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Crise brasileira é analisada pelo BIS

Por Agencia Estado
Atualização:

A crise econômica no Brasil é um principais temas do capítulo dedicado aos mercados emergentes do relatório trimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), estudo que faz uma avaliação retrospectiva do mercado financeiro internacional nos últimos meses. Segundo o ´banco central dos bancos centrais´, os mercados financeiros e diversos países emergentes, "principalmente no Brasil", foram afetados por uma combinação de eventos domésticos e da crescente aversão ao risco entre os investidores globais. "No Brasil e Turquia, a incerteza política aliada às crescentes preocupações sobre a sustentabilidade das cargas das dívidas tiveram um forte peso nos preços dos ativos e no valor das moedas", disse o BIS, que também mencionou a crise bancária no Uruguai. "O efeito desses eventos foi o de elevar os prêmios de risco nos mercados emergentes, principalmente naqueles países com grandes déficits fiscais ou pesadas necessidades de financiamento. O banco observou, no entanto, que com a "habilidade dos investidores de diferenciar os países emergentes, os créditos de alta qualidade foram relativamente menos afetados pelo contágio do Brasil". As emissões de bônus e ações dos países asiáticos, por exemplo, foram muito intensas no segundo trimestre deste ano. Elas foram alavancadas principalmente pela maior emissão corporativa já feita na região, os US$ 2,7 bilhões da companhia petrolífera Petronas, da Malásia. Em relaçao ao Brasil, o BIS salientou que as incertezas relacionadas à eleição presidencial e com a sustentabilidade dos déficits fiscais colocaram os ativos do País sob pressão, "mas as características estruturais da dívida soberana brasileira" agravaram o problema. "Um círculo vicioso se desenvolveu rapidamente, com o real perdendo metade de seu valor entre meados de abril e o final de julho", disse o banco. "Os spreads da dívida soberana do País denominada em dólares quase quadruplicaram no período, atingindo quase 2400 pontos base." O BIS observou que o acordo de US$ 30 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) trouxe algum alívio para o País no início de agosto. "Entretanto, a natureza do acordo e o ceticismo do mercado sobre a capacidade de qualquer dos atuais candidatos à presidência de cumprir com os seus termos fiscais reverteram rapidamente boa parte dos ganhos registrados logo após o seu anúncio." Além disso, como fator adicional de pressão, a classificação da dívida soberana do Brasil foi rebaixada pela agência Moody´s para ´B2´, cinco notas abaixo do nível ´grau de investimento´ (investment grade) poucos dias após o pacote do FMI. Entretanto, o BIS salientou que, no final de agosto, os spreads dos títulos brasileiros declinaram novamente "com o crescente apoio ao candidato à presidência da coalisão governamental, a aparente estabilização da taxa de câmbio e o declínio global da aversão ao risco". O BIS afirmou que as empresas e bancos latino-americanos tiveram mais dificuldades para obter financiamentos bancários externos do que outras regiões. No primeiro trimestre deste ano, o volume de financiamentos para a região caiu US$ 5 bilhões, ou 5% em relação há um ano, os contratos de empréstimos sindicalizados atingiram seus níveis mais baixos desde 1996. A Argentina foi a principal responsável pela queda dos créditos para a região. Mas o BIS frisou que os financiamentos para o Brasil e México tiveram uma performance melhor do que a de outros países latino-americanos no primeiro trimestre. Os empréstimos bancários internacionais para o Brasil cresceram em US$ 700 milhões, o mesmo resultado registrado pelo mercado mexicano. A maior parte desses créditos foi obtida por corporações e não bancos. O BIS ressaltou que as empresas latino-americanas terão um pesado cronograma de pagamentos de dívidas de empréstimos sindicalizados neste segundo semestre, com o vencimento de mais de US$ 10 bilhões. As empresas mexicanas terão a maior carga de dívidas sindicalizadas a saldar, US$ 10 bilhões, seguidas pelas companhias argentinas, que terão que pagar US$ 2,9 bilhões. As emissões de papéis latino-americanos nos mercados internacionais caíram de US$ 4 bilhões no primeiro trimestre para US$ 3 bilhões no três meses seguintes, principalmente por causa da queda desse instrumento de financiamento no México e Brasil.

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