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Crise deve afetar lançamento de ações

Analistas avaliam que investidores devem se tornar mais seletivos

Por Silvia Fregoni
Atualização:

A atual crise dos mercados, com redução da liquidez mundial, terá reflexos sobre as ações de empresas brasileiras estreantes nas bolsas (ofertas iniciais de ações - IPOs, na sigla em inglês). A avaliação é de executivos que participaram ontem de seminário promovido pela Brasiprev, sobre as tendências e melhores estratégias de investimentos no longo prazo. "A partir de setembro, quando voltarem às atividades após as férias no hemisfério norte, os investidores estarão muito mais seletivos e racionais em relação aos papéis. As ofertas boas sairão, mas com preços menores", disse o ex-diretor do Banco Central e sócio da empresa de gestão de recursos Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo. "As operações que estão na fronteira terão de ser adiadas", complementou. Para Jim McCaughan, diretor-geral de Investimento do Principal Financial Group (PFG), é muito difícil que uma empresa consiga fazer uma oferta de ações agora, devido ao ritmo lento de investimentos nos mercados americano e europeu. "A dúvida é sobre a situação em setembro e outubro", afirmou. O PFG é líder em previdência complementar para pequenas e médias empresas nos Estados Unidos e sócio do Banco do Brasil na Brasilprev. O diretor-executivo de Mercado de Capitais e Investimentos do BB, Francisco Cláudio Duda, concorda que os investidores se tornarão mais seletivos e acredita que o reflexo nas ofertas não é maior porque a crise está ocorrendo no mês das férias nos países desenvolvidos. Houve uma avalanche de IPOs em julho, para aproveitar a presença dos investidores. Os estrangeiros são responsáveis pela compra da maior parte das ações das ofertas brasileiras. Na avaliação desses executivos, porém, a crise de liquidez é passageira, decorrente de uma acomodação dos mercados. Dessa forma, não deverá afetar a economia real. "Não acredito em recessão", disse McCaughan. Para Figueiredo, a crise atual é parecida em intensidade com a de maio do ano passado. Segundo ele, os preços dos ativos no Brasil neste mês se distanciaram mais dos fundamentos da economia do que em outros lugares do mundo. Cláudio Duda acredita que o câmbio não deve se alterar o suficiente para mudar fortemente a balança comercial brasileira. Para ele, o comportamento da inflação e do Produto Interno Bruto (PIB) nacionais já está dado neste ano. "Esperamos crescimento em torno de 4,5% para a economia." Os executivos elogiaram a atuação do Fed - o BC americano - na crise. "Estou bastante impressionado com o trabalho de Ben Bernanke para combater a crise. O problema não está resolvido, mas a solução está a caminho", disse McCaughan. Figueiredo destacou que os mercados se movem mais rapidamente que os governos e os bancos centrais e, muitas vezes, reclamam da demora de ação do regulador. "O importante é salvar o sistema. As medidas do Fed são apropriadas." Na opinião dos executivos, é impossível dizer que a redução da liquidez não atingirá o Brasil. "O País está globalizado, e a balança comercial e as reservas são termômetros disso. Entretanto, a nossa situação é bem diferente da verificada nas crises passadas", disse Figueiredo.Segundo McCaughan, é consenso que o Brasil alcançará o nível de investimento em dois anos. "Porém, se houver recessão nos Estados Unidos, vai demorar mais."

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