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Crise das exportações faz rede vender frango a R$ 0,99

Apesar do benefício aos consumidores, a diminuição das exportações brasileiras traz dados preocupantes. No mês passado, as vendas externas caíram 7,8% (redução de 50 mil toneladas).

Por Agencia Estado
Atualização:

A crise nas vendas externas do frango brasileiro já começou a fazer efeito no bolso do consumidor. Seguindo a tendência de baixa no preço do produto, no próximo sábado, em algumas lojas paulistas do Grupo Pão de Açúcar, o quilo do frango será vendido a R$ 0,99. Como as exportações caíram, os produtores estão desovando os excedentes no mercado interno. Alguns preços no atacado chegaram a cair 30%, permitindo aos supermercados reduzir preço. "Negociamos um navio inteiro que seguiria para a Europa e a Ásia e teve o pedido cancelado", explicou, por meio de nota, o diretor comercial de carnes e aves do grupo, Wilson Barquilla. No início do ano, o quilo do frango saía por até R$ 2,50. Agora, custa entre R$ 1,49 e R$ 1,69 no Pão de Açúcar (fora as promoções de R$ 0,99). "Antes, era impensável fazer uma promoção dessas", diz Barquilla. O executivo afirma que a situação chega a ser preocupante. "Para o consumidor é bom, mas os produtores estão sofrendo, muitos estão vendendo o frango abaixo do custo". Segundo a Associação Paulista de Avicultura, o quilo do frango resfriado caiu de R$ 1,70 em fevereiro para R$ 1,50 em março. O quilo do peito de frango passou de R$ 2,30 para R$ 2,10. Segundo o Barquilla, o grupo estima vender 2,25 milhões de quilos de frango, apenas no sábado. Participarão da promoção algumas lojas do Extra, CompreBem e Pão de Açúcar. Exportações Apesar do benefício aos consumidores, a diminuição das exportações brasileiras traz dados preocupantes com relação às exportações. Com o pânico da gripe se espalhando, em alguns países o frango simplesmente desapareceu dos pratos dos consumidores. No mês passado, as vendas externas caíram 7,8% (redução de 50 mil toneladas). Segundo analistas, as exportações brasileiras devem ficar estagnadas ou cair até 15% em 2006 - o que representa uma perda de US$ 525 milhões. A tendência de queda das exportações deve se acelerar daqui para a frente. Em março e abril serão renovados contratos e importadores japoneses começam a tirar proveito da crise, exigindo descontos nos preços. A receita das empresas brasileiras para enfrentar a crise é a trivial: redução da produção em até 25%, demissão de funcionários e férias coletivas. Mercado de trabalho sofre No Paraná, um dos estados que mais exportam frango, o cenário pessimista é de um corte de 10 mil funcionários. Até agora, pelo menos 250 pessoas perderam o emprego. Segundo cálculos da Embrapa, a cadeia produtiva do frango gera 4 milhões de empregos no País, dos quais 400 mil podem desaparecer por causa da gripe. "Será a primeira vez na História que as exportações brasileiras de frango vão cair ou ficar estagnadas", disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos, Ricardo Gonçalves, (Abef). O Brasil é o maior exportador de frango do mundo desde 2004, ano em que deixou para trás os Estados Unidos. Além da redução do consumo por causa da gripe aviária, dois outros fatores vão prejudicar as exportações de frango neste ano: o baque do dólar e os altos níveis de estoque na Europa, Rússia e no Oriente Médio. Recomendações No começo de fevereiro, a União Brasileira de Avicultura (UBA) e a Abef fizeram uma reunião para recomendar aos produtores que reduzissem a produção em 10% a 15%. Mas, há alguns dias, a Abef precisou radicalizar sua orientação e passou a recomendar aos sócios um corte de 25%. "Os números de fevereiro vieram bem abaixo do esperado", afirma Gonçalves. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gripe aviária já causou perdas de US$ 10 bilhões nos países afetados. O medo da gripe vai levar a uma queda mundial no consumo de aves que pode chegar a 3 milhões de toneladas. Na Europa, a redução do consumo oscila de 70% (na Itália) a 20% (na França). Na Índia, a queda é de 25%. Colaborou Paulo Baraldi

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