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Crise aumenta cautela entre brasileiros que investiram nos EUA

Temores sobre mercado imobiliário não chegaram a afastar investidores brasileiros.

Por Adriana Stock
Atualização:

O agravamento da crise imobiliária nos Estados Unidos aumentou a cautela entre os brasileiros que compararam imóveis no país como forma de investimento, mas não chegou a afastá-los do mercado. Pesquisa divulgada nesta quarta-feira pela Associação Nacional de Corretores (NAR, na sigla em inglês) apontou que durante o segundo trimestre o preço de uma casa tipo "single-family" nos Estados Unidos era, em média, de US$ 223,8 mil, 1,5% a menos do que há um ano. Foi a quarta queda consecutiva. Mas Lawrence Yun, economista da NAR, prevê uma melhora a partir de março de 2008, com um aumento de preços na faixa de 2% ao ano, e uma alta ainda maior em 2009. A brasileira Giselle Leonard, corretora de imóveis em Stamford, Connecticut, aguarda essa melhora dos preços para tentar sair de um mau negócio que fez em 2006. O negócio, a compra de uma casa em um complexo residencial na Flórida, parecia a oportunidade dos sonhos. Sem precisar pagar um centavo de entrada (o que hoje, em função da crise de liquidez, já é praticamente impossível), ela comprou uma casa na planta com a expectativa de que, quando terminada, lhe rendesse uns US$ 80 mil de lucro. "Achei que quando a casa fosse entregue eu conseguiria vendê-la e fazer um dinheiro rápido, mas isso não funcionou", conta. Cerca de 5 mil casas foram construídas no complexo residencial, o que levou a um enxurrada de ofertas no mercado. "Um investidor começou a vender mais barato do que o outro. A casa que antes valia US$ 230 mil está agora no mercado por US$ 180 mil", diz. "A casa está alugada, mas o aluguel não paga a minha hipoteca. Estou perdendo nessa", lamenta. Brasileiros que investiram no início da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em 2001, se sentem mais protegidos dos efeitos nocivos da atual crise nos mercados imobiliário e hipotecário. Na época, eles garantiram hipotecas pré-fixadas com taxas de juros baixíssimas e os preços das residências ainda não estavam inflacionados. Foi o caso de José Moreira, que tem um restaurante em Nova Jersey e administra oito casas. A primeira propriedade foi comprada em 2001 por US$155 mil - atualmente vale US$ 550 mil, segundo ele. "Depois que você comprou a primeira casa fica mais fácil de comprar outras", diz Moreira. Meses após a compra, no auge da bolha imobiliária, a casa já havia acumulado uma valorização de US$ 100 mil. Ele aproveitou para fazer uma nova hipoteca, tendo o novo valor da casa como garantia, e com o dinheiro comprou mais residências. Quem tem sofrido com a turbulência dos mercados, na avaliação do brasileiro, são aqueles que não souberam investir. "Meu próprio irmão comprou uma casa e depois comprou uma outra. Um ano atrás essa casa valia US$ 460 mil. Ele acabou de vendê-la há um mês por US$ 380 mil", conta. Sílvio de Souza, dono de um jornal voltado ao público brasileiro nos Estados Unidos, tem uma história parecida com a de Moreira. Também comprou suas quatro casas em um período com juros baixos e preços não inflacionados. Os aluguéis cobrem as prestações das hipotecas e ainda reforçam a renda mensal. "Eu não quero vender nenhuma casa agora. Se eu quiser, vou tomar prejuízo", disse. O clima também é de cautela entre os brasileiros que decidiram investir no mercado imobiliário na Grã-Bretanha. Apesar de estar confiante de que os efeitos da crise nos EUA não devem afetar seus negócios, o brasileiro Jeferson Melo, baseado em Londres, admite que é hora de "segurar um pouco o ritmo dos investimentos". "Devo diminuir o ritmo dos investimentos, mas não acho que pessoalmente vou sofrer perdas financeiras se o mercado desvalorizar. Já me planejei para pagar taxas de até 9%, sabendo que agüentaria o tombo." O brasileiro também reconhece que o terreno pode ser perigoso para novos investidores. "Começar agora é um pouco arriscado porque a bolha pode estourar. Quem não tiver experiência poderá sofrer conseqüências se o mercado desvalorizar." Melo chegou à Grã-Bretanha há 13 anos sem nunca ter investido em propriedades no Brasil. Em 2000, ele descobriu no mercado imobiliário britânico a "maneira mais certa de fazer dinheiro". De lá para cá adquiriu 60 imóveis, que hoje estão alugados e seguem se valorizando com as altas constantes do mercado imobiliário. A analista de mercado imobiliário Ann Roberts, da National Housing Federation, concorda com as opiniões dos brasileiros. Ela calcula que mesmo que o Bank of England continue reajustando os juros (a previsão é de que as taxas cheguem a 6% até o fim do ano) os preços dos imóveis vão continuar subindo. "O aumento dos juros e a crise no mercado imobiliário americano não devem provocar um grande impacto aqui. Enquanto houver demanda por imóveis, como acontece agora, os preços vão continuar subindo", explica. E acrescenta: "Se eu fosse um proprietário brasileiro, continuaria achando que investir no mercado imobiliário é um grande negócio". *Colaborou Fernanda Nidecker, de Londres BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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