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Crise deve tirar US$ 11 bi do País até o fim do ano

BC projeta forte saída de capital especulativo; entre 1 e 19 de setembro, fluxo já foi negativo em US$ 2,82 bi

Por Sergio Gobetti
Atualização:

As turbulências no mercado financeiro internacional começaram a afetar o fluxo de dólares para o País e levaram o Banco Central (BC) a divulgar ontem uma projeção de saída de US$ 11 bilhões de capitais de curto prazo até o fim do ano. Em agosto, o BC ainda registrou uma entrada líquida de US$ 2,85 bilhões de capitais especulativos, mas em setembro esse fluxo já se inverteu. Um dos sinais dessa reversão aparece no fluxo de dólares deste mês. Até o dia 19, já se percebe uma saída de US$ 2,82 bilhões nas operações financeiras de compra e venda da moeda americana, que supera os ganhos decorrentes da balança comercial, de US$ 1,78 bilhão. Questionado sobre a relação entre esse movimento e a crise originada no mercado imobiliário americano, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, comentou: "Não acho, tenho certeza de que parte significativa desse fluxo de saída está sendo usada para cobrir prejuízos lá fora." Lopes não vê, entretanto, nenhum sinal de que esteja em curso uma fuga de capitais. "Em outros tempos, uma crise como essa teria levado a uma grande saída." Apesar da revisão do BC, as contas externas ainda registram uma entrada líquida de US$ 49,2 bilhões de capitais de curto prazo até o fim de agosto. É esse estoque que, pelas novas estimativas, deverá cair para US$ 37,5 bilhões no fim de dezembro, o que o chefe do Departamento Econômico atribui também às medidas adotadas pelo BC em junho para limitar a exposição cambial dos bancos. Segundo Lopes, o fluxo financeiro negativo reflete, ainda, a taxa de rolagem menor dos empréstimos de médio e longo prazos, que caiu para 83% em setembro. Ele explicou que, em momentos de volatilidade, as empresas preferem pagar os seus empréstimos em vez de rolar esses compromissos, já que os juros ficam mais elevados. Além dos capitais de curtíssimo prazo, os investimentos em ações e papéis de mais longo prazo também registraram uma retração com as turbulências no mercado global. As aplicações na bolsa brasileira, por exemplo, recuaram US$ 81 milhões em agosto depois acumular entrada de US$ 12,5 bilhões em sete meses. Os títulos de renda fixa mantiveram a atração de capitais. No lado das transações correntes, as contas externas fecharam o mês de agosto com superávit de US$ 1,35 bilhão, revertendo o déficit apresentado em julho, de US$ 717 milhões. Ou seja, os ganhos da balança comercial (exportações menos importações) superaram as perdas decorrentes do pagamento do serviço da dívida e da remessa de lucros e dividendos ao exterior por parte das multinacionais. De janeiro a agosto, o superávit em conta corrente é de US$ 5 bilhões, 0,72% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 12 meses, o superávit em transações correntes acumula, até agosto, US$ 10,6 bilhões, menor do que os US$ 11,5 bilhões registrados em julho.

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