Os casos mais graves ocorrem na Itália e na Espanha - países que mais recebem ilegais no continente. Na Europa, a única demonstração aberta de repúdio aos estrangeiros desde o aprofundamento da crise ocorreu na Inglaterra, no início de fevereiro, quando sindicatos britânicos protestaram contra a contratação de operários portugueses e italianos para as obras de ampliação de uma unidade da Total em Lindsay, a leste do país. As manifestações foram denunciadas como protecionismo, mas não são isoladas. Medidas de restrição do mercado para estrangeiros são criadas toda semana na Europa. Na sexta-feira, o Parlamento Europeu aumentou as sanções para empresários que contratarem trabalhadores clandestinos, estimados entre 4,5 milhões e 8 milhões. O projeto se somará a outras ações de controle da imigração, como o Pacto Europeu de Imigração e Asilo e o Fundo Europeu para o Retorno, que investirá 676 milhões até 2013 para repatriar trabalhadores. A política já é aplicada na Espanha, onde o Plano de Retorno Voluntário tem fila de 2 mil pessoas - inclusive brasileiros. No país, a população de imigrantes é estimada em 10% dos 45 milhões de habitantes e as restrições a estrangeiros vêm aumentando desde abril. Com a posse do novo ministro do Trabalho, Celestino Corbacho, desempregados do país passaram a ter prioridade. Outra medida, reconhecida pelo Ministério do Interior, foi a criação de metas de prisões de trabalhadores estrangeiros ilegais. Para Edineia Silva, presidente do Núcleo de Entidades Brasil-Espanha, em Madri, a situação é a pior desde que chegou à Europa, há 22 anos. "Os brasileiros estão perdendo empregos em massa", conta Edineia. Na Itália, a situação não é diferente. Desde a chegada de Silvio Berlusconi ao poder, a política anti-imigração vem sendo endurecida. Na sexta, o Conselho de Ministros aumentou o tempo de prisão para ilegais de dois para seis meses. Trabalhadores do Leste Europeu são os mais visados, mas brasileiros também deixam o país. Parte desse contingente prefere ir para a Inglaterra. Segundo Carlos Mellinger, presidente da Associação dos Brasileiros no Reino Unido, ex-residentes da Espanha, da Itália e da Irlanda chegam a Londres todos os dias. "Nós ocupamos vagas não especializadas, que os britânicos continuam não querendo exercer." Na Alemanha e na França, a situação de brasileiros é menos tensa. Em Colônia, onde a presença de latinos é maior, a situação dos estrangeiros continua estável, conta a advogada Paula Katzenstein, ligada à Sociedade Brasil-Alemanha (DBG). "Como a crise é mundial, muitos têm me dito que preferem continuar na Alemanha." Na França, que também adota metas mensais de expulsão de estrangeiros, os brasileiros não são atingidos. "Brasileiros quase não fazem parte desse contingente, pois são imigrantes legais, de classe média e alta", diz Eric Soisson, da Rede Educação sem Fronteiras, que auxilia ilegais no país.

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