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Crise atinge brasileiros nos EUA

Imigrantes foram alvo de créditos com garantia hipotecária e contraíram dívidas que não estão conseguindo pagar

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

O imigrante brasileiro Vítor Rodrigues já está com três prestações atrasadas na casa que comprou em Silver Springs, perto de Washington. Rodrigues, supervisor em uma empresa de construção, não está conseguindo pagar as prestações de US$ 2,9 mil. Em janeiro, o valor mensal vai saltar para US$ 3,6 mil por causa das ''''taxas de juros ajustáveis''''. ''''Entrei em uma furada'''', diz Rodrigues. ''''Já enterrei US$ 50 mil na casa.''''   Entenda a crise dos mercados Ele pôs a casa à venda, mas está difícil. Rodrigues sabe que vai perder dinheiro, pois os preços dos imóveis já caíram mais de 30% na região. Mas ainda é melhor do que passar por uma execução de hipoteca e ficar com o crédito arranhado. Assim como Rodrigues, milhares de imigrantes brasileiros estão sofrendo por causa da crise imobiliária dos Estados Unidos. Os latinos, entre eles os brasileiros, foram o foco do mercado subprime nos últimos anos, porque muitos não têm histórico de crédito impecável ou meios de comprovar emprego. Empresas de hipoteca cortejaram os brasileiros, oferecendo financiamentos sem necessidade de muita documentação ou comprovação de renda. Muitos imigrantes ilegais conseguiram comprar casa própria, com os financiamentos No Docs, No Money Down e Ninja (No Income, No Jobs, No Assets). Segundo Fausto Mendes da Rocha, diretor executivo do Centro do Imigrante Brasileiro, com sede em Allston, Massachusetts, dos 230 mil brasileiros no Estado, 30 mil têm casa própria. Desses, 1 mil estão com dificuldades para pagar. ''''Por dia, recebo 20 pessoas com dificuldades de pagar suas casas'''', diz Rocha. ''''Quando a pessoa tem dívida muito grande e também acumulou débitos no cartão de crédito, aconselhamos a pedir falência pessoal.'''' Mesmo assim, conta Rocha, muita gente se desespera e abandona tudo - fecha a porta de casa e vai embora. Ele calcula que 5 mil brasileiros vão deixar os Estados Unidos este ano, por causa de dívidas imobiliárias e dificuldade de conseguir emprego por causa do endurecimento das leis de imigração. Há 1,12 milhão de brasileiros vivendo nos Estados Unidos, sendo 705 mil ilegais. Os brasileiros se concentram nas regiões de Boston, Miami e Nova York-Nova Jersey. Nos Estados Unidos, cerca de 10% das pessoas que tomaram empréstimos subprime estão com as prestações atrasadas, segundo estimativas das associações de financiamento de hipotecas. NO CONTRAPÉ Muitos desses empréstimos tinham juros ajustáveis - que muitas vezes dobram no segundo ano. Outros tinham prestações muito acima do que poderiam pagar, mas eles acharam que conseguiriam vender o imóvel rapidamente, a um preço maior, e embolsar o lucro. Mas a bolha imobiliária estourou e eles foram pegos no contrapé. Foi o caso da cabeleireira Simone Santana, dona de um salão em Allston. Ela já tinha uma casa financiada, mas resolveu pegar uma segunda hipoteca, para morar mais perto de seu trabalho. ''''Pensei em acabar de pagar a primeira casa para depois vender por um preço bom'''', diz Simone, depiladora especializada em ''''brazilian wax'''' (depilação completa). Mas as taxas de juros da primeira hipoteca eram flutuantes e a hipoteca subiu para US$ 2,2 mil. Ficou difícil para Simone arcar com os dois financiamentos - ela paga US$ 1,8 mil na casa que mora - e ela parou de pagar a primeira . Está no mercado para o chamado ''''short sale'''', uma venda de emergência a um preço inferior ao valor do imóvel. Muitos imigrantes foram induzidos a fazer o financiamento - os agentes de hipoteca ganhavam grandes comissões para vender os financiamentos subprime. ''''Eu avisei para o agente que não podia pagar US$ 1,6 mil e ele me garantiu que não passava disso'''', conta Rodrigues. Os agentes imobiliários afirmam que muita gente se entusiasmou com o boom imobiliário e acabou se dando mal. ''''Tem gente que já era dono da casa e resolveu refinanciar - pegou o dinheiro e comprou caminhão, apartamento no Brasil... agora não consegue pagar o financiamento'''', diz Pablo Maia, da empresa de hipotecas Seagate Financial. O capixaba Evaldo Vieira tem uma empresa de financiamento imobiliário, a First Home, onde 80% dos clientes são brasileiros. Os negócios estão parados. ''''Os bancos cortaram as linhas de crédito para financiamento subprime.'''' Segundo Vieira, ''''muita gente comprou casa acima das posses''''. ''''Conheço uma faxineira que comprou uma casa de US$ 1,5 milhão com uma empresa de hipoteca; ela deu de entrada US$ 200 mil, todas as economias da vida dela, mas não conseguiu pagar as prestações e perdeu a casa e os US$ 200 mil.'''' No dia 14 de setembro, Vieira vai promover um seminário sobre a crise imobiliária para a comunidade brasileira.

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